“Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis” acompanha Shang Chi, filho do líder de uma organização criminosa milenar. Ele terá que, ao lado de sua irmã, salvar o mundo da obsessão do pai.
O filme está disponível nos cinemas.
Equilíbrio entre ocidental e oriental
“Shang Chi e a Lenda dos Dez Anéis” busca um equilíbrio entre o cinema chinês e os filmes da Marvel a fim de atingir tanto o público ocidental quanto os chineses, responsáveis pela maior bilheteria mundial atualmente.
Não é de hoje que a fórmula Marvel se tornou um engessamento estético e narrativo. Por mais que muitos filmes se sobressaiam dentro desse mesmo estilo, a coisa começar a mudar após “Vingadores: Ultimato”. Isso porque o filme é responsável por fechar uma saga de 11 anos e mais de 20 filmes. Depois disso, era natural que a Marvel começasse a se abrir a novas possibilidades, criando visuais diferentes (fugindo do excesso de fundo verde presente em todo seu universo), ou até mesmo abandonando um pouco desse realismo seletivo com piadinhas e referências pontuais que marcaram o MCU por mais de uma década. Os filmes da Marvel se tornaram (erroneamente) quase um modelo de filme de herói no imaginário popular, mas chega um momento em que até as fórmulas de sucesso se saturam e precisam de uma reformulação.
A Marvel começou a ensaiar novas ideias em “Wandavision” ao abraçar a história da TV e suas mudanças ou mesmo com o futurismo oitentista em “Loki”. Mas ambos rapidamente se revelaram como apenas mais uma obra do MCU. Já Shang Chi, por tentar equilibrar o estilo clássico do MCU com um gênero tipicamente chinês, o wuxia (mistura de artes marciais e fantasia em uma narrativa de conto), a obra consegue se sustentar nesse meio termo durante quase toda a projeção, exceção feita ao ato final que descamba para a megalomania vazia e dominada por CGI, na busca por um final épico que é característica da Marvel.
Entretanto, durante as quase duas horas anteriores, Destin Cretton demonstra habilidade ao integrar elementos desses dois “mundos” na mise en scène. Vemos isso por exemplo quando o protagonista, vestindo jaqueta, tênis e calça (roupa mais americanizada) é posto em meio a um templo tipicamente chinês. Ou quando o diretor encena lutas ao melhor estilo filmes de kung fu, com planos longos e muito uso de elementos de cena, no meio de uma cidade estadunidense. Assim, ao invés de criar um embate entre dois cinemas (e culturas), Cretton consegue encontrar harmonia. A narrativa e a montagem também vão se fazer muito presente nesse sentido, já que a natureza, muito recorrente no Wuxia, e as grandes cidades, muito utilizadas nos grandes filmes de ação hollywoodianos, se intercalam, em uma narrativa que traz elementos de um conto milenar ao mesmo tempo que se integra aos elementos do MCU, como as piadinhas e as pausas expositivas (muitas vezes feitas em flashbacks, algo que o Wuxia geralmente usa bastante).
Porém, além das escolhas de Cretton, grande parte do sucesso de “Shang Chi” está no elenco. Ao contrário das cenas de ação entrecortadas e repletas de CGI para esconder os defeitos da passagem de um plano a outro, o novo longa da Marvel se utiliza de um elenco quase completamente chinês (com alguns atores de Hong Kong também), sendo todos eles habilidosos ao encenar cenas de artes marciais. Assim, Cretton consegue manter longas sequências de ação sem cortar, criando uma fluidez muito maior, além de uma beleza poética, que é marca registrada no wuxia. Só que aqui, mais uma vez, ele inclui elementos “mais ocidentais” a essas cenas, como a câmera lenta e os closes dramáticos, mas sem nunca impedir o desenvolvimento plástico e o movimento.
Dessa forma, ao abraçar mesmo o wuxia, diferente do que fez o live-action de “Mulan”, Cretton consegue inserir elementos novos dentro de uma roupagem ainda bem familiar. Não foi dessa vez que a Marvel se entregou totalmente a novas ideias, mas, ainda assim, conseguiu um refresco ao construir boa parte dos dois atos inicias por meio de ótimas e longas cenas de ação, sem dúvidas, as melhores que o universo já apresentou. O elenco e diretor oriental (ou filho de orientais) é só a cereja do bolo para esse filme que, na busca por atrair públicos distintos, ainda consegue um bom equilíbrio entre dois cinemas quase opostos.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Shang Chi
Data de lançamento: 02 de setembro de 2021
Direção: Destin Cretton
Elenco: Simu Liu, Tony Leung, Michelle Yeoh, Awkwafina
Gêneros: Ação, Fantasia
Nacionalidade: EUA