“Pânico 5” marca o retorno de um novo ghostface, agora perseguindo Samantha, a filha de Bill Loomis, assassino do primeiro filme.
O filme está disponível nos cinemas.
Uma franquia que sabe se renovar
11 anos após o quarto filme, “Pânico 5” volta a mostrar que a franquia é capaz de manter uma mesma estrutura, mas se renovar ao entender o gênero, o cinema e a sociedade de cada época.
Em 1996, Wes Craven tornou o ghostface um dos principais assassinos mascarados do cinema. Mas se engana quem pensa que o grande mérito do filme estava nas mortes e estrutura tradicional de slasher. Muito pelo contrário, o cineasta se entregava à galhofa a fim de ironizar a saturação desse subgênero, em um longa autoconsciente e que grande parte da diversão partia justamente dos personagens conhecerem e serem fãs de franquias como “Halloween”, “Sexta-Feira 13”, entre outras.
Como é comum no gênero, não demorou muito para o sucesso do primeiro resultar em uma sequência. Só que mais uma vez Craven mostrou muita habilidade para criar tanto referências às sequências de franquias de slasher, como ao começar a criar referências internas entre os filmes da própria franquia. O mesmo aconteceu no terceiro, três anos depois, ainda que sem tanta inovação e voltou a ser muito eficiente no quarto filme, lançado apenas em 2011. Depois disso, Craven faleceu em 2015 e muitos se perguntavam se haveria alguma sequência ou reboot algum dia.
Eis então que chegamos a 2022, quando os influenciados viram influência e dão seguimento a obra que os inspiraram. Como uma carta de amor para Craven, mas sem perder a originalidade de cada obra da franquia, Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin, que já haviam mostrado talento no terrir “Casamento Sangrento”, de certa forma um filme-filhote de “Pânico”, demonstram entender justamente alguns dos maiores problemas do cinema atual.
Fandom tóxico, teorias e expectativa
Chega a ser irônico “Pânico 5” ter sido lançado menos de um mês após “Matrix Ressurections”. Isso porque, este foi massacrado por parte dos fãs, na maioria das vezes por não cumprirem uma expectativa prévia, e não necessariamente baseado na proposta do filme. O novo slasher tem esse como um dos seus temas centrais aqui, a forma como os fãs barulhentos dominaram a produção cinematográfica.
Como crianças mimadas, estes só se satisfazem se receberem exatamente aquilo que esperam. Para isso, criam teorias atrás de teorias, discutem em fóruns virtuais, como o Reddit, xingam quem não conhecem tanto quanto eles daquele universo e dão “showzinho” quando algum diretor propõe algo diferente do que eles esperavam, como são os casos recentes dos excelentes “Star Wars: Os Últimos Jedi” e “Matrix Ressurections”. Só que, ao mesmo tempo, quando esses fãs e suas teorias moldam uma produção vemos desastres, como as temporadas finais de “Game of Thrones”, que nada mais são do que a confirmação das teorias dos próprios fãs da série.
Em um cinema dominado por fãs e suas teorias (quase sempre) esdrúxulas, Gillett e Bettinelli-Olpin, assim como Lana Wachowski já havia feito em “Matrix 4”, escolhem o caminho mais difícil, e, no caso de “Pânico”, o único possível: a provocação. Não que não haja fan services ou momentos para os fãs comemorarem, mas estes fazem parte da armadilha autoconsciente do longa.
Temos então um filme que ironiza justamente as franquias que retornam não com uma continuação direta, mas também não com um reboot. Geralmente uma escolha puramente comercial, já que o reboot completo pode afastar os fãs do original, mas havendo uma necessidade de contar uma nova história, esses filmes geralmente usam os personagens conhecidos como meras pontes para passar o bastão para a nova geração.
Subvertendo expectativas
Só que, ao contrário de muitas sátiras que criam piadas, mas acabam fazendo exatamente o que ironizam, “Pânico 5” faz do filme de “revisita” um interessante jogo de dúvidas e pistas falsas. Seriam Sidney, Dewie e Gale apenas um chamariz barato para os fãs do original e responsáveis por passar esse bastão? Seriam as regras dos anteriores mantidas nesse? Como renovar uma autorreferência que já acontece há tanto tempo?
Por sorte, os diretores do longa se mostram astutos o suficientes para jogarem com tais dúvidas e deixarem o público se perguntando. Ou melhor, fazendo o público criar expectativas, mas sem qualquer pretensão de atendê-las. Então, ficamos entre o “será que vai ser igual?” e o “isso é uma pista falsa” durante todo o longa. Momentos de toda a franquia são trazidos de volta sutilmente com objetivo de gerar ainda mais dúvidas.
Assim, “Pânico 5” é ao mesmo tempo um típico filme da franquia, com a mesma estrutura, piadas e referências, mas inteligente o suficiente para provocar e se renovar, seja essa renovação explícita em diálogos, ou mais sutil como as mortes mais gráficas (que o público atual ama) e uma sequência que ironiza a previsibilidade dos jump scares. E eles ainda encontram espaço para tirar sarro da turminha que se acha mais inteligente porque só gosta de “terror intelectual”.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Scream
Data de lançamento: 13 de janeiro de 2021
Direção: Tyler Gillett, Matt Bettinelli-Olpin
Elenco: Melissa Barrera, Jack Quaid, Neve Campbell
Gêneros: Terror, sátira
Nacionalidade: EUA