“Cry Macho: O Caminho para Redenção” acompanha Mike, um homem contratado para buscar o filho de seu empregador no México, ao mesmo tempo que a mãe do garoto não permitirá a viagem de volta.
O filme está disponível nos cinemas.
Um lugar para chamar de lar
Em “Cry Macho: O Caminho para Redenção”, Clint Eastwood faz uma revisão do seu cinema e de sua persona em busca de um lugar para chamar de lar.
O novo filme da Warner, que inexplicavelmente recebeu pouquíssima atenção e investimento do próprio estúdio para marketing e distribuição, traz de volta Clint na direção e no papel principal, em uma obra que inicia como um neowestern, com uma figura central que lembra muito os personagens do cineasta em filmes como “Os Imperdoáveis”, “Gran Torino” e “A Mula”, uma pessoa de mais idade, solitária e atormentada por seu passado. E, como no segundo, ele criará laços afetivos com um jovem meio perdido na vida (algo retratado também no ótimo “Um Mundo Pefeito”, que recebe menos atenção do que deveria).
Porém, se Clint faz referência ao seu próprio cinema durante quase toda a projeção de “Cry Macho”, não é a fim de copiar o que já fez antes, mas, sim, de fazer uma análise e necessárias subversões sobre aquilo que trabalhou durante a sua carreira. Isso fica claro na fala de Mike: “Macho é superestimado”. Com essas três palavras, o cineasta revela uma visão mais madura e compreensível sobre aquela persona que o tornou famoso nos filmes de faroeste (ainda que o seu forasteiro sem nome fosse bastante diferente dos protagonistas de faroestes hollywoodianos clássicos, a representação do “homem idealizado”) e policial (franquia “Dirty Harry”). Mais do que isso, ele reflete sobre todo o cinema de Hollywood, em que a figura do “homem macho” sempre foi dominante.
Não é que o diretor nos imponha sua visão de mundo, longe disso, ele tem a humildade de ser como Mike mostrando a Rafa (Eduardo Minett) o que aprendeu e os erros que cometeu durante sua jornada de décadas. É um cineasta no final de sua carreira olhando para o passado de maneira reflexiva e, por que não, sábia.
Então, o longa parte como a carreira do diretor, começando pelo faroeste e prometendo o épico, mas é subvertido na metade do segundo ato ao retratar um México diferente daquele lugar hostil, como é geralmente mostrado nos western. Pelo contrário, é em uma pequena cidade mexicana que personagem encontra o lugar que procurava há tempos, um local para chamar de lar. E, nesse momento, o faroeste dá lugar a um drama com flertes de romance aos moldes de “Ponte Madison”.
Todas as escolhas estéticas são levemente alteradas. O ritmo desacelera, quase para, e as sombras do chapéu que escondiam o rosto do personagem por causa de uma luz dura do meio-dia é substituída por uma iluminação mais amena, deixando assim o lugar mais aconchegante. É só nesse momento que entendemos finalmente a essência dos dois personagens. Eles não cometem ações ruins porque são maus, mas a maldade está impregnada no mundo que os cerca (representada em personagens como os pais do garoto). Longe dos pensamentos ruins, eles ficam livres para demonstrar empatia, o que Clint capta bem em planos-detalhe e, principalmente, na relação desses personagens com os animais, criaturas indefesas que deixam a hostilidade para demonstrarem afeto pela dupla. Rafa aprendendo a domar o cavalo é muito simbólico nesse sentido, é um personagem aprendendo a apresentar o seu melhor para o mundo e para o outro.
São longos minutos que nunca se tornam cansativos, já que Clint transforma aquela pequena cidade árida em um lugar mágico, o espaço com as pessoas em que o protagonista deseja passar o resto de sua vida. Aos poucos, as possíveis ameaças são ignoradas e até mesmo o policial local se rende a empatia da dupla principal. E se Mike precisa sair dali por um tempo é para completar sua missão, sabendo que tem para onde voltar.
Aos 91 anos, Clint continua fazendo cinema como poucos, e. por mais que não seja seu melhor filme, talvez seja o que apresente a visão mais madura do diretor. A união do sentimento mais forte, de filmes como “Pontes de Madison”, inserido na jornada de heroísmo do homem comum (presente em seus últimos filmes: “Richard Jewell”, “Sully”, “15h17: Trem para Paris”), e o revisionismo do faroeste, gênero que o colocou no mapa e dominou sua carreira por décadas, mostra um diretor que ama cinema e não tem medo de expressar seus sentimentos e frustrações para o mundo. “Cry Macho” só não é brilhante porque a montagem mais truncada e quase protocolar do primeiro ato não ajuda o estreante Eduardo Minett, e entrega um pouco da sua fragilidade técnica ao demonstrar sentimentos mais extremos. De resto, o longa é cinema de altíssima qualidade.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Cry Macho
Data de lançamento: 16 de setembro de 2021
Direção: Clint Eastwood
Elenco: Clint Eastwood, Eduardo Minett
Gêneros: Drama, Faroeste
Nacionalidade: EUA