“Identidade” acompanha uma mulher negra nos EUA que encontra uma amiga de escola, também negra, passando-se por branca.
O filme está disponível na Netflix.
O valor do não dito
“Identidade” constrói o seu discurso grande por meio do pequeno, abrindo mão de uma exposição para revelar ao público por meio de detalhes silenciosos.
Rebecca Hall estreia na direção com firmeza e estilo ao abordar a Nova York dos anos 1920, em uma visão complexa do racismo, que vai desde a estrutura social até como isso afeta as pessoas e suas identidades. Só que todo esse discurso aparece menos em diálogos e mais por meio de simbolismos e detalhes visuais, como o frequente uso de espelhos em que as personagens se olham, em uma reação ou no chapéu que esconde um rosto em determinado momento.
Assim, a cineasta nunca subestima o espectador. Mais do que isso, ela exige do público uma percepção mais atenta a cada plano, além de deixar informações em aberto para serem preenchidas pelos espectadores. Assim, ela se demonstra muito menos interessada em contar uma história e muito mais preocupada em estudar essas personagens em sua época, a fim de entender o reflexo no mundo atual.
A identidade do título permeia as relações centrais entre essas duas mulheres e cabe mais uma vez a nós tentar entendê-las, o que possivelmente frustrará parte do público da Netflix em busca de um discurso mais pronto e simples.
E não há como não destacar as duas atuações centrais, que se confrontam inicialmente por estilos diferentes, como o mundo em que as personagens vivem, para depois se mostrarem mais parecidas do que imaginávamos. Tessa Thompson constrói uma personagem receosa, ciente do mundo que a cerca e com dificuldade de por para fora o que sente. Por outro lado, Ruth Negga aparece como alguém expansiva, agitada, que fala sem parar e não tem medo de se expor, atuação essa que vai se transformando junto com a personagem.
Talvez o maior deslize de Hall seja trair a sua própria construção formal por diversas vezes a fim de facilitar o entendimento do tema central por diálogos que soam como mera exposição, em muitos momentos até com personagens dizendo aquilo que sentem. Mas, no geral, a diretora tem uma estreia sólida e até bastante madura.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Passing
Data de lançamento: 10 de novembro de 2021
Direção: Rebecca Hall
Elenco: Tessa Thompson, Ruth Negga
Gêneros: Drama
Nacionalidade: EUA