“Convenção das Bruxas” é um remake do filme de mesmo nome de 1990. O longa se passa nos anos 1960 e acompanha um garoto órfão e sua avó que vão passar um tempo em um hotel de luxo após a morte dos pais do garoto. Porém, eles não sabiam que o local está cheio de bruxas.
Ultra dependência do CGI
Normalmente, eu torço o nariz para quase todos os remakes realizados por Hollywood, quase sempre sem nada de novo para agregar ao original e sob o falso pretexto de “apresentar a obra para uma nova geração”. Entretanto, ao contrário do recente “Rebecca”, que mexe com um clássico de Alfred Hitchcock apenas para recontá-lo de uma forma mais “família” e romântica, em um projeto que já nasceu fadado ao desastre, “Convenção das Bruxas” é um dos raros casos de filmes que têm um bom espaço para a realização do remake. Apesar do filme original ter marcado uma geração, ele é bastante imperfeito e o tom aventuresco abre a possibilidade para uma atualização em uma história remodelada.
Una isso ao nome de Robert Zemeckis (“De Volta Para o Futuro”, “Forrest Gump”), realizador de algumas das aventuras mais divertidas do cinema, e temos um dos projetos de remakes mais interessantes dos últimos anos. Pelo menos era assim no papel, já que na prática “Convenção das Bruxas” é um desastre quase que completo.
O longa representa mais do que uma tendência de Hollywood em relação ao CGI, ele é a extrapolação de tudo que tinha sido feito anteriormente. Não que isso ocorra em escala, já que muitos filmes utilizaram a computação gráfica para construções muito maiores e mirabolantes. Mas acontece em termos narrativos, pois eu não me recordo de um roteiro tão dependente do CGI para contar sua história e construir seus acontecimentos. Em “Convenção das Bruxas” a ultra dependência que Hollywood tem para com esse recurso tecnológico é levado para um outro patamar.
Dessa forma, toda a execução do projeto é muito afetada. Os atores ficam por várias vezes aguardando algo que será resolvido por computadores ou interagindo de forma não natural com figuras digitais, o que ocorre principalmente com “Octavia Spencer”, obrigada a conversar o filme todo com ratos computadorizados (que obviamente não estavam presentes no set de filmagem).
Mas o filme vai além apenas dessa interação artificial entre atores e digital, o que já aconteceu inúmeras vezes no cinema. O maior problema do longa é justamente se construir em torno do computadorizado. Todas as situações são propostas para terem uma resolução grandiosa em CGI. É quase como se Zemeckis sofresse aqui de um exibicionismo tecnológico. Parece que o diretor idealiza o seu filme sob o pretexto “olha o que eu consigo fazer em computação gráfica”.
E tudo isso se torna ainda mais problemático porque a computação gráfica do longa é uma das piores que vi em tempos. Nem gatos e ratos, animais fáceis de serem resolvidos digitalmente, parecem minimamente com os seres da vida real. Isso se acentua ainda mais nas cenas de transformação das bruxas, um dos grandes marcos do filme original, justamente porque lá a maquiagem tornava tudo mais palpável e assustador. Aqui, a artificialidade e o exagero descambam para uma vergonha alheia não intencional.
Atuações
Todavia, o CGI não é o único culpado de todos os problemas aqui, pois até o bom elenco sofre com atuações inacreditavelmente ridículas. É bem verdade que em alguns momentos elas são atrapalhadas pela interação com o digital, mas isso está longe de ser o único embaraço aqui. Os maiores desastres recaem sobre o protagonista Jahzir Bruno, jovem e estreante que é completamente mal dirigido e entrega uma das atuações infantis mais apáticas que eu já vi. E, claro, Anne Hathaway, que tem sofrido há pelo menos dois anos com roteiros ruins (“As Trapaceiras”, “Calmaria” e “A Última Coisa Que Ele Queria”), mas que aqui é totalmente responsável pela bizarrice de sua personagem. Ela exagera no sotaque, grita, faz caras e bocas, gesticula exageradamente, mas no final todo esse overacting resulta apenas em uma atuação vexatória e incômoda. Já passou da hora dela voltar a escolher melhor os seus projetos.
Assim, com o absurdo tomando conta do longa, até as mudanças interessantes que o remake faz acabam sendo esquecidas. O design de produção e o figurino remetem a uma época anterior a do filme de 1990, o que permite um trabalho com cores mais vivas. A avó (Spencer) acaba por ter um desenvolvimento muito maior e mais interessante do que a da personagem do original, que pouco aparecia. E a própria direção de Zemeckis, quando tira um pouco o foco do CGI, é capaz de entregar planos interessantes e algumas boas ideias. É uma pena que isso seja muito pouco dentro do desastre que é “Convenção das Bruxas.”
Nota: 3.0
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz do filme em meu canal, o 16mm.
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The Witches
Data de lançamento: 13 de novembro de 2020
Direção: Robert Zemeckis
Elenco: Anne Hathaway, Jahzir Bruno, Octavia Spencer
Gêneros: Aventura, comédia
Nacionalidade: EUA