Depois de forjar o próprio suicídio, um cientista enlouquecido usa seu poder para se tornar o homem invisível e aterrorizar sua ex-namorada. Quando a polícia se recusa a acreditar em sua história, ela decide resolver o assunto por conta própria.

Reimaginando um clássico

Em meio a tantos remakes e reboots como os recentes “O Grito” e “Dolittle”, às vezes surgem um ou outro que conseguem atualizar o original com uma história nova e diferente para contar. Esse é o caso do “O Homem Invisível”, de 2020, que toma a liberdade de mudar as temáticas trabalhadas, a relação com a ciência e até mesmo a protagonista. Por isso, é bem possível que pessoas muito apegadas ao material original se incomodem com as alterações.

Entretanto, trata-se de um livro de 1897, do grande H. G. Wells, que por sua vez teve um ótimo filme em 1933. Ou seja, São mais de 100 anos desde que a história foi criada e quase 90 que a primeira e melhor adaptação cinematográfica foi feita. Já era hora de ter uma nova abordagem.

Dessa forma, Leigh Whannell, diretor do bom Upgrade (2018), mas que apareceu no cinema aprendendo em filmes de terror com James Wan, inteligentemente traz uma nova abordagem com o foco em um terror psicológico e social.

Se o clássico tinha como protagonista um cientista que enlouquece após adquirir o “poder” da invisibilidade, aqui este desaparece (com o perdão do trocadilho) e passa ser quase como um psicopata dos filmes slasher. Em seu lugar, quem ganha o protagonismo é sua namorada, atormentada por um relacionamento abusivo e controlador.

O Homem Invisivel 2020

O terror social

A partir disso, inteligentemente a trama nos obriga a acreditar na protagonista, visto que o filme não mostra ela sendo abusada, ele já abre com a cena da fuga. Que, por sinal, mostra toda a qualidade com a câmera de Whannell, sabendo abrir o plano e estender a cena para causar a angústia no público.

E, então, a protagonista, interpretada pela sempre fantástica Elizabeth Moss, passa a ser atormentada por uma ameaça invisível. Ao mesmo tempo que vai enlouquecendo, ela também perde a credibilidade perante aos que a rodeiam. E é aí que uma segunda camada ganha força, como muitas vezes a sociedade acaba ajudando indiretamente os relacionamentos abusivos a se consolidarem. Quase sempre o marido ou namorado é visto como bom moço pelos demais ou, como nesse caso, ele nem chega a ser visto.

Todavia não é só em seu discurso social e nos simbolismos que o longa se destaca, ele também funciona dentro dos gêneros que se propõe a abordar.

O terror pelo desconhecido e a ação

Whannell mostra ter aprendido bastante com o seu mestre. Toda a noção da geografia da cena é sempre bem estabelecida na mise-en-scène e permite com que o diretor brinque com a expectativa do público. Ele sugere a todo instante possíveis jump scares, porém esses nunca se concretizam, e justamente por isso os poucos sustos presentes nos pegam de surpresa por surgirem do nada.

Além disso, o cineasta constrói quase sempre um plano com espaços vazios, sugerindo a possível presença do monstro. Na maioria das vezes, não sabemos se ele está mesmo ali ou não. E, inteligentemente, o roteiro nos esconde a razão da invisibilidade por quase todo o longa. Dessa forma, tudo isso converge para um efetivo terror pelo desconhecido. Sabemos quem é o monstro, mas nunca sabemos onde ele está, como está ou qual é seu plano.

Mas o diretor não se contenta em trabalhar apenas o terror e faz questão de cair para ação no ato final. Por sorte, ele tem domínio suficiente para fazer essa transição de forma fluida, sem nunca abandonar a carga pesada e aterrorizante.

Nesse sentido, o longa lembra até os últimos trabalhos de Jordan Peele, “Corra!” e “Nós”, sobretudo por construir a tensão a partir de uma ameaça não tão clara à princípio e depois resolvê-la em uma grande explosão de ações, com um ritmo mais frenético do que o restante do longa e que busca uma explicação científica absurda.

Então, o que temos aqui é mais um acerto da Blumhouse (que muitas vezes erra também) ao apostar no terror psicológico e social. Sem dúvida, “O Homem Invisível” é um dos melhores remakes recentes e, com certeza, o melhor filme do ano até o momento.

Nota: 8.5

Crítica em vídeo:

Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o longa em meu canal, o 16mm.

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: The Invisible Man (O Homem Invisível)
Data de lançamento: 27 de fevereiro de 2020 (1h 50min)
Direção: Leigh Whannell
Elenco: Elizabeth Moss, Oliver Jackson-Cohen, Storm Reid mais
Gêneros: Terror, Suspense
Nacionalidade: EUA