“Love, Death & Robots” é uma série animada em formato de antologia que conta várias histórias envolvendo morte, amor e robôs, mas sem qualquer conexão entre elas.
A série está disponível na Netflix.
A obsessão pelo ultra realismo
Por ser uma série com o formato de antologia, é difícil traçar uma linha teórica entre todos os episódios de “Love, Death & Robots”, já que apesar de compartilharem algumas temáticas em comum, as animações apresentam temas e universos bem diferentes entre si. Dessa forma, o que marca a segunda temporada é muito mais uma escolha técnica do que necessariamente narrativa: a busca pela tecnologia ultra realista.
Assim, a série consegue retornar com boas ideias e reflexões, como no ótimo episódio “Esquadrão de Execução”, que traz um protagonista complexo para discutir sobre a obsessão do ser humano por viver mais e também da desigualdade provocada em uma sociedade futurista que não precisa procriar para manter a espécie viva. E, por mais que a diminuição de 18 para 8 episódios provoque um quero mais, gerando um efeito adverso no público, ele tá longe de ser um problema para a qualidade da série. É apenas uma escolha comercial, talvez com o objetivo de lançar mais temporadas em períodos de tempo menor.
Porém, o mesmo não pode ser dito da estética das animações, que era um dos grandes charmes da primeira temporada. Vou além, em grande parte, a diversidade de estilos se misturava com as várias histórias para criar a riqueza estética-narrativa do primeiro ano. Isso se perdeu no segundo ano, já que a experimentação que permite o diferente foi engolida pelo comercial.
Não é de hoje que vemos o cinema (e consequentemente a televisão) buscando o realismo na computação gráfica. Isso vai desde as animações mais populares de Hollywood, as da Disney/Pixar, até os grandes blockbusters, como filmes de super-herói. E a tecnologia avança em um nível impressionante, a ponto de conseguir criar pessoas reais em computadores, como vimos mais de uma vez nos novos filmes de Star Wars (com Peter Cushing e Carrie Fisher) e também no ótimo “Blade Runner 2049” (com Sean Young).
Mas, como toda obsessão repetida à exaustão, a busca pelo ultra realismo dá lugar também a uma falta de criatividade estética e um clichê visual. Quem disse que uma animação precisa ser realista? A própria lógica da animação/desenho animado clama por um lado mais lúdico e permite uma variação de linguagens (o que destacou o filme “Homem-Aranha no Aranhaverso”). De certa forma, até mesmo em live-action, o realismo não parece ser mais uma obrigação ou exigência do público, como nos mostrou o caso emblemático de “Sonic”, em que um personagem mais realista foi substituído por um mais videogamezado para só então ser aceito pelo público.
Então, é nesse ponto que voltamos à segunda temporada de “Love, Death & Robots” e suas escolhas estéticas que mais prejudicam do que ajudam a série. Não que o realismo seja o problema, longe disso, e as duas melhores animações dessa temporada vão nessa pegada (“Esquadrão de Execução” e “Snow no Deserto”), mas o real como única escolha possível demonstra um enfraquecimento criativo e uma saturação visual. As invenções e diferenciações que eram a alma da série dão lugar ao igual, ainda que haja um ou dois episódios que fujam dessa lógica. Mesmo assim, ainda gosto dessa temporada pela riqueza temática que a série é capaz de promover e por ter uma única correção em relação a primeira: o cuidado maior ao abordar a sexualização do corpo feminino.
Nota: 7.0
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Ficha Técnica:
Título original: Love, Death & Robots
Data de lançamento: 14 de maio de 2021
Gêneros: Animação, Ficção Científica
Nacionalidade: EUA