“#Alive” se passa na Coreia do Sul e conta a história de um jovem que fica preso em seu apartamento enquanto um apocalipse zumbi se instaura em seu entorno.

O filme está disponível na Netflix.

Juventude e tecnologia

Ao longo da história, a sociedade sempre se mostrou receosa às novidades e crítica às novas gerações. E o cinema, como um reflexo social, normalmente teve uma abordagem parecida. Dessa forma, é comum vermos o saudosismo dominar a tela e a tecnologia ser tratada como vilã. Isso ganhou ainda mais força com o medo de uma Inteligência Artificial dominar o mundo, que surge primeiro na literatura, com nomes como Isaac Asimov, e posteriormente ganha força na sétima arte após “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick.  Desde então, inúmeras obras compartilharam dessa mesma fobia, enquanto outras vilanizaram tecnologias como computador e celular, tratando-os como objetos de afastamento social e alienação.

Então, chegamos a esse humilde filme coreano de baixo orçamento de zumbi que marca a estreia na direção de II Cho. Ao contrário da vilanização da tecnologia, “#Alive” prefere centrar sua narrativa nas vantagens dos avanços tecnológicos. Por consequência, a juventude surge como a única salvação possível em meio a uma sociedade predatória e ameaçadora (aqui os zumbis surgem como metáfora social, algo que o gênero utiliza constantemente).

Assim, o longa opta por um protagonista pouco usual: um gamer preguiçoso e que mora sozinho. Longe de ridicularizá-lo, #Alive prefere usar as qualidade dos personagem e da profissão para sua sobrevivência. O drone e o celular surgem como as armas mais potentes para resistir em meio aos seus predadores (o que se torna ainda mais evidente na sequência final). O filme ainda acha espaço para criticar sutilmente às armas de fogo, ridicularizando as seis balas que estão longe de ser eficiente contra um exército de zumbis.

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II Cho abraça por completo a modernidade e aposta em um visual repleto de neon que cria uma atmosfera artificialmente tecnológica, ao mesmo tempo que usa batidas eletrônicas (mais um elemento da sociedade contemporânea) para dar ritmo ao filme.

É curioso também perceber que o longa produzido em 2019 ganha um novo sentido ao estrear em 2020. O isolamento de seus dois principais personagens, ressaltados por vários planos com grades, que sugerem a ideia de aprisionamento, serve como uma metáfora eficiente para o que está sendo a pandemia ao redor do mundo, mesmo que essa não tenha sido a ideia do diretor ao conceber a obra.

Quase que inteiro rodado em apenas três ambientes (dois apartamentos e a rua que os separa), “#Alive” não tem medo de deixar a ação em segundo plano e focar na solidão vivida pelos seus personagens centrais, trazendo até o suicídio e o alcoolismo como elementos recorrentes para a sociedade em que vivemos atualmente. E, nesses momentos, o filme tem a consciência de abandonar a comédia para tratar o tema com a seriedade que ele pede.

Porém, ainda que o longa use o universo zumbi para falar da nossa sociedade atual, ele é muito mais uma sátira social do que uma obra que se leva inteiramente a sério. O protagonista, que parece pouco inteligente inicialmente, mostra-se um sobrevivente implacável sob pressão, mesmo sem nunca deixar o seu lado estabanado sumir por completo. E é a partir dessas trapalhadas dele que o humor do filme se sustenta. O equilíbrio entre humor e drama não chega a ser impecável, muitas vezes o cineasta pesa demais a mão nas questões psicológicas e esquece que parte da força do longa está na sátira e nas situações inusitadas, que só fazem sentido naquele contexto (como a linha de comunicação e transporte de mercadoria entre os dois apartamento). Ainda assim, Cho consegue criar uma unidade tragicômica e mostra talento ao brincar com os dois gêneros.

Essa escolha de tom afasta “#Alive” do terror zumbi tradicional, mas nunca o impede de construir tensão. Muito pelo contrário, Cho se mostra bastante habilidoso ao desenvolver uma geografia de cena que nos permita entender o real perigo, enquanto entende o poder de esticar essas cenas para criar suspense. Ainda assim, o diretor aposta muito mais na ação do que no horror com o objetivo de trazer dinamismo em sequências que sucedem os momentos mais reflexivos da obra.

Então, apesar de alguns problemas pontuais, “#Alive” é uma boa e simples estreia na direção para II Cho, ao mesmo tempo que encontra um frescor para um gênero tão saturado. É mais um bom filme de zumbi gerado pelo ótimo cinema coreano.

Nota: 7.0

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: #Saraitda (#Alive)
Data de lançamento: 8 de setembro de 2020
Direção: II Cho
Elenco: Yoo Ah In, Park Shin Hye mais
Gêneros: Terror, sátira
Nacionalidade: EUA