João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, é mais um vítima do racismo. Apesar da descontração do título, estamos aqui para falar sério, afinal, você deve ter visto aí na mídia informações a respeito de mais um crime contra um homem negro e tendo mais uma vez como expoente uma loja do Supermercado Carrefour. O ocorrido da vez foi no bairro Passo D’Areia, na zona norte de Porto Alegre.
A pergunta que sempre trava a garganta é: ATÉ QUANDO?
Há um bom tempo que nos fazemos a pergunta acima e o único sentimento possível que emerge é o de impotência. Não só pelo fato de estarmos passando por um momento histórico bastante complicado em nosso país, em que a ideologia separatista e o preconceito têm se mostrado de forma muito evidente, mas, sobretudo, por saber que o caso do João Alberto não é o primeiro nem vai ser o último.
E parece até ironia dizer que mais um homem negro foi morto no Brasil e logo na véspera do dia que marca a Consciência Negra no país. Na verdade, não existe nada de ironia aqui, pois este é um fato nada incomum no país que tem como uma de suas heranças culturais o racismo. E por mais que os anos se passem, o sentimento é que isso é cada vez mais banalizado e que nada é feito de forma incisiva por parte da justiça, seja veiculando mais fortemente as políticas e propagandas anti-racistas, seja imprimindo leis mais rigorosas nesses e em outros casos para que episódios racistas não sejam algo comum na sociedade.
Ocorrido na noite desta quinta-feira (19), o crime choca a muitos, como era de se esperar. Os dois homens, identificados como Magno Braz Borges e Giovane Gaspar da Silva, foram detidos e presos em flagrante por homicídio qualificado. No entanto, é claro que isso não é suficiente.
Um deles é policial militar e foi levado para um presídio militar. O outro é segurança da loja e está em um prédio da Polícia Civil. A investigação trata o crime como homicídio qualificado.
Funcionária, segurança, PM e Freitas: a discussão que terminou em homicídio
Vamos ao caso…
A Brigada Militar (Polícia Militar no Rio Grande do Sul) afirmou que a confusão teria começado no caixa do supermercado. Segundo a funcionária do Carrefour, João Alberto fazia compras com a esposa e, em dado momento, teria ameaçado agredi-la. Um gesto que ela interpretou como uma tentativa de agressão foi o motivo para que a segurança do local fosse acionada.
“A esposa [da vítima] referiu que eles estavam no mercado fazendo compras, que o marido fez um gesto, que ela não soube especificar, para a fiscal. E ele teria sido conduzido para fora do mercado”, destaca a delegada Roberta Bertoldo.
A vítima passou a brigar e, após ser forçada a deixar o local, apresentou resistência ao segurança e ao policial. De acordo com testemunhas presentes no supermercado, Freitas foi seguido, levado para fora do estabelecimento e agredido na saída.
“Quando cheguei, ele já estava imobilizado”, diz mulher da vítima.
Em vídeos divulgados, é possível ver dois homens brancos imobilizando João Freitas. Um dos rapazes, inclusive, desfere socos na cabeça da vítima. Outro vídeo mostra o corpo do rapaz no chão, ensanguentado, mas ainda com vida. É possível observar uma funcionária tentando evitar a gravação e afirmando que Freitas havia batido em uma fiscal.
Violência desmedida e abordagem despreparada
Mesmo que o caso ainda esteja sendo apurado, é importante destacar aqui três aspectos cruciais: a abordagem dos policiais, a cor da pele da vítima e o histórico do Supermercado Carrefour.
Não temos aqui a intenção de sair em defesa da vítima sem levar em conta as devidas ponderações. Independentemente do que tenha acontecido, é urgente destacar o acontecimento como um comportamento social recorrente em nosso país, especialmente no trato de policiais com homens negros dentro de estabelecimentos privados, onde a agressão fala a língua de toda e qualquer circunstâncias.
Sendo assim, eu te pergunto: Qual a função da polícia na sociedade? Trabalhar em nosso favor e nos defender? Causar medo e intimidação? A resposta que temos é uma, a que gostaríamos de dar, é outra completamente diferente.
Mesmo no caso do João Alberto, em que há suspeita de que ele tenha provocado a discussão ou mesmo ter agredido a funcionário verbal ou gestualmente, o procedimento da polícia deveria ser limpo e de acordo com o que determina a Lei. Mas o que temos, mais uma vez, é um total despreparo policial seguido de uma atitude criminosa que resultou em morte.
Ou seja, independemente de qualquer coisa, a ação da vítima não justificaria o fato de ele ter sido escorraçado do local, e muito menos e mais grave ainda, de ser assassinado.
Agora, eu te pergunto: e se João fosse branco? O tratamento seria o mesmo?
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O histórico negativo do Carrefour
Extermínio de gatos, agressão de cachorros, homem negro espancado e acusado de roubar o próprio carro, funcionário que morreu durante expediente… Estes são alguns dos casos recentes do Carrefour que indignaram a população nos últimos tempos. Confira abaixo!
Vamos aos momentos em que o @carrefourbrasil pareceu se importar pouco com a vida. Teve essa vez em que eles mataram vários gatos com veneno https://t.co/MPmnLv9EkM
— Gabi Bianco (@gabibianco) November 20, 2020
O Carrefour se retratou, mas só isso não basta!
— Carrefour Brasil (@carrefourbrasil) November 20, 2020
É claro que uma retratação pública é obrigação da empresa palco de um episódio-massacre como esse. No entanto, isso não é nem mais o mínimo, afinal, é completamente insignificante partindo de uma empresa na qual isso já se tornou comum. Diante da recorrência de casos absurdos dentro das unidades do Supermercado, o que dá a entender é que sempre haverá um discurso pronto para ser veiculado assim que uma coisa grave acontecer.
Após o caso vir à tona, o Carrefour decidiu romper o contrato com a empresa de segurança e fechará a loja. Em nota, o mercado afirmou que “adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso”.
“O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário”, disse a empresa em nota.
Mas o que queremos saber é: QUANDO É QUE ISSO IRÁ PARAR DE ACONTECER, CARREFOUR? Exigimos que a rede de supermercado com o tratamento mais desumanizado do país tome uma atitude de uma vez por todas para que esses absurdos parem de acontecer nos estabelecimentos da empresa. Aproveite para CLICAR AQUI e deixar a sua indignação na publicação feita pela empresa no Instagram.
Registramos aqui o nosso repúdio ao caso João Alberto Silveira Freitas e tantos outros que revelam a desumanização da realidade da população preta no Brasil e a ineficiência do Governo em desenvolver políticas públicas para a erradicação desses casos. E mais uma vez, o Presidente da República Jair Bolsonaro permanece calado como se nada tivesse acontecido, compactuando com mais um absurdo social. Não é fácil ser brasileiro!
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