“Midsommar” gira em torno de um grupo de amigos que visita uma pequena vila sueca para as festas do solstício de verão. No entanto, aos poucos coisas estranhas começam a acontecer.
Uma obra divisiva
Após estrear em longas com o excelente “Hereditário”, o diretor Ari Aster mostra uma visão ainda mais ousada e autoral em “Midsommar – O Mal Não Espera a Noite”. Este está longe de ser um filme fácil de se assistir e provavelmente será muito mais divisivo, tanto para o público quanto para a crítica, do que sua obra anterior.
“Midsommar” é aquele tipo de filme de terror que as pessoas acostumadas a assistir longas tradicionais do gênero dirão “ele não dá medo”. Já parte dos críticos alegará que o diretor é muito pretensioso, palavra que vem sendo usada constantemente para tentar denegrir filmes que trazem uma visão muito própria de um cineasta. “Midsommar” até é um pouco autoindulgente, mas qual longa autoral e que ousa ser diferente não é?
Então talvez o grande problema do longa é trazer algo que foge do genérico, que sai do que as pessoas esperam. E o diferente costuma incomodar. Pois não é que o filme não dê medo, ele apenas não recorre a recursos simples como sustos telegrafados ou reviravoltas previsíveis que o gênero utiliza há tanto tempo. O que ele faz é criar seu terror por meio de uma atmosfera instigante, creep e extremamente desconfortável, tudo isso com um ritmo cadenciado que toma o seu tempo.
Desconstrução do terror
Dessa forma, Aster não nega o gênero de terror, ele apenas o desconstrói. Mostra que nem mesmo o escuro, elemento presente em 99% das obras do gênero, é tão necessário assim. Porém o diretor sabe da necessidade da imersão e das sensações, e deixa claro que muitas vezes até o dia mais ensolarado pode ser perturbador.
A partir dessa lógica, o cineasta cria contrastes que partem de uma sociedade quase angelical. A claridade eterna, o branco predominante e adoração completa pelo Sol e pela luz. Mas é justamente pela aparência inofensiva que surge o terror. Se aqui não há cercas que proíbam os protagonistas de fugir, a imensidão do ambiente mostra que eles não têm para onde ir. E tudo isso é filmado com planos gerais, outro recurso pouco usual no gênero, para retratar essa grandiosidade.
E é com esse universo pré-estabelecido, que Aster nos conduz para uma narrativa intrigante. A gente sente a presença do mal, mas este não se mostra inicialmente, ele é apenas sugerido. Muitas vezes pela proibição branda dos personagens de fazer algo ou com a sugestão de figuras e pinturas que terão papel importante mais para frente na trama.
Técnica e personagens
A parte técnica do longa também é impressionante. A fotografia não é só bela como ajuda contar a história e a criar essa atmosfera quase que de sonho, além de trazer a grandiosidade do local. A montagem também auxilia na construção dessa confusão mental essencial para os protagonistas, ainda que o ritmo seja quebrado em alguns momentos para uma apreciação desnecessária de alguns costumes locais. Além disso, destaque para a ótima trilha sonora.
Já os personagens, comandados pela impressionante atuação de Florence Pugh, funcionam de formas diferentes. O foco é sem dúvida no casal principal e apesar dos coadjuvantes terem bons momentos, eles vão murchando com o andar da trama. Porém, essa escolha faz sentido se analisarmos a obra como tudo sendo uma grande metáfora para o relacionamento do casal.
Outras possibilidades
Apesar do longa ser bem direto em sua história, ele levanta algumas questões à respeito da obra. Como todo bom filme, a partir do momento que ele é lançado cabe ao público interpretá-lo da forma que achar mais conveniente.
E aqui são muitas as possibilidades possíveis. Além do lado mais religioso e a que foca na relação do casal, que já foram citados, há pelo menos mais duas formas de analisarmos a obra.
A primeira é a mais simples que foca na família. E aí é possível ver como alguém que rompe laços de parentesco para buscar pessoas com que se identifique. Ou o da pessoa que se vê sozinha no mundo e, sem familiares, é obrigada a encontrar uma nova família.
Já a segunda vai para um caminho mais atual. Seria a seita como uma representação para grupos extremistas que negam a ciência e o avanço para manter suas teorias. Aparentemente inofensivos, grupos como os terraplanistas, mostram como pessoas que se sentiam sozinhas encontraram uma família e a partir daí começaram a difundir suas ideias. Ainda que estas ficassem inicialmente restritas àquele local. E mesmo sem nenhuma comprovação, criam teorias que comprovem o pensamento desse grupo.
Nota: 9.5
Assista ao Trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Midsommar (Midsommar – O Mal Não Espera a Noite)
Data de lançamento: 19 de setembro de 2019 (2h 30min)
Direção: Ari Aster
Elenco: Florence Pugh, Jack Reynor, Will Poulter mais
Gêneros: Terror, suspense
Nacionalidade: EUA