Há poucos dias, a Disney fez um anúncio que chocou toda a indústria cinematográfica: o remake de “Mulan” será lançado direto no Disney+, no dia 4 de setembro, e não mais nos cinemas como era previsto. O filme é uma das grandes produções do estúdio no ano e estava programado para ser exibido na última semana de março. Entretanto, o crescimento dos casos de Covid-19 no mundo fez com os cinemas fechassem e o longa fosse adiado. Depois disso, a obra ainda foi remarcada várias vezes, já que todas as previsões de reabertura dos cinemas foram frustradas, até que a empresa finalmente desistiu de esperar e decidiu colocá-lo em seu streaming.

Porém adicionar um filme desse orçamento no Disney+ seria loucura, pois o dinheiro de bilheteria (a estimativa era superior a U$ 1 bilhão) jamais seria atingido apenas com novas assinaturas na plataforma. Dessa forma, a Disney teve uma sacada que pode dar muito certo: colocar o filme para aluguel dentro de seu próprio streaming pelo valor de U$ 29,00 (apenas no EUA).

Apesar do preço ser superior à média do aluguel e dos ingressos de cinema, a Disney aposta na possibilidade de atingir o público com um grande lançamento popular e com viés familiar. Então, se o valor do aluguel é caro para uma pessoa, ele passa a ser acessível para famílias com filhos ou de mais de dois integrantes.

Assim, a corporação pode lucrar ao explorar a falta de estreias no cinema e o medo do público de frequentar o local (os cinemas serão reabertos no dia 4 de setembro nos EUA) por causa do coronavírus, e entregar uma produção esperada para o público assistir de casa. Além disso, todo o valor pago pelo aluguel irá direto para a Disney, por ser uma plataforma própria. O mesmo não ocorre com filmes colocados em outras plataformas de aluguel, como o Google+, em que 20% fica para estas e 80% para o estúdio ou a distribuidora.

Todavia é bom deixar claro que toda essa reviravolta da Disney é uma aposta e toda a minha análise é apenas uma previsão que pode ou não se confirmar, já que esse é um fenômeno jamais visto antes na indústria cinematográfica.

mulan

Como “Mulan” vai estrar nos outros países?

Como eu disse acima, “Mulan” estreará no Disney+ apenas nos EUA. Isso não vale para os demais países porque cada um tem uma regra própria de distribuição, além de a esmagadora maioria ainda não ter o Disney+ disponível. Dessa forma, é bem possível que o filme chegue nos cinemas fora dos Estados Unidos, mesmo que a bilheteria não seja tão grande por causa do coronavírus e da pirataria digital, visto que já vai ter estreado.

Ainda assim, a estreia nos EUA é sempre o que mais importa para uma obra hollywodiana. É em solo americano que o longa deve pagar seus custos e tende a representar mais de metade da bilheteria mundial. É quase como se o resto do mundo fosse apenas um plus de lucro (exceção feita a China que tem representado uma boa parcela da bilheteria dos filmes hollywodianos).

Além disso, vale um destaque para a China. Por se tratar de um filme que retrata uma história no país, a população local aguarda bastante pelo longa, então uma estreia tardia por lá faria muito sentido para a Disney, até porque o regime rígido chinês diminui muito o efeito da pirataria e já vimos vários lançamentos hollywodianos com meses de distância arrecadarem bastante no país.

E a indústria?

A maior questão segue sendo como a indústria e as redes de cinema e exibidores vão reagir a isso, já que eles aguardavam uma estreia tradicional e mundial para atrair público para “Mulan”. Se essa prática da Disney for bem sucedida, ela pode abrir uma brecha muito grande para que outros estúdios passem a adotar o mesmo modelo, o que cairia como uma bomba no colo dos exibidores.

Hoje, a regra é que um filme só pode ser lançado para aluguel ou streaming três meses depois de estrear nos cinemas. Justamente por isso a Netflix não consegue encontrar redes que exibam as suas obras, já que ela não quer esperar todo esse período para colocá-lo em seu catálogo posteriormente.

Será que o efeito do coronavírus mudará a indústria cinematográfica e a distribuição de filmes para sempre? Essa é a pergunta de um milhão de dólares.

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