“Um Lugar Silencioso – Parte II” dá sequência aos eventos do primeiro filme, ao acompanhar a família Abbott tentando sobreviver após a morte de Lee.
O filme chegará aos cinemas brasileiros dia 22 de julho.
Uma nova etapa do universo
“Um Lugar Silencioso – Parte II” se livra do problema da sequência desnecessária ao introduzir uma nova temática por meio de escolhas da mise en scène, mas sempre respeitando seu predecessor e entendendo aquilo que o fez um sucesso de público e crítica. Quando uma sequência só ganha vida por causa da bilheteria do primeiro filme, geralmente temos uma pretensão de ser maior do que o anterior e explicar aquilo que tinha ficado em aberto. E certamente o novo longa de John Krasinski poderia ir por esse caminho, já que o antecessor intencionalmente não explica como o mundo ficou daquele jeito e quem são as criaturas. Além disso, ao revelar os monstros e a forma de vencê-los, seria muito fácil apostar mais na ação por meio de um confronto direto entre homem e criatura. Por sorte, o diretor rejeita essas ideias tipicamente de executivo de estúdio.
Ao invés disso, “Um Lugar Silencioso – Parte II” decide escalar um degrau rumo a reconstrução do mundo criado no primeiro filme. Se lá víamos uma busca por sobrevivência, muito ressaltada pelos pais protegendo aos filhos (talvez o plano para proteger o recém-nascido seja a maior evidência disso), aqui o jogo se inverte e são os jovens irmãos que determinam as ações que desenvolvem a narrativa. Assim, Krasinski fala sobre a reconstrução de um mundo devastado por meio dos mais jovens, aqueles com mais disposição e novas ideias para mudar o planeta (algo que conversa bastante com o nosso mundo pós-pandemia).
Resta aos adultos, interpretados pelos ótimos Emily Blunt e Cillian Murphy, dar suporte aos personagens de Millicent Simmonds e Noah Jupe, os principais personagens do longa. Porém, inteligentemente, Krasinski nunca coloca a temática em evidência, em nenhum momento alguém fala sobre reconstrução ou da tentativa de viver (e não apenas sobreviver). De certa forma, o filme parece apenas seguir um fluxo natural após os eventos do longa anterior.
É por meio da escolhas de roteiro e, sobretudo, mise en scène e montagem que tal temática ganha vida sutilmente em tela. A montagem que parece inicialmente apenas alternada (dois eventos ocorrendo ao mesmo tempo em lugares diferentes sem ligação entre eles) se mostra na verdade ser uma montagem paralela (eventos em locais distintos que se conectam ou criam algum sentido). E é justamente nesse momento que o longa deixa claro sobre o que deseja falar, quando as crianças finalmente mostram que estão no controle, em uma das sequências mais empolgantes que vi nos últimos anos no cinema blockbuster hollywoodiano. É o tema finalmente ganhando vida em tela sem qualquer diálogo evidenciar o que quer ser dito.
Dessa forma, Krasinski mostra que realmente entendeu o universo que o criou, mudando o foco, mas sempre respeitando suas regras e escolhas estilísticas. O som segue sendo a principal arma para a criação de tensão, enquanto o ritmo varia entre o entendimento do espaço, com planos mais contemplativos, muitas vezes sem trilha sonora, e os perigos daquele mundo, quando o confronto entre homem e criatura ganha vida ao mesmo tempo em diferentes locais daquela mesma região. E justamente a escolha de manter a história restrita em um pequeno espaço pode permitir que “Um Lugar Silencioso” possa ampliar seu escopo em futuros filmes, criando assim uma franquia. Sem dúvidas o potencial existe, desde que Krasinski siga no comando desse universo.
Nota: 8.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: A Quiet Place Part II
Data de lançamento: 22 de Julho de 2021
Direção: John Krasinski
Elenco: Millicent Simmonds, Noah Jupe, Emily Blunt, Cillian Murphy
Gêneros: Suspense, Terror
Nacionalidade: EUA