“Monstro” acompanha um jovem negro que é preso e julgado por ser suspeito de participar de uma assalto que resultou na morte de um dono de loja de conveniências.
A série está disponível na Netflix.
Experimental e discutível
“Monstro” é mais um filme da Netflix de 2021 (ainda que ele tenha sido exibido no Festival de Sundance em 2018) a retratar a forma como os jovens negros são tratados pela polícia e sistema penal, colocando-os como culpados antes mesmo de que qualquer prova seja apresentada. Se em “Dois Estranhos” a crítica ao racismo é questionável pela criação estética que usa o corpo e o sangue de pessoas negras, “Monstro” deve ser discutido ao levar um jovem negro a uma pressão extrema pelo sistema penitenciário. E digo “discutido”, pois não me vejo apto a julgar como o racismo deve ser representado no cinema, se pelo realismo que na maioria das vezes leva ao desconforto e violência ou de alguma forma menos agressiva que talvez não represente tão bem a nossa sociedade.
De qualquer forma, o grande acerto dessa nova obra da Netflix está em esconder o acontecido visualmente. O público é levado não só a imaginar o caso, mas principalmente colocado na posição do júri (ainda que não totalmente, já que vemos parte do passado do garoto, algo que quem julga o caso no longa não tem acesso). Assim, o filme nos pergunta: se fosse julgar esse garoto, você o absolveria ou condenaria? Tal escolha é mais uma amostra de como o cinema na maioria das vezes se beneficia pelo não dito ou não mostrado, o forte poder da sugestão.
Esteticamente, o diretor estreante Anthony Mandler escolhe filmar o tribunal sem vida, com tons de branco, preto e cinza, e com uma ausência quase que total de trilha sonora. O garoto ali perde a sua humanidade, sua felicidade e os seus sonhos. Tentam transformá-lo no monstro que dá título ao filme. É culpado antes mesmo de ser julgado.
Mas se as cenas de tribunal conseguem nos sufocar pela claustrofobia e falta de vida, Mandler decide ir no caminho oposto quando retrata a vida anterior daquele garoto em flashbacks e é justamente nesses momentos que o longa perde grande parte de sua força. Criado nos clipes musicais, o cineasta se entrega a linguagem dos clipes, empregando uma montagem menos contínua e o excesso de cores vivas, ao mesmo tempo que usa o protagonista como dispositivo de experimentalismo. Ao retratar um aspirante a cineasta testando possibilidades, Mandler parece fazer o mesmo, mostrando sua inexperiência que apesar de alguns momentos ser bem-vinda, no geral constrói um segundo filme em flashbacks que em parte tira o impacto da narrativa central.
Além disso, o diretor investe longos minutos em construir a história desse garoto, seus amigos e sua família, mas pouco agrega aos personagens secundários. Os personagens que poderiam enriquecer a narrativa viram meros figurantes, o que tira força também da jornada do protagonista.
No geral, “Monstro” se perde ao não ter uma direção tão consciente do todo, fazendo com que as boas ideias tornem o longa mais um filme importante com algum valor do que necessariamente uma obra marcante.
Nota: 6.0
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Monster
Data de lançamento: 7 de maio de 2021
Direção: Anthony Mandler
Elenco: Kelvin Harrison, John David Washington, Jeffrey Wright
Gêneros: Drama
Nacionalidade: EUA