“Luca” conta a história de um garoto-peixe Luca que foge de casa, se transforma em garoto e tenta viver em uma pequena aldeia italiana ao lado de seu amigo Alberto.
O filme está disponível no catálogo do Disney+.
O mais Disney da Pixar?
Poucos meses após “Soul” ser rejeitado por parte do público por ser sério e adulto demais, principalmente na profundidade dos temas abordados, a Pixar retorna com uma animação que é quase um completo oposto, o que pode ser apenas uma coincidência (e deve ser, já que o estúdio dá liberdade aos seus diretores e “Luca” já estava em produção quando “Soul” foi lançado), mas parece uma resposta para atrair uma aceitação maior do público. O longa adota desde o traço da animação até a escolha de cores mais fortes, um tom mais infantil na linguagem visual e nos diálogos. Nesse sentido, o filme parece mais uma obra da Disney do que da Pixar.
É bem verdade que “Luca” tem uma grande atenção aos detalhes, sobretudo na construção da aldeia italiana e também nas escolhas musicais que remetem ao país, criando assim um microcosmo bem interessante que serve de palco para a jornada dos dois garotos. Como o interesse está na vida deles entre os humanos, fica claro que a atenção aos detalhes está muito mais presente no mundo terrestre do que no marinho, que parece meio solitário e hostil, marcado pelo azul (óbvio) e com um grau de detalhes muito menor.
Então, a Pixar nos convida a voltar para a infância, ao mesmo tempo que constrói uma narrativa bem leve e otimista, apesar dos subtextos serem bem sérios. Grande parte da graça do filme está em ver aqueles dois garotos aprendendo sobre o mundo humano, ao mesmo tempo que a tensão constante está na relação deles com a água, já que ao entrar em contato com esta eles voltam a ser “monstros-marinhos”, ou pelo menos é isso que a aldeia acredita que eles são.
Entretanto, ao falar sobre aceitação e, principalmente, o ser aceito pela sociedade que o cerca, que se volta mais claramente a comunidade LGBTQIA+ (algo que vem sendo amplamente debatido a respeito do filme), mas que serve também em sentido mais amplo para toda a dificuldade do ser humano de aceitar aquilo que não entende ou parece diferente, “Luca” volta a adotar uma linguagem bem mais simples, até mais infantil, para que a sua mensagem seja entendida com mais facilidade. Os diálogos se tornam diretos e é criado um claro maniqueísmo entre o trio principal e o garoto arrogante da cidade.
Dessa forma, não resta uma grande abertura para interpretações mais profundas, como em “Soul”, “Divertidamente” e “Up”, e nem a maturidade de outras obras do estúdio, que também funcionam para o público infantil, como “Toy Story”, “Os Incríveis” e “Ratatouille”.
Então, ainda que a mensagem passada seja super importante e atual (ou atemporal), fica claro que a Pixar tenta jogar mais com uma certa zona de conforto aqui. Ao falar sobre ser aceito, o estúdio parece buscar com “Luca” ser aceito pelo público, principalmente as crianças, que é para quem as animações mais são vendidas normalmente. Talvez não chegue a ser uma escolha totalmente mercadológica, mas, ainda assim, soa como uma busca pelo confortável, ao invés de investir no mais original, algo que era a marca da Pixar e a colocou no patamar de excelência que se encontra hoje.
Nota: 6.0
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Luca
Data de lançamento: 18 de junho de 2021
Direção: Enrico Casarosa
Elenco: Jacoby Tremblay, Jack Dylan Grazer, Emma Berman
Gêneros: Animação
Nacionalidade: EUA