“O Poderoso Chefão – Desfecho: A Morte de Michael Corleone” é o corte do diretor de “O Poderoso Chefão: Parte 3”. O longa conta a história dos últimos anos de vida de Michael Corleone e o seu império.
O verdadeiro corte de diretor
Diferente do popular “Snyder Cut”, “O Poderoso Chefão – Desfecho: A Morte de Michael Corleone” é o verdadeiro corte do diretor. Isso porque Francis Ford Coppola recebeu luz verde da Paramount para apenas remontar o seu filme de 1990 da forma que ele desejava na época, enquanto o “Snyder Cut” e outros projetos de “director’s cut” atuais são, na verdade, outra versão dos filmes lançados no cinema, já que várias regravações e alterações são feitas com o único objetivo de agradar aos fãs, baseado nos pedidos destes.
No caso da nova versão de “O Poderoso Chefão 3”, assim como Coppola já havia feito com “Apocalypse Now”, William Friedkin com “O Exorcista”, Ridley Scott com “Blade Runner”, entre muitos outros cortes de diretor ao longo da história do cinema, o processo é feito apenas com imagens das gravações originais, sejam elas excluídas ou inseridas na obra que foi aos cinemas. Ou seja, é apenas uma versão em que os diretores têm a liberdade de finalmente deixarem o filme como sempre pensaram ou fazerem mudanças posteriores ao perceber que suas obras poderiam ser melhores se montadas de outra forma. Nade de regravações aqui.
E, nesse sentido, “O Poderoso Chefão – Desfecho: A Morte de Michael Corleone” se mostra como uma versão bastante interessante em relação ao original. O projeto foi concebido, como o cineasta explica em um vídeo passado antes do início do longa, com a ideia de ser um epílogo para os eventos dos dois primeiros filmes, o que faz sentido até pela distância de quase 20 anos entre a Parte 2 e a Parte 3. Coppola e Mario Puzo (escritor dos livros adaptados e roteirista deste longa) já pensavam a obra dessa forma, mas infelizmente não foram totalmente compreendidos em 1990 (digo isso como alguém que ama a Parte 3 e a considera extremamente injustiçada).
Então, sem dar spoilers, é claro, esse epílogo (ou “Coda”, como aparece no título em inglês) faz pouquíssimas alterações em relação à obra original. Algumas mudanças de plano, uma ou outra cena cortada ou montada diferente dentro da estrutura do filme, além de um começo e final distintos (confesso que esperava um desfecho com mais mudanças). A verdade é que essa versão parece muito mais uma visão pessoal do diretor do que um filme capaz de mudar a percepção dos fãs sobre a obra. É bem verdade que os 15 minutos a menos tornam o ritmo do filme um pouco mais agradável, mas, por outro lado, algumas cenas iniciadas ou interrompidas antes da hora causam uma pequena estranheza. Como fã do longa original, gostei muito dessa nova velha experiência e vejo as duas obras com qualidade semelhante.
Filme sob uma ótica atual
Porém, o que mais me fascinou ao ver/rever “O Poderoso Chefão 3” foi perceber o quanto a obra parece ainda mais atual hoje do que na época em que a primeira versão foi lançada. O longa nada mais é do que um olhar ao passado e como este influencia o presente (por isso, faz muito sentido perceber o filme como um epílogo), além de trazer uma discussão geracional dos novos substituindo os mais velhos em posições de poder.
Dessa forma, arrependido pelas ações que tomou durante sua vida, que o afastou de sua família e de uma vida sem remorsos, Michael Corleone se vê sozinho em seus últimos dias de vida. Essa é sua punição, nada pode atormentá-lo mais do que a solidão e sua própria consciência. Apesar de protagonistas com construções distintas, hoje é possível dizer que o longa conversa muito com o recém-lançado “O Irlandês”, que pode ser visto também como um epílogo dos filmes de máfia de Martin Scorsese. Ambos apresentam a máfia sob uma visão muito mais pessimista e autodestrutiva de um personagem que paga com a solidão os pecados vividos no universo de gângster.
Além disso, “O Poderoso Chefão – Desfecho: A Morte de Michael Corleone” acaba se inserindo em um momento em que o ciclo de ódio e violência parece crescente em nossa sociedade. Assim como Michael, olhamos para trás e tentamos descobrir desde quando vem o nosso ciclo siciliano de ódio e rivalidade. Quando começamos a nos odiar e nos separar em “famiglias”? Será que isso vai durar para sempre?
Nada revela mais a potência de um filme do que a sua capacidade de se manter atual ao longo dos anos, além de conseguir entregar novas percepções com as mudanças sociais. Por isso, essa é a melhor trilogia que o cinema já fez e jamais será superada.
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The Godfather Coda: The Death of Michael Corleone
Data de lançamento: 03 de dezembro de 2020
Direção: Francis Ford Coppola
Elenco: Al Pacino, Diane Keaton, Sofia Coppola, Eli Wallach, Andy García
Gêneros: Máfia, Drama
Nacionalidade: EUA