“Casa Gucci” acompanha a queda da Família Gucci até o assassinato de Maurizio pela sua ex-mulher, Patrizia Reggiani.
O filme está disponível nos cinemas.
Uma novela sem foco
Em seu pior filme do ano, Ridley Scott deixa o crime de lado para focar em relações novelescas, em um longa sem foco e que esbanja uma visão machista.
Desde a primeira sequência em 1978, Scott deixa claro qual será sua visão para “Casa Gucci”. Patrizia, interpretada por Lady Gaga, que faz um bom trabalho, apesar do roteiro, anda rebolando em frente aos funcionários de seu pai, enquanto esses assobiam e mandam cantadas machistas para ela. Ao invés dela se sentir incomodada, a personagem esconde um sorrisinho safado de quem se divertiu e fez aquilo como provocação.
Fica claro então que Scott vê Patrizia como uma oportunista barata, com valores morais “contrários à época”. Em seguida, vemos diversas tentativas da personagem em se jogar para cima do tímido Maurizio, interpretado por Adam Driver, um garoto bom e que pouco se interessa pela fortuna de sua família.
A mensagem não podia ser mais clara, para Scott, Patrizia é a responsável por toda a desestabilização da família Gucci, é a partir dela que Maurizio se distancia do pai, é por um plano dela que o marido passa perna no tio e é ela mesma que engana o primo de Maurizio, interpretado por um Jared Leto patético, cheio de trejeitos forçados e uma maquiagem inexplicavelmente pesada.
Dessa forma, o diretor simplifica uma história complexa em prol da criação de uma vilã interesseira, bem típico de novela, não é? E é justamente isso que “Casa Gucci” é, um novelão enxugado para caber em um filme de duas horas e quarenta minutos. Tudo é exagerado, as atuações, maquiagens, figurinos (ainda que o diretor acerte o tom) e os eventos da história.
Mas não para por aí, ao contar uma história que se passa na Itália com italianos, ele faz questão de pedir aos atores que falem inglês com um “sotaque italiano” (quantas novelas da Globo já fizeram isso, certo?). O que não só fica ridículo, como também os sotaques variam de um personagem para o outro e em muitos momentos são simplesmente esquecidos.
Mas esse está longe de ser o único momento em que o cineasta comete esses “deslizes” de estadunidense querendo retratar um país e uma cultura que não conhece. Por se passar na Itália, o diretor acho que tinha a brilhante ideia de fazer uma cena dos personagens jogando futebol em meio a uma festa de família. Porém, fica claro que Scott nunca viu uma partida de futebol na vida.
Então, em meio a simplificações, exageros, escolhas questionáveis e uma passagem de tempo inexplicável (a narrativa acontece em quase 20 anos, mas parece que foram no máximo uns dois), Scott isenta Maurizio e a família Gucci de culpa, e quando vai mostrar algo negativo deles, sempre coloca Patrizia como a mentora manipuladora da situação.
Assim, o cineasta não tem nenhuma vergonha de esconder a verdade (por exemplo, o fato de ser Maurizio quem deu em cima de Patrizia a primeira vez, o real motivo por Patrizia mandar matar o ex-marido que nada tinha que ver com ciúme, entre muitos outros absurdos) e responsabilizar apenas a que é assumidamente assassina. O problema é que o assassinato, o verdadeiro crime de Patrizia, é tratado superficialmente em 10 minutos. Para Scott, o grande crime dela foi ser, de acordo com sua visão, uma interesseira manipuladora e ciumenta. Chega a ser chocante como o diretor que este ano fez “O Último Duelo” demonstre aqui o oposto do que fez naquele bom filme.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: House of Gucci
Data de lançamento: 24 de novembro de 2021
Direção: Ridley Scott
Elenco: Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jared Leto, Jeremy Irons
Gêneros: Drama, Baseado em Fatos Reais
Nacionalidade: EUA