“Gavião Arqueiro” traz Clint Barton de volta após alguém aparecer vestido de Ronin, o traje que um dia foi seu e ele queria deixar guardado no passado.

A série está disponível no Disney+.

A desculpa do conto de natal

“Gavião Arqueiro” funciona durante boa parte de seus episódios como um conto atrapalhado de natal à lá anos 90, mas tudo é posto por água abaixo quando essa possível novidade se revela como uma mera desculpa para apresentar personagens e deixar ganchos.

Depois de se estabelecer como uma das franquias mais lucrativas da história do cinema, o UCM (Universo Cinematográfico da Marvel) decidiu expandir o seu universo para o streaming com dois objetivos claros: contar histórias de personagens até então pouco desenvolvidos e atrair público para o Disney+.

Só que, se outras franquias já estabeleceram universos por anos entre diferentes mídias com sucesso, Star Wars talvez seja o exemplo com mais sucesso nesse tipo de unificação, no caso da Marvel essa tentativa começa a soar cada vez mais como apenas desculpa.

Em parte, isso se dá pela própria unificação narrativa do UCM. Se trouxermos de novo Star Wars como exemplo, veremos que apenas os nove filmes avançam a história, enquanto séries, quadrinhos, livros etc, servem como uma forma de construir bases para àqueles mundos e, principalmente, contarem novas histórias sem tanto compromisso. Isso dá liberdade para os criadores narrarem o que desejam sem o compromisso de apresentar personagens ou fatos que mudarão os rumos da galáxia e, ao mesmo tempo, mostrando que aquele mundo é muito mais do que apenas a saga Skywalker.

Já a Marvel escolheu um caminho diferente e começa a ser refém disso. Na necessidade de sempre avançar a história e deixar ganchos, cada obra se dá um nível de importância ou necessidade para o universo que nem sempre é bem-vindo. É como se toda obra tivesse quisesse ser super relevante, levar-se a sério e mudar os rumos do universo. “Gavião Arqueiro” é destruído por essa necessidade autoimposta pelo próprio Kevin Feige, assim como aconteceu com “Wandavision”, “Loki”, “Falcão e o Soldado Invernal” e “What If…?”.

Isso porque, em todas as séries vemos uma certa identidade nos primeiros episódios, mas essa vai se perdendo ao longo da narrativa para dar lugar a algum gancho para o universo, saindo de uma visão mais original para o genérico.

Critica Gaviao Arqueiro Disney 2

Então, “Gavião Arqueiro”, apesar de pesar muitas vezes a mão no drama familiar e pessoal do personagem, sabe por muito tempo rir de si mesma ao criar a relação de um herói que nunca foi prioridade de ninguém e uma garota talentosa, porém desastrada e que o idolatra. Una isso a uma gangue de vilões de agasalho e atrapalhados ao melhor estilo “Esqueceram de Mim” e situações ridículas (no bom sentido, na maioria das vezes), e temos a essência de uma série noventista, natalina e descomprometida que funciona por alguns episódios.

Só que, infelizmente, a necessidade de auto importância dentro do universo começa a desestabilizar a série até um último episódio completamente desastroso. O que era pequeno se obriga a virar grande ao unir “Gavião Arqueiro” não com uma, mas com três outras produções (duas do UCM e outra da Netflix).

Não bastava ter o arco mal desenvolvido da Echo (que ganhará série em breve), a obra ainda faz questão de se conectar com o filme “Viúva Negra”, ao trazer a “irmã” da Natasha querendo vingança, e também com “Demolidor”, da Netflix, ao apresentar o Rei do Crime como grande vilão. Além disso, ainda há o desenvolvimento de Kate Bishop como a futura detentora do manto do Gavião Arqueiro.

Entretanto, tudo isso surge apenas como desculpa de unificação de universo e introdução de personagem, ao mesmo tempo que nada tem consequência e é deixado para futuras produções. É como se a Marvel tivesse sempre abrindo arcos, mas nunca os fechando. A promessa é sempre pela próxima produção, o que rompe até a própria lógica do UCM pré-séries, visto que havia essa unificação de universo, mas os filmes solos ou de equipe tinham um arco que começavam e se fechavam de alguma forma ali. Algo que até aconteceu em alguns filmes mais recentes, como “Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” e “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”, mas não ocorre da mesma forma nas produções televisivas.

É quase como essas se aceitassem como meras escadas insignificantes, mas que se acham importantes. É uma pena, porque todas essas obras têm uma essência nítida nos primeiros episódios, mas essa é jogada fora em prol do universo e das teorias para o futuro. Mais uma vez a Marvel prova que só está preocupada com o comercial, enquanto criadores, roteiristas e diretores são apenas fantoches insignificantes na mão de Kevin Feige.

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Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Hawkeye
Data de lançamento: 22 de dezembro de 2021
Elenco: Hailee Stanfield, Jeremy Renner, Vincent D’Onofrio, Florence Pugh
Gêneros: Ação, super-herói
Nacionalidade: EUA