“O Dilema das Redes” é um documentário que fala sobre como as redes sociais manipulam a sociedade, roubam seus dados e induzem as pessoas a tomar decisões.

O longa está disponível na Netflix.

Mais do mesmo

É muito frustrante assistir a um documentário e não adquirir nenhum conhecimento novo. Esse gênero, por essência, tem o objetivo de retratar situações novas para o público, seja abordando temas conhecidos sob uma ótica inovadora, apresentando algo desconhecido, entre inúmeras outras possibilidades.

O problema é que “O Dilema das Redes” se propõe a ser um longa que vai trazer uma nova perspectiva sobre as redes sociais, mas não consegue ir além do óbvio, daquilo que já é sabido por qualquer um que procura ter um conhecimento mínimo sobre o tema. É bem verdade que ele pode ser educativo para aqueles que usam essas plataformas sem saber nada sobre o funcionamento delas, porém este está longe de ser o único objetivo da obra.

Ao usar uma abordagem não tão usual, misturando as entrevistas (talking heads) com uma encenação de atores (algo que “The Thin Blue Line” fez magistralmente, por exemplo) e tentando criar suspense com uma trilha sonora que remete aos thrillers psicológicos, o longa busca criar uma aura de urgência e terror, criando assim uma auto importância que mais o prejudica do que o engrandece.

A encenação que era para ser o grande trunfo da obra se transforma em um elemento ridículo e destoante que beira a caricatura. Atuações mais estilizadas e menos naturais funcionam em diversos filmes, mas não em um documentário que se leva a sério e se propõe a ser um estudo profundo de um problema social. E essa escolha faz ainda menos sentido por serem escolhidos atores relativamente conhecidos para o projeto, como Vincent Kartheiser (Mad Men), o que tira ainda mais a credibilidade “real” do filme. Essas cenas são feitas para criar um identificação com o público, para retratar o que estamos vivendo, mas o resultado é um afastamento absoluto e uma artificialidade inexplicável.

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Temas abordados e personagens

Redes sociais que tem usuários como produtos e os “vende” para marcas anunciantes. Plataformas rastreiam e moldam nossas escolhas online. Corporações que nos manipulam tanto em escolhas pessoais quanto políticas. Polarização acentuada. Sem dúvida, esses e outros temas abordados pelo documentário são problemas reais, mas quem já não sabe disso?

Porém, ao invés de propor algo novo para superar os problemas, “O Dilema das Redes” prefere tratá-lo como sem solução e se resume a explicar de forma didática e artificial como os algoritmos e as redes sociais funcionam. E, pior, os personagens são quase que exclusivamente pessoas que tiveram altos cargos em empresas como Google, Facebook, Instagram, Pinterest, entre outros. Ou seja, profissionais que ajudaram a criar o problema e agora se sentem culpados, mas não conseguem encontrar qualquer saída.

Entretanto, ainda pior do que não apresentar solução para o dito dilema das redes é a obra aceitar o mundo como está. Apesar de criticar essas plataformas, o documentário sugere que é melhor com elas do que sem elas. Tal contradição contradiz toda a proposta central da obra.

No fim, “O Dilema das Redes” pode funcionar como ensinamento didático para aqueles que sabem nada ou muito pouco sobre redes sociais. Mas a obra não consegue se desgrudar em nenhum segundo do óbvio, criando assim, uma experiência mais do mesmo. Sendo alguém que conhece o funcionamento dos algoritmos e o tal dilema das redes, não consigo esconder o sentimento de ter perdido 90 minutos com essa produção. Os problemas são reais e perigosos, mas precisam de mais mudanças e menos senso comum.

Nota: 4.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: The Social Dilemma (O Dilema das Redes)
Data de lançamento: 9 de setembro de 2020
Direção: Jeff Orlowski
Elenco: Skyler Gisondo, Vincent Kartheiser, Kara Hayward mais
Gêneros: Documentário
Nacionalidade: EUA