“A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” conta a história de uma família disfuncional que deve salvar a humanidade do controle de robôs, liderados por uma inteligência artificial.
O filme está no catálogo da Netflix.
Um lugar comum diferente
Desde o 3D da Pixar até os musicais da Disney, passando pelo 2D dos Studios Ghibli e o Stop-Motion da Laika, as grandes produtoras de animação do mundo estabeleceram uma visão muito própria sobre seus universos e se estabeleceram ao longo dos anos. De certa forma, apesar de entregarem quase sempre boas obras, era inevitável que tais estúdios passassem por uma certa acomodação técnica e de linguagem (não completamente, é claro, podemos ver por exemplo que a Pixar segue buscando um realismo cada vez maior, enquanto o Laika é capaz de sempre de criar novos mundos e personagens).
Então, é sempre muito interessante vermos novos traços autorais surgirem, como ocorre agora com a Sony (a Netflix só comprou os direitos de distribuição, mas “A Família Mitchell…” é produzida pela Sony). Após encantar o mundo com “Homem-Aranha no Aranhaverso”, o estúdio volta a demonstrar uma renovação de linguagem bastante inventiva, ainda que algumas escolhas visuais se assemelhem à obra anterior, marcando assim, um possível traço autoral em criação.
Ainda assim, para uma mais fácil assimilação do público, principalmente dos espectadores mais jovens, o longa investe em um certo lugar comum em sua construção da mensagem, ao incorporar a já batida crítica ao uso diário do celular que afasta as pessoas no mundo “real” e também na criação de uma família disfuncional que se ama, mas não consegue se entender, o que aparece principalmente na relação entre pai e filha.
Mas, ao mesmo tempo, a nova animação com selo Netflix se renova ao se adaptar a uma lógica tecnológica, relacionando a temática central a traços comuns dos desenhos animados, sempre com a tecnologia e o familiar se relacionando no texto, na música e visualmente. Além disso, o roteiro é hábil ao criar pequenos momentos e piadas que surgem despretensiosas, mas que adquirem um valor narrativo posterior, como é o caso dos robôs terem dificuldade de reconhecerem o cachorro da família.
Entretanto, uma obra constrói seu universo por suas escolhas da misè en scene, como a linguagem se relaciona com a história para criar uma janela aberta para o público. E, nesse sentido, “A Família Mitchell” engrandece suas escolhas mais genéricas ao inseri-las em um inventivo mundo e em um avanço narrativo que une diferentes estilos de linguagens distintas, desde animação clássica, passando pelo tecnológico, o quadrinhesco e o desenho animado, criando um estilo bastante peculiar e ao mesmo tempo inacreditavelmente unificado.
Nota: 7.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The Mitchells vs. The Machines
Data de lançamento: 30 de abril de 2021
Direção: Michael Rianda
Elenco: Abbi Jacobson, Olivia Colman, Danny McBride
Gêneros: Animação, Comédia
Nacionalidade: EUA