“Mulher-Maravilha 1984” traz Diana vivendo em Washington quase 70 anos após os eventos do primeiro filme. Ela tenta superar a perda de Steve Trevor, ao mesmo tempo que um artefato mágico surge para ameaçar a sociedade.
O filme está disponível nos cinemas.
Conflitos pessoais
Apesar das grandes cenas de ação, recheadas de efeitos visuais e explosões, a alma de “Mulher-Maravilha 1984” está nos conflitos pessoais de cada um dos seus três personagens centrais, sobretudo da protagonista Diana, que encontra a atuação mais segura e dramaticamente potente de Gal Gadot. Dessa forma, o filme se inicia trazendo as amazonas de volta, em uma bela sequência de ação que serve de prólogo à narrativa. Filmada com a maior clareza possível, quase sempre em planos abertos, de drone ou subjetivos e utilizando uma fotografia muito mais ensolarada, Patty Jenkins se mostra ainda mais confortável como autora do filme e dá ritmo a essas cenas de poucos diálogos, mas de forte relevância para sua personagem principal.
Depois disso, somos transportados para a década de 1980, em um universo super colorido, sobretudo por vermelho e azul (cores da heroína) para vermos a sequência do shopping que teoricamente explicaria a pergunta não respondida: como ela atuou em 1984 se não era vista desde a Primeira Guerra Mundial? Tal questão depende da boa vontade do público para fazer algum sentido, mas isso pouco importa.
É então, depois de quase 20 minutos de ação, que vamos ao que realmente importa no longa: o íntimo de seus três personagens principais. Diana não consegue se desligar do amor passado, Bárbara (Kristen Wiig) quer ser vista e Maxwell (Pedro Pascal) está cansado de fracassar. Dito dessa forma, tais personagens soam bastante genéricos, porém é aí que “Mulher-Maravilha 1984” mais me impressionou. Patty reconhece a necessidade de bons personagens para sua história funcionar e por isso gasta longos minutos para conhecermos as motivações e as diversas características do trio, inclusive da própria protagonista, que se mostra levemente mudada em relação ao primeiro, vivendo uma vida pública de aparências.
Por mais que essa escolha desacelere um pouco o filme e demore a introduzir um conflito em escala mais global, ela serve para mostrar que o longa está muito mais preocupado com pessoal. Não à toa, o arco de Diana, desde o incidente incitante até o clímax do segundo ato, envolve essa relação de desligamento para com o passado. São raros os filmes de super-herói que se preocupam tanto com essa lado mais humano e isso já faz de “Mulher-Maravilha 1984” um filme interessante por si só.
Por isso, não deixa de ser um pouco frustrante ver a cineasta perdendo a mão no terceiro ato novamente (assim como aconteceu no longa de 2017). Ao tentar escalar o conflito do pessoal para o global, as motivações dos vilões vão ficando cada vez mais genéricas e a ação passa a pedir efeitos mais pesados. Assim, na tentativa de esconder o CGI, a diretora escurece a fotografia e filma tudo em planos mais fechados, atrapalhando a imersão e a compreensão do público. Além disso, o roteiro introduz sem qualquer construção novas características para a protagonista, que surgem quase como Deus ex-máquina e provavelmente serão usados em filmes futuros.
Todavia, apesar do decepcionante último ato, “Mulher-Maravilha 1984” surge como mais um bom longa para o universo cinematográfico da DC, que tenta se reerguer após os consecutivos desastres do superestimado Zack Snyder, sem necessariamente precisar recorrer a marvetização de seu cinema.
Nota: 8.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Wonder Woman 1984
Data de lançamento: 17 de dezembro de 2020
Direção: Patty Jenkins
Elenco: Gal Gadot, Pedro Pascal, Kristen Wiig
Gêneros: Ação, Super-Herói
Nacionalidade: EUA