As Andorinhas: banda precursora do rock de Porto Alegre formada só por mulheres
Há quem acredite que os “anos dourados” do rock ficaram em algum momento lá no passado. O rock de Brasília, por exemplo, um dos grandes responsáveis pelo legado deixado pelo gênero quando voltamos nossos olhos para trás, é uma das esperanças que os fãs têm hoje em dia de ver seu estilo musical favorito figurar novamente nas principais paradas, tendo o destaque na mídia de outrora. Em resumo, aquilo que dá lucro nos dias atuais é, a saber, o que está na boca do povo e, consequentemente, aquilo está sendo mais consumido, não aquilo que é técnica e musicalmente bom, por exemplo.
A verdade é que muitos que apreciam o estilo musical conhecido por suas guitarras pesadas e distorcidas, por sua intesidade nos tambores e também por suas letras melancólicas acreditam: o rock nunca morrerá! E, apesar de muitas vezes circular por aí que “o rock está morto”, tal qual certa vez também polemizou Friedrich Nietzsche, quando afirmou, pela primeira vez no livro “A Gaia Ciência”, que “Deus está morto”, parece mesmo que o contexto aqui é muito mais amplo do que a frase em si parece alcançar e não se trata, portanto, de algo que se permite parecer ser.
Divagações à parte, hoje comemora-se o Dia Mundial do Rock e nada mais justo do que vir aqui e render algum tipo de homenagem a esta data tão importante para os apreciadores do estilo principiado, inclusive, por uma mulher, a saber, Sister Rosetta Tharpe, que, um antes mesmo dos anos 40, já havia unido o gospel ao blues e originado o que hoje conhecemos como rock. Neste artigo, pedimos licença para que a nossa homenagem seja, contudo, um pouco mais patriota: queremos falar da banda precursora do rock de Porto Alegre, a banda As Andorinhas.
Apesar de não virmos aqui destacar nenhuma banda contemporânea, sabemos que o legado histórico é importante para qualquer segmento, inclusive o da música. Nesse sentido, embora seja possível encontrar novas propostas musicais com a originalidade do gênero e também novos traços e influências, sabemos que o que fez sucesso e que esteve na ponta da língua do grande público há algum tempo é, ainda, o que temos de mais forte na representatividade desse gênero musical que pulsa rebeldia e subversão.
Caminhando lenta e novamente para o lugar em que merece estar, a esperança é que o rock volte a ser em um futuro breve o que já fora um dia e influencia o mundo através de seu poder arrebatador. Enquanto isso não acontece, resta-nos, afinal, acompanhar o surgimento das novidades, mas, principalmente, olhar de forma nostálgica para os tempos idos.
E foi justamente uma dessas grandes bandas a maior responsável por influenciar o surgimento de um quarteto feminino na capital gaúcha nos anos 1960 que ganhou destaque pela representatividade feminina de uma composição formada apenas por integrantes mulheres. Fãs dos Beatles, as quatros garotas gaúchas deram origem As Andorinhas, revelação do rock feminino de Porto Alegre. Vamos entender como isso aconteceu!
As Andorinhas, banda precursora do rock de Porto Alegre
As adolescentes do bairro Menino Deus, na cidade de Porto Alegre, resolveram criar uma banda de rock. Por si só, talvez o fato não chamasse tanta a atenção, mas o fato de o grupo ter sido o pioneiro na época composto só por mulheres desperta a nossa curiosidade. O peso da influência do quarteto de Liverpool foi determinante para que o quarteto de Porto Alegre ganhasse forma e saísse do aspecto do planejamento, dando forma ao que ficou conhecido por “As Andorinhas”. Yoli, que ainda fez parte de bandas como As Brasas e Pentagrama, além de seguir carreira de cantora, comentou sobre…
“Ensaiávamos pra caramba! Dividíamos o sonho de fazer músicas como as dos Beatles e viver a vida de artistas. Queríamos ser muito boas”.
Era na Rua Silveiro que aconteciam os ensaios do quarteto. Em geral, as reuniões aconteciam ou na casa de Rose ou na garagem de Nubia e sua duração chegava a se estender das 14h às 22h. Em média, elas se encontravam três vezes por semana e o ambiente era marcado pelo bom relacionamento entre as integrantes.
“Discutíamos sobre música, sobre acordes. Tirávamos as canções de ouvido, escutando na vitrola. Fazíamos revezamento, cada uma ouvia individualmente a música no aparelho para tentar aprender a sua parte”
As apresentações, que duravam em média 1h e eram basicamente pautadas em covers, principalmente dos Beatles, se davam em eventos na escola onde estudavam, em bailes e em um evento no antigo Estádio dos Eucaliptos. A banda esteve ainda em programas na TV Piratini e na Rádio Difusora.
“Vestíamos calça preta, camisa branca, coletinho vermelho e uma botinha preta. Uma gravatinha twist na camisa. Não era ainda muito comum na época as mulheres usarem calça comprida. Não iam assim para todo lugar”.
Primeira formação do grupo
- Vera Maria Célia (baixo)
- Yoli Planagumá (bateria e voz)
- Rose Marie Porto Alegre Pereira (guitarra solo)
- Nubia Maria Abreu Friedrich (guitarra base)
Segunda formação do grupo
- Loreta Rodrigues (bateria e voz)
- Glaucia (baixo)
- Rose Marie Porto Alegre Pereira (guitarra solo)
- Nubia Maria Abreu Friedrich (guitarra base)
Representatividade feminina no rocknroll
Apesar de o legado da banda não ter sido tão grande assim, principalmente pelo fato de não ter produzido músicas autorais e nenhum registro sequer ter sido feito das performances do grupo, As Andorinhas marcaram a história do rock nacional com a importância e a representatividade da sua iniciativa.
Todos sabemos que, de uns tempos pra cá, as mulheres passaram a encontrar uma certa resistência dentro da música, mas o mais curioso no caso do grupo de Porto Alegre é que a banda não tivera situações constrangedoras somente pelo fato de serem mulheres em uma banda de rock. Essa é uma garantia de Nubia e Yoli, duas das componentes da primeira formação da banda.
Ao contrário disso, o grupo era visto como sinônimo de algo positivo e exótico, muito embora estivéssemos apenas nos anos 1960. Sendo assim, o destaque da banda se deu principalmente por ser a primeira cuja formação era integralmente feira por mulheres não só em Porto Alegre, mas também no Rio Grande do Sul e, se duvidar, no Brasil inteiro.
“Me sentia importante por fazer parte de uma banda feminina, principalmente porque era inovador para uma mulher tocar guitarra naquela época. Uma recordação muito boa. Uma adolescência mais pura. A música é uma coisa que te dá muitas recordações. A música em si… é vida”
Sendo assim, se olharmos de forma mais crítica para a nossa sociedade, podemos almejar uma convivência mais igualitária, em que o machismo não seja a mola propulsora das relações. Houve um tempo em que as mulheres não eram julgadas como passaram a ser ao longo do tempo apenas por quererem ser felizes tocando em uma banda de rock e tendo o mesmo direito dos homens. E é isto o que desejamos hoje em dia: liberdade para se produzir música sem qualquer distinção.
Fica aqui, portanto, a nossa homenagem à banda As Andorinhas e desejamos que muitas outras bandas de rock feminino possam se espelhar nessas mulheres incríveis que mostram que o rock n roll também é coisa de mulher.
Veja também: