Eu sempre fui ansiosa. Desde que me lembro, do primeiro momento de pura consciência sobre algo eu consigo lembrar perfeitamente o sentimento de inquietação por incertezas.
Pra mim ansiedade é isso. É não ter certeza de nada, e portanto, zero controle sobre situações ou pessoas. Como se eu tivesse sido capaz alguma vez de mantê-las em ordem. Minha vida é um caos.
A esse ponto é meio óbvio que eu deveria saber que não tenho controle sobre nada, que nunca tive. Eu sei disso, sempre soube, mas isso nunca me impediu de acreditar que eu podia fazer algo que pudesse mudar a ordem das coisas. Flash news: It’s impossible.
Simplesmente não dá. E a sensação permanece.
Ela começa com o tempo. Pra mim funciona assim: são 14h00, eu olho o relógio, dou aquela lida nos posts do Facebook, uma passada no Instagram, penso durante meia hora sobre todas as minhas nóias e de como as pessoas não estão nem aí pra nada, nem pra ninguém, só querem saber de likes e redes sociais. Decido sair do celular. O coloco de lado. Fumo um cigarro, volto a pensar em todas essas coisas. E lá pelo meio do cigarro eu decido olhar no relógio, torcendo para que tenha passado ao menos uma hora desde a última vez que abri. Quando olho, em números garrafais na tela do celular: 14h25.
Meu mundo desaba.
O coração acelera.
A respiração fica pesada.
Os olhos secos.
As mãos suadas.
A garganta engasgada.
Uma leve sensação de tontura.
Eu nem terminei o cigarro. E como se o gosto não fosse ruim por si só, agora, com cada trago vem também um sabor de derrota. Amargo, terrível pras papilas gustativas, conectadas diretamente ao seu cérebro. Tudo ligado e ao mesmo tempo desconectado. Um sentimento de indiferença, mas não sua para com o mundo. É dele por você.
E a ansiedade fode muito mesmo. Porque enquanto para todo mundo eu possa parecer uma mulher segura, certa e confiante, têm dias que simplesmente não dá. Pra se encarar, pra encarar o mundo. Não dá vontade de sair de casa, da cama, naquela posição ridícula de quem só queria voltar pra barriga da mãe.
A ansiedade faz a gente surtar por pequenas coisas e sentir tudo muito extremo demais. Tudo é muito “magoante”, tudo é muito insultante, tudo é muito pessoal. É tudo com você. É você contra o mundo. E ninguém pode ser confiado.
Confiança é outra coisa que a ansiedade fode. Porque ela faz com que você desconfie até dos mais confiáveis. Parece que eles querem ver sua fraqueza para usá-la contra você. E como confiar? Como ter certeza que não vão usar tudo contra você?
Mas daí chega um momento que você sabe que é tudo paranóia. Você sabe que se alguém não te respondeu, mas ficou online não é um motivo pessoal. Porque você também faz isso às vezes.
E não é achar que o mundo gira em torno de você e que as pessoas querem te “derrubar” porque você é incrível, porque nem você acha isso de você mesma. Você se acha menos do que tudo e todos e inclusive se põe pra baixo constantemente. Quando alguém te elogia por sua inteligência ou sagacidade, você pensa: poxa, eu podia ter sido mais. Eu deveria ter sido mais. Então você acha que essas pessoas querem te jogar pra baixo só porque você merece. Ou porque elas não estão também completamente felizes com a vida delas. A real é que a gente nunca sabe.
Tanto não sabe que você sabe que eles não sabem como você se sente – ficou um pouco confuso, eu sei.
A gente sente demais. Sente no limite. No extremo. Sente forte e aí se sente muito fraco.
Ser ansiosa é uma verdadeira bosta. Na maior parte do tempo a gente não sabe como se sentir, parece um grande vazio dentro de um buraco maior ainda. As pessoas não entendem como coisas simples podem nos atingir tanto e como que tudo parece um episódio de uma novela mexicana barata.
E o trabalho é árduo. Você pode tomar remédios, fazer terapia, praticar yoga, o que for, mas precisa acima de tudo trabalhar diariamente com você mesmo e em como você se sente não só em relação a vocês, mas aos outros.
Pare de se comparar, pare de se sentir menos. Pare de se importar tanto com os outros e se importe mais com você. Cuide mais de si. Faça coisas que você ama.
É difícil e muito do que a gente precisa é da compreensão de quem está por perto. Porque acreditem, a gente não quer perder vocês, mas até nisso a ansiedade afeta. Fazer com que queiramos nos afastar das pessoas com o objetivo de não sofrer caso algo pior aconteça.
Perdoa nossa tremedeira, e não desiste da gente.