“La Casa de Papel – Parte 5” dá sequência ao roubo da Parte 4 e mostra o grupo de assaltantes tentando terminar o seu plano.
A série está disponível na Netflix.
O absurdo como elemento de enrolação
“La Casa de Papel” nunca se apegou totalmente ao realismo, sobretudo em seus planos mirabolantes em que o Professor sempre tinha uma carta na manga e a polícia era tratada como um bando de incompetentes. Mas pelo menos a série se mantinha fiel a sua proposta de obra de assalto em que o interesse era acima de tudo o roubo em execução. Só que tudo isso é deixado de lado na Parte 5, já que essa é apenas uma escada para para a segunda parte dessa mesma temporada, que chegará em dezembro e resolverá toda a série.
Ou seja, falando um português bem claro, essa primeira parte da última temporada é uma enrolação sem fim que poderia ser resumida a um episódio caso a série tivesse bons roteiristas e, principalmente, o interesse de enxugar os excessos e tramas desnecessárias. Mas claramente essa não é a pretensão da Netflix. O que o streaming quer é apenas manter a série sendo comentada e aguardada por alguns meses. Isso é a única coisa que justificaria o lançamento dessa infame primeira parte da última temporada.
Com isso, resta a essa temporada (ou meia-temporada) encontrar formas de gastar tempo sem chegar na finalização da série. E esse enchimento de linguiça vem de três formas principais: flashbacks desnecessários (com novas subtramas), absurdos e tiroteios (sendo que esses dois em muitos momentos se misturam).
O primeiro aparece sobretudo na figura de dois personagens: Berlim e Tóquio. Um que era de longe o melhor personagem da obra e foi morto precocemente, então, agora é trazido de volta sem qualquer sentido só para criar novos arcos que lá na frente podem servir como reviravolta mirabolante e para satisfazer aos fãs que gostam dele com esse pequeno tira-gosto. A outra não revelarei muito já que os dramas e relacionamento do passado que surgem do nada servem mais como uma enunciação desnecessária do único evento importante da temporada.
Já os absurdos e tiroteios andam juntos como uma falsa noção de avanço. Porque, no fundo, todo o plano está no mesmo lugar que já estava antes desses cinco episódios. Assim, resta aos roteiristas fazerem malabarismo para criar momentos de tensão e ação que quase sempre levam nada a lugar nenhum. Um bom exemplo disso é a cena em que os assaltantes “mais inteligentes do mundo” simplesmente ignoram os reféns com armas próximas destes. A partir dessa estupidez dos personagens centrais, cria-se mais de um episódio de reféns e assaltantes trocando tiros e fazendo provocações baratas sem que ninguém acerte um tiro. Ou seja, mais de um capítulo gasto sem qualquer ação que mova a narrativa para frente.
Seria possível também citar o parto conveniente que gera uma das cenas mais patéticas da série, os soldados vendidos como implacáveis que são apenas um monte de personagens estereotipados e com poucas habilidades, os reféns que saem do banco e voltam para dentro de bom grado, as provocações bobinhas que fazem personagens experientes e habilidosos perderem o controle facilmente, entre muitos outros absurdos que geram poucas consequências.
Mas isso tudo talvez nem seja o maior problema. Por ser uma novela (todos os elementos novelescos que vão desde as atuações até o design de produção, a montagem e as voltas e repetições narrativas), é esperado que muitas reviravoltas gerem poucas consequências e sejam rapidamente esquecidas. E, sejamos sinceros, “La Casa de Papel” nunca foi uma grande série. Mas antes ela pelo menos abraçava um pouco a galhofa e tinha um foco: o plano do assalto. Agora, na ânsia de se estender além do necessário, a série cometeu o erro de se levar a sério demais, de querer criar um drama super profundo e um grande background para os personagens. Porém, os diálogos vazios, as atuações caricatas e falta de verossimilhança só fazem esses elementos mais dramáticos ficarem extremamente bregas e obrigam o espectador a levar a sério uma narrativa que tem como pilares centrais o absurdo.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: La Casa de Papel
Data de lançamento: 3 de setembro de 2021
Elenco: Alvaro Morte, Ursula Corberó, Itziar Ituño
Gêneros: Ação, Thriller
Nacionalidade: Espanha