“A Nuvem” acompanha uma mãe solteira de dois filhos que tem como sustento fazer farinha a partir de gafanhotos. Porém, em meio uma crise de produtividade, ela descobre que os animais se reproduzem mais quando alimentados com sangue. E isso fará com que a situação saia do controle.
O filme está disponível no catálogo da Netflix.
Apego às metáforas
“A Nuvem” se constrói quase que integralmente em cima de duas metáforas centrais que envolvem a relação entre a mãe e os gafanhotos, mas o apego quase que total a essas, além da pretensão de parecer um “terror moderno”, não permitem que ele evolua como filme de gênero.
A começar pelo que há de central aqui: a relação da protagonista e os animais que ela cultiva. Fica claro que ela busca nos gafanhotos uma saída para os seus problemas dentro de casa. Mãe solteira e com dificuldade de lidar com os seus filhos, ela mostra por meio da relação com os gafanhotos que fará de tudo para “salvar” os seus filhos, entregando até o seu próprio sangue e sua própria vida. Há também uma segunda leitura possível caso queiramos relacionar os gafanhotos com a nossa sociedade. O longa diz para gente que como na nossa história, aquela sociedade só sobrevive a partir do sangue de inocentes. Vidas precisam ser tiradas para que os dominantes se fortaleçam e se reproduzam. Tal leitura conversa até mesmo com os diversos genocídios e guerras que aconteceram ao longo de nossa história.
Porém, o longa não consegue ir muito além dessas relações realmente interessantes e fica preso às escolhas que o tentam fazer parecer um terror “moderno”. Entenda como “terror moderno” o que muitos gostam de chamar de “pós-terror”, termo que abomino completamente. Entretanto, fica claro que esse terror mais psicológico e dramático ganhou espaço recentemente e vem formando o seu público. Ainda que não seja novidade, a trilogia do apartamento de Roman Polanski ou “O Homem de Palha” já faziam isso há décadas, atualmente essa abordagem vem ganhando um caráter quase que de subgênero do terror, graças a obras como “A Bruxa”, “Hereditário”, “Midsommar”, “Ao Cair da Noite”, entre outras.
Só que como é comum em toda abordagem que vira tendência, há longas que querem fazer parte dessa tendência a qualquer custo. E é justamente isso que acontece com “A Nuvem”. A partir dessa relação mais metafórica, o longa clama por ser profundo. Todas as escolhas da direção de Just Philippot fazem o filme tentar ter uma cara de “filme de festival” à força. O desenvolvimento é desnecessariamente lento, com uma série de repetições das ações para mostrar o perigo iminente que nunca chega. Há uma necessidade de criar relações dramáticas que envolvem a mãe, a filha e o amante que se repetem, mas nunca avançam realmente. E o terror sempre fica mais na sugestão do que na representação visual de fato, exceção feita a alguns pequenos planos mais sangrentos.
Una isso ao fato de que para qualquer ameaça acontecer é necessário atitudes estúpidas de algum personagem ou uma obsessão meio sem fundamento da protagonista e temos um terror vazio que tenta emular “Os Pássaros”, mas não consegue sair de uma pseudo intelectualidade.
Nota:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: La Nuee
Data de lançamento: 06 de agosto de 2021
Direção: Just Philippot
Elenco: Suliane Brahim, Marie Narbonne
Gêneros: Terror
Nacionalidade: França