Depois de muita espera, o Brasil selecionou o seu candidato a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2021. Trata-se do documentário “Babenco: Alguém Tem Que Ouvir O Coração e Dizer: Parou”, de Bárbara Paz, sobre o diretor argentino e naturalizado brasileiro Héctor Babenco, com quem a atriz e diretor foi casada até o falecimento deste.
Apesar de premiado no Festival de Veneza do ano passado, “Babenco” acabou por ser uma surpresa. Já que “Casa de Antiguidades” parecia o nome mais certo para a vaga, pois era o único da lista a ter feito parte do Festival de Cannes 2020, enquanto “Marighella” corria por fora, por causa de sua temática e relevância histórica.
Mas será que “Babenco” foi uma boa escolha? É isso que eu pretendo analisar nesse texto.
Veja o trailer do documentário:
Formato de seleção
Antes de analisar a escolha em si, é bom entender como funcionou o método de seleção brasileiro este ano. Pela primeira vez, o governo federal não participou da escolha, o que é ótimo, já que diminui a possibilidade de escolhas políticas, como aconteceu no ano em que o favorito “Aquarius” foi ignorado. Dessa forma, um comitê formado por sete profissionais da área, sobretudo diretores e diretoras, ficou a cargo de fazer a seleção. Depois de um longo tempo para inscrição, o comitê selecionou 19 filmes para uma pré-lista. Após cinco dias de debate sobre eles, a escolha final foi feita.
Apesar de ser um comitê bem intencionado e com pessoas que conhecem cinema, houve um grave problema de timing para essa seleção. Isso porque nenhum dos filmes da lista têm distribuição nos EUA, o que é fundamental para uma campanha no Oscar e muitas vezes leva tempo para tal parceria ser concretizada. Então, independente de qual fosse a escolha, o filme selecionado sairia atrás em relação aos de outros países.
É essencial que para os próximos anos o tempo de inscrição seja reduzido, assim como o número de filmes na pré-lista, para que o escolhido tenha mais tempo para encontrar distribuição nos EUA.
“Babenco” tem chances no Oscar?
A escolha brasileira acaba por ser bastante ousada, mas acertada. É claro que é sempre complicado posicionar um documentário na categoria de Filme Internacional. A categoria é historicamente dominada por longas de ficção. Entretanto, não é impossível a indicação, visto que o mesmo comitê da Academia selecionou o documentário “Honeyland” ano passado para a lista final. Talvez a grande diferença seja que este já tinha toda uma estrutura de campanha e divulgação montada nos EUA. Agora é torcer para que “Babenco” também consiga uma parceria parecida.
Mas, mais do que avaliar as chances de um documentário, a análise deve partir da comparação com os demais filmes na pré-lista brasileira. E, para mim, fica claro que “Babenco” é, sem dúvidas, um dos nomes mais fortes entre os 19 filmes. Se olharmos para os dois que pareciam favoritos na briga, “Casa de Antiguidades” dificilmente teria chance por ser muito regional e dependente de simbolismos, algo raramente aceito pela tradicionalista Academia, e “Marighella” é muito político e divisivo, o que o Oscar costuma evitar. Já as demais produções não tiveram tanto sucesso em grandes festivais, o que é quase um pré-requisito.
Dessa forma, por ser um filme premiado em Veneza e fazer uma homenagem a um grande nome do cinema e reconhecido internacionalmente (Héctor Babenco foi indicado até a Melhor Filme, em 1986, com “O Beijo da Mulher-Aranha”), “Babenco” acaba sendo um bom nome para brigar pela vaga. Agora só falta conseguir distribuição e ter uma boa campanha.
Veja a minha análise em vídeo sobre a seleção brasileira: