“Maligno” acompanha Emily, uma enfermeira que sofreu uma série de abortos espontâneos, e começa a ser cercada por uma série de assassinatos.
O filme está disponível nos cinemas.
Um passeio pela história do terror
“Maligno” é um passeio pelo gênero de terror e pela carreira de James Wan, em um filme que vai se libertando aos poucos das suas próprias amarras.
O novo filme de Wan começa como um típico terror de possessão demoníaca, quase como em referência a alguns filmes de sucesso do diretor no gênero (há muito de “Invocação do Mal” e “Sobrenatural” aqui). Mas, aos poucos, o cineasta começa a revelar a verdadeira natureza de “Maligno”, uma autolibertação por meio de referências a história do cinema. O longa não só flerta como muitas vezes vai a fundo nas relações com obras de giallo (filmes de terror italiano que influenciaram o slasher), terror japonês do começo deste século, slasher, possessão, expressionismo alemão, trash, além de referências diretas a “Alien”, “O Bebê de Rosemary” e aos filmes de ação que o cineasta fez em anos recentes (como “Aquaman”).
Só que, ao mesmo tempo que o filme vai se revelando estruturalmente e percorre uma série de subgêneros bem distintos, Wan demonstra o controle o suficiente para não perder a unidade. Em nenhum momento o longa parece um Frankenstein, já que esse mergulho no fantástico vai acontecendo gradativamente, mesmo que muitos elementos já estivessem ali desde o início.
Dessa forma, Wan inicia o longa investindo na sua decupagem característica, com planos mais longos e passeando pela casa da protagonista, sugerindo assim que aquele espaço será o grande palco de terror do filme, assim como faz nos seus outros filmes. Mas, gradativamente, sua câmera vai criando uma nova gramática dentro do longa e o próprio diretor começa a se revelar para o público.
Flertando com a própria criação visual de um filme, ele não nos poupa de travellings, câmera em grua e panorâmicas sem nenhuma sutileza, em alguns momentos faz a câmera subir rapidamente para filmar a cena em um plongée extremo, por exemplo. A gente sente a mão pesada dele por trás da câmera.
Mas, nada supera a forma como ele usa o CGI, talvez seja só a partir disso que o filme se revele completamente. Espaços são rapidamente modificados sem nenhum realismo, os assassinatos são mostrados para gente sem mais esconder o assassino. A fantasia toma conta da trama sem cerimônia para depois dar lugar ao terror, tanto em perseguições como na ótima cena da delegacia, em que mais uma vez Wan conversa com o próprio cinema, usando recursos, como a câmera girando sem cortar, que também estavam presentes em “Aquaman”.
É bem verdade que o grande plot twist pode gerar desconforto e talvez riso não intencional em boa parte do público que foi capturada pelo flerte inicial de um filme genérico de possessão demoníaca. Mas, para mim, ele não só funciona como é o auge da libertação do próprio filme, é a prova de que Wan olha para o seu passado e do cinema a fim de rejeitar as amarras que dominam os filmes mais populares do gênero. Não chega a ser um filme inovador, mas há um bom trabalho com ideias diferentes e uma tentativa, ainda que não completamente concretizada, de fazer algo diferente dos longas do gênero nos últimos anos.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Malignant
Data de lançamento: 16 de setembro de 2021
Direção: James Wan
Elenco: Annabelle Wallis, Ingrid Bisu, Marina Mazepa
Gêneros: Terror, Suspense
Nacionalidade: EUA