“The Man Who Sold His Skin” conta a história de um jovem sírio que sai de seu país após fugir da prisão. Ele decide vender suas costas para um artista renomado tatuá-la a fim de conseguir encontrar sua amada.

O filme não tem data de estreia no Brasil e foi indicado ao Oscar 2021 na categoria de Melhor Filme Internacional.

Original

“The Man Who Sold His Skin” (Tunísia) chocou todo mundo ao ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, desbancando obras com muito mais favoritismo como “Nós Duas” (França), “Caros, Camaradas” (Rússia), “La Llorona” (Guatemala) e “Ya No Estoy Aqui” (México). Entretanto, trata-se de uma surpresa boa, daquelas capazes de proporcionar uma experiência diferente com um filme que seria pouquíssimo assistido sem essa indicação.

Acompanhamos aqui um cidadão comum vivendo em um regime opressivo e preso injustamente por conta de palavras ditas em um momento de felicidade com a namorada Abeer. Com isso, ele é obrigado a fugir do país para não ficar na prisão e vê sua namorada, de uma família bem mais rica, casar-se com um diplomata por pressão familiar, revelando assim os valores retrógrados que perduram no país até hoje.

É então que surge a oportunidade capaz de unir Sam e Abeer novamente. No Líbano, ele recebe a proposta de vender suas costas para o artista renomado Jeffrey. Este tatua o novo visto de Sam em sua pele e, em troca, o jovem vira uma peça nas exposições de Jeffrey ao redor do mundo, além de o artista usar a história de Sam como uma propaganda de “bondade” pessoal.

Critica The Man Who Sold His Skin 2

É aqui que chegamos ao ponto central do longa, quando começamos a entender que este está muito mais interessado em discutir sobre arte, ética e a obstinação de seu protagonista do que em ser um simples romance proibido em um país que insiste em viver no passado. Sam surge como alguém disposto a aceitar a humilhação e ser controlado para poder ter a chance, ainda que pequena, de rever sua amada. Ao mesmo tempo, Jeffrey aparece como uma figura muito mais complexa do que apenas rico sem humanidade. Ele parece acreditar em sua arte e naquilo que ela representa para o mundo. Enxerga sua obra (Sam) como um gesto de resistência para o mundo. E, por mais contraditório que possa parecer, ele nutre algum carinho por Sam.

Entretanto, ninguém, além de Sam, parece perceber os limites éticos de usar uma pessoa como um modelo, como alguém que empresta o seu corpo por falta de opção. Mais do que isso, o protagonista aos poucos vai deixando de ser visto como uma pessoa para ser tratado como um objeto, uma peça artística, a ponto de suas costas serem vendidas sem que as pessoas presentes no leilão se importem com o fato do ser humano ser vendido junto. É aqui que a direção de Kaouther Ben Hania se destaca, filmando esse mundo da arte com certo afastamento, ao mesmo tempo que dá pinceladas em uma sátira crítica sem nunca abandonar o tom dramático vivido pelo personagem principal.

E, por mais que não tenha a mesma inspiração do roteiro do que o restante da obra, o desfecho acaba servindo como um alívio para mais de uma hora e meia de angústia, tudo isso em uma roupagem bastante original, que é sem dúvida o maior trunfo da obra.

Nota: 7.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: The Man Who Sold His Skin
Data de lançamento: Sem previsão de estreia
Direção: Kaouther Ben Hania
Elenco: Yahya Mahayni, Dea Liane, Monica Bellucci
Gêneros: Drama
Nacionalidade: Tunísia