“Na Vastidão da Noite” se passa em uma noite da década 1950 em uma cidade do interior e acompanha dois jovens, uma telefonista e um radialista, tentando desvendar acontecimentos estranhos.
Baixo orçamento, alta qualidade
Depois de ser rejeitado por diversos festivais, “Na Vastidão da Noite” foi lembrado com uma indicação na categoria de Melhor Primeiro Roteiro do Independent Spirit Awards, premiação mais importante do cinema independente, o que foi suficiente para dar visibilidade ao longa. Em seguida, seus direitos foram comprados pela Amazon e o filme teve espaço como um produto original no Prime Video.
Por isso, não estranhe o fato do filme demonstrar um orçamento bem mais modesto, o que em nenhum momento sugere falta de qualidade, muito pelo contrário. Em sua estreia na direção, Andrew Patterson demonstra um talento impressionante ao aproveitar a falta de dinheiro da produção para encontrar na simplicidade a essência de seu filme.
Como fazer um filme de ficção científica com menos de 1 milhão de dólares?
Essa está longe de ser uma questão fácil de se solucionar, principalmente em se tratando de um gênero que normalmente requer um uso elevado de computação gráfica (um dos elementos mais caros de uma produção cinematográfica). Porém, o cineasta resolve esse problema ao apostar no humano e na sugestão.
Diálogo e iluminação
Ao contrário da grandiosidade de produções que também abordam a possibilidade de vidas extraterrestres, como “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” ou “Contato” (só para citar dois dos melhores), “Na Vastidão da Noite” constrói toda sua narrativa por meio de diálogos. São essas conversas com pessoas misteriosas que fazem crescer o suspense, sempre com o desconhecido pairando no ar. A todo instante os protagonistas pensam “Isso é mentira, mas…”
Esse “mas” é o combustível da história. O inexplicável vai aumentando gradativamente, situações que pareciam impossíveis começam a se concretizar e a fantasia passa a ser uma opção para realidade. Entretanto, o longa acerta muito a se manter quase que por toda rodagem na base da sugestão. O que se torna ainda mais efetivo graças à expectativa do público. Será esse mais um filme de E.T. ou não passa de uma lenda urbana de pessoas acreditando em coisas absurdas? O expectador se pergunta a todo instante.
Dessa forma, Patterson, ao lado do diretor de fotografia, sugere o perigo e o desconhecido por meio da escuridão. Passeando com longos planos-sequência por toda a cidade, vamos da claridade da partida de basquete (pessoas seguras de acordo com uma das personagens) até a iluminação quase inexistente do restante daquela cidade de interior.
Enquanto quase toda a cidade está concentrada na partida, vemos os protagonistas tentando desvendar essas ligações misteriosas em meio à escuridão, o que nos faz temer pela vida deles a todo instante, resultado também de uma boa química entre os atores que torna a relação entre eles crível. Vale destacar também a credibilidade passada pelos focos de luz, sempre vindo de um abajur ou um poste de luz, enquanto o restante da tela vai sendo tomado pela escuridão crescente.
Então, o que podia ser um filme cansativo, devido à presença massiva de diálogos, se torna uma experiência muito imersiva, já que o ritmo do filme não nos deixa piscar, ao mesmo tempo que os diálogos rápidos mantém o público atento para não perder nada. E o mistério nunca se torna fácil de ser resolvido.
“Na Vastidão da Noite” é sem dúvida uma das grandes surpresas de um 2020 com poucos filmes. Ao terminar o longa eu só conseguia pensar: “que vontade assistir a um episódio de Twilight Zone”. Mas não é por acaso, visto que o filme se inicia adentrando uma televisão para contar uma ficção científica em uma cidade de interior na década de 1950. A homenagem não podia ser mais clara.
Nota: 8.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Vast of Night (Na Vastidão da Noite)
Data de lançamento: 15 de maio de 2020 (1h 25min)
Direção: Andrew Patterson
Elenco: Sierra McCormick, Jake Horowitz mais
Gêneros: Ficção científica, Suspense
Nacionalidade: EUA