“Pelé” é um documentário-tributo para a carreira do Rei do Futebol, além de dar pinceladas na relação do jogador com a política e sociedade brasileira.
O filme está disponível na Netflix.
Uma protagonista nada gostável
“Pelé” é um clássico documentário de tributo a um ídolo e que adota uma estrutura “Wikipédia” de contar história. Por isso, provavelmente o longa será frustrante para quem já conhece a vida e a carreira do jogador, pois, apesar de passar por uma ou outra questão mais polêmica, como a infidelidade e o não posicionamento contra a ditadura, a obra está muito mais interessada em fazer uma lembrança positiva de toda a história do atleta.
E isso começa a fazer sentido quando percebemos que, apesar de ser sobre um ídolo brasileiro, o documentário não é destinado para o público nacional e sim para outros países do mundo. Não à toa, todas as informações textuais são feitas em inglês, as entrevistas em inglês não são legendadas e nem sequer os diretores são brasileiros. Dessa forma, o filme pouco se importa se está contando a mesma história que já foi trazida às telas anteriormente e menos ainda se não se aprofunda em nenhuma das temáticas abordadas.
Assim, “Pelé” se assume como um produto banal e repetido, um olhar pouco aprofundado sobre a história de um dos maiores atletas de todos os tempos. Porque, no fundo, o objetivo é apenas dizer ao mundo: “esse foi o Pelé”. Com isso, sua infância é resumida a poucos minutos, assim como a copa de 1958, 1962, 1966 (inclusive o emblemático jogo contra Portugal, em que ele saiu carregado de campo de tanto apanhar mal é abordado), sua trajetória no Santos, seu casamento, entre outros temas levantados. Além disso, relações extracampo mais espinhosas nem sequer são mencionadas, como a da filha não assumida, algo necessário para uma obra que deseja contar toda a história de uma figura.
Entretanto, é bem verdade que após uma primeira hora corrida e sem desenvolvimento satisfatório de nenhum tema, os últimos 40 minutos conseguem se destacar um pouco, quando os diretores trazem à tona a Copa de 1970, a última do craque, e a já sabida forma como o Governo Médici se usou daquela euforia nacional para desviar o foco das atrocidades cometidas pela Ditadura Militar. É um dos poucos momentos que o filme consegue ser mais interessante ao abordar o desejo pessoal de Pelé de se provar para si mesmo.
Ao mesmo tempo, levantam-se questões em relação à Ditadura, se o jogador, por ser um símbolo nacional, poderia bater de frente com o regime sem sofrer consequências ou se nem Pelé teria essa força mediante a um governo que torturava, matava e oprimia a sociedade que o questionava.
Então, em meio a uma direção insegura e incapaz de conduzir a narrativa com eficiência, “Pelé” surge muito mais como um produto Netflix com foco mundial do que como um documentário para os brasileiros.
Nota: 6.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Pelé
Data de lançamento: 23 de fevereiro de 2021
Direção: David Tryhorn, Ben Nicholas
Gêneros: Documentário
Nacionalidade: EUA/Brasil