[Crítica] No Ritmo do Coração

“No Ritmo do Coração” segue os eventos de Ruby, uma garota no último ano de ensino médio e que tem os pais e o irmão mais velho com deficiência auditiva. Então, ela terá que conciliar o sonho de ser cantora com ajudar sua família com o novo negócio de venda de peixes.

O filme está disponível nos cinemas e chegará ao Apple TV+ ainda em 2021.

Simples e emocionante

Remake do francês “A Família Belier”, “No Ritmo do Coração” rejeita a hiperestilização em prol de um drama mais naturalista e preocupado em capturar emoções e risadas de momentos cotidianos.

A diretora e roteirista, Sian Heder, estabelece bem os conflitos que permeiam a vida da protagonista e adia, sem nunca esconder, as difíceis decisões que marcarão o futuro da protagonista. A estrutura até meio previsível do longa serve apenas como um fio condutor e de identificação do público para como a situação da protagonista. Isso porque, a força da obra está nas pequenas interações, em diversos momentos isolados que unem esse quebra-cabeça.

Com uma decupagem que muitas vezes prefere manter planos longos para capturar a naturalidade das interações, “No Ritmo do Coração” vira palco para o seu ótimo elenco brilhar e nos emocionar. Ao contrário de outros filmes que adicionam a linguagem sonora à língua dos sinais, quase como acreditando que o público não seria capaz de se manter engajado apenas por meio de legendas, o longa da Apple não tem medo de investir nos longos silêncios e uma comunicação quase que 100% por sinais. Tal escolha dá uma força ainda maior para os ruídos e as sequências musicais.

É, sem dúvida, um dos filmes mais respeitosos para com pessoas com deficiência auditiva. A começar pelo elenco que escala atores surdos para esses papéis, criando uma naturalidade muito maior nas interações. Além disso, o longa nunca trata esses personagens com pena (o que acontece na maioria dos dramas desse tipo), ao mesmo tempo que não julga as ações de nenhum dos personagens. Todo mundo é um pouco vilão e um pouco herói, mas, sobretudo, todos soam como pessoas reais com dilemas humanos.

Quase sem estilizar as cenas, Heder cria um tom meio sem esperança para retratar aquela pequena cidade, por meio de flares e uma luz de fim de tarde sempre constante. São personagens que vivem a vida sem grandes aspirações, o que contrasta com a protagonista, vivida pela ótima Emília Jones, e que será responsável por transformar aqueles que a cercam.

É bem verdade que em alguns momentos Heder apela para elementos dramáticos buscando a lágrima a qualquer custo, sobretudo por meio da já batida trilha sonora triste que sobe no ápice da cena. Porém, isso está longe de ser o mais dominante do filme, já que por quase toda a rodagem “No Ritmo do Coração” nos cativa justamente pelo oposto, a criação de situações naturais que emocionam e tiram risadas, como a sequência em que Ruby leva Miles pela primeira vez para ensaiar em sua casa, mas é interrompida por um ato de seus pais.

No fim, “No Ritmo do Coração” não vai reinventar a roda, mas o toque singelo da direção, do texto e do afiado elenco é mais do que suficiente para cativar o público nesse drama repleto de momentos engraçados. É um filme que nunca ri ou julga seus personagens, mas se diverte e se emociona junto a eles.

Nota:

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: CODA
Data de lançamento: 23 de setembro de 2021
Direção: Sian Heder
Elenco: Emilia Jones, Marlee Maitlin, Troy Kotsur
Gêneros: Drama, comédia
Nacionalidade: EUA

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