“Os Mortos Não Morrem” se passa em uma cidade de interior e acompanha alguns personagens locais. Mudanças na rotação da Terra fazem com que os mortos voltem a vida e passem a atacar as pessoas da cidade.
O longa foi lançado no Festival de Cannes em 2019, não teve estreia nos cinemas do Brasil e está disponível no Telecine.
A falsa subversão
Quando “Os Mortos Não Morrem” foi anunciado, grande parte dos cinéfilos reagiu com empolgação. Seria o primeiro filme do renomado Jim Jarmusch em um gênero que em muito se diferencia de seus trabalho anteriores e que se por um lado é bastante saturado, por outro, ainda rende bons filmes, sobretudo quando satiriza os próprios longas de zumbi, como os ótimos “Todo Mundo Quase Morto” e “Zumbilândia”. Além disso, o excelente elenco despertava ainda mais expectativa no público.
Entretanto, “Os Mortos Não Morrem” é incapaz de criar cenas minimamente aterrorizantes, engraçadas ou subversivas (por mais que Jarmusch acredite que está fazendo uma grande ironia ao gênero). O filme não consegue ser mais animado do que os desinteressantes e insuportáveis personagens principais, interpretados pelos excelentes Bill Murray e Adam Driver, mas que aqui se resumem a falar devagar e fazer piadas não intencionais repetidas. Por sinal, esse é outro problema do longa. Basicamente qualquer piada capaz de despertar riso no público se torna cansativa ao ser repetida à exaustão, como a música tema, a forma de se matar zumbi e a forçada e inexplicável metalinguagem.
E tudo fica ainda pior quando tentamos analisar a proposta de Jarmusch, a tal subversão. O longa se situa em uma pequena cidade de interior que funciona como um mundo a parte (clichê), os zumbis são mortos-vivos e não infectados (desde George A. Romero esses zumbis já existem e foram amplamente repetidos assim, apesar de pouco usuais atualmente), há a tentativa de um comentário social (só que é uma cópia descarada do que Romero fez em “Despertar dos Mortos”) e os personagens são estranhos e solitários (o que só torna todas as interações insuportavelmente lentas e cansativas, além de destruir o ritmo do filme).
Ou seja, não há qualquer tipo de inovação nas escolhas adotadas pelo cineasta. Mas os problemas não param por aí. Quase todos os demais personagens não passam de estereótipos irritantes como o grupo de jovens, o fazendeiro racista, a mulher “fraca” que só chora e vomita (dá até pena da grande Chloe Sevigny), o nerd dono de uma loja de quadrinhos, além dos já citados protagonistas. A única que se salva é a alienígena dona da funerária bad ass matadora de zumbi, mas isso se deve muito mais a Tilda Swinton, que sabe transformar o estranho em carisma, do que aos méritos do roteiro. Dessa forma, ao invés de torcer por eles, eu não via a hora de todos morrerem (menos a Tilda, é claro).
Apesar de já ter assistido a muitos filmes de zumbi ruins ou genéricos, eu nunca tinha visto um capaz de ser tão cansativo e autoindulgente. Foram 100 minutos que mais pareceram 5 horas.
Nota: 3.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The Dead Don’t Die
Data de lançamento: Sem estreia nos cinemas brasileiros
Direção: Jim Jarmusch
Elenco: Adam Driver, Bill Murray, Tilda Swinton mais
Gêneros: Comédia, Terror
Nacionalidade: EUA