“Peacemaker” segue os eventos de “Esquadrão Suicida” (2021) e acompanhamos o Pacificador sendo usado por Amanda Waller para tentar parar uma invasão alienígena silenciosa.
A série está disponível no HBO Max.
A ambiguidade da violência
James Gunn volta a satirizar a violência em nossa sociedade por meio da banalização das mortes e diversão do sangue jorrando.
Se Gunn já se divertiu com “Esquadrão Suicida” ao ter a liberdade de criar os personagens que quisesse e matá-los sem nenhuma cerimônia, criando um jogo de apostas nas redes sociais antes mesmo do filme estrear para o público adivinhar quem morreria e quem ficaria vivo, imagina o que ele não faria com o personagem mais contraditório entre todos aqueles apresentados.
O Pacificador transpira contradição e ironiza a nossa sociedade e sua relação com a violência. “A busca pela paz independente de quem precise matar para conseguir isso” é o lema do personagem, que em nenhum momento se aproxima de qualquer tipo de paz, vira um peão do sistema e só cria mais violência a cada banho de sangue.
Se isso se parece com os cidadãos “de bem” que acham que resolverão os problemas do mundo atirando em quem discorda deles ou essa obsessão da sociedade americana (e nossa por viralatismo) por armas. Ou até mesmo com o nosso desejo mais primitivo, quando nos dizemos contra a violência, mas nos deliciamos com ela em obras para maiores de 18, cheias de mortes sangrentas. Nada disso está em “Peacemaker” por acaso, basta vermos como é a arma do protagonista e como ele a usa quase como um membro sexual de seu corpo.
Só que aqui Gunn molda o seu discurso político ao seu estilo cinematográfico. Sempre pisando mais na comédia e na sátira do que no filmes de super-herói propriamente ditos, o diretor faz do exagero suas mensagens absurdas e, ao mesmo tempo, atuais.
Assim, os neonazistas não são meramente racistas organizados a fim de levar o seu discurso adiante, mas sim um cientista maluco cheio de seguidores imbecis que são visualmente comparados por planos e pela montagem com os invasores alienígenas que se apossam de corpos humanos ao adentrarem seus cérebros e controlarem suas mentes. Não tem como ficar mais claro nem mais ridículo do que isso, não é?
O simples fato do diretor se inspirar em filmes de invasões alienígenas silenciosas, como “O Enigma de Outro Mundo”, “Eles Vivem” e “Vampiros de Almas”, mas substituindo os alienígenas por borboletas de outro planeta que precisam de um monstro gigante chamado de “Vaca” para se alimentar, só torna a cereja do bolo do absurdo consciente de Gunn.
Mas isso ganha ainda mais força quando o criador da série forma do lado contrário, o que seria o “bem”, um grupo de desajustados com dois assassinos idiotas, uma traidora, um dos alienígenas e mais dois personagens completamente imperfeitos para combater as ameaças dominadoras. E, pelo incrível que pareça, ele realmente consegue unir esses personagens dramaticamente, seja por serem rejeitados em busca de semelhantes ou mesmo por um aprendizado inesperado.
A própria jornada de redenção do Pacificador, que me soava completamente absurda no início depois de tudo que o personagem fez e o que ele acredita, passa a funcionar pela interação dele com o grupo (e pela extrapolação da maldade paterna e seus traumas, o que geralmente é uma saída fácil do roteiro para humanizar vilões).
Com isso, no fim das contas, “Peacemaker” vai funcionar justamente por ser completamente desajustada em todos os sentidos, assim como o grupo principal que aprendemos a amar sem nenhum esforço.
Nota:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Peacemaker
Data de lançamento: 17 de fevereiro de 2021
Elenco: John Cena, Jennifer Holland, Freddie Stroma
Gêneros: Ação, Sátira
Nacionalidade: EUA