O estado é laico, mas Damares Alves, a futura ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, não!
Talvez seja apenas um exagero meu mas, quando leio noticias do mundo político sendo misturado com o mundo evangélico e, aos poucos, ele se deixando influenciar por uma bancada que toma suas decisões de acordo com a bíblia, me faz ter arrepios de desespero.
Estado laico significa um país ou nação com uma posição neutra no campo religioso. Também conhecido como Estado secular, o Estado laico tem como princípio a imparcialidade em assuntos religiosos, não apoiando ou discriminando nenhuma religião.
Já tivemos experiências passadas quando a igreja tinha influência direta nas decisões que o governo poderia tomar. Temos exemplos na atualidade que provam que isso não é uma boa ideia, basta olhar países como a Arábia Saudita, o Irã, o Sudão e a Faixa de Gaza.
Colocar pessoas no poder e deixar que suas convicções pessoais possam influenciar em decisões que afetarão diretamente um país e sua população inteira é totalmente brincar com fogo, principalmente quando envolvemos a interpretação da religião e o que o Deus dessa religião diz.
Já vimos algumas matérias associando pastores de igreja dando o apoio direto a candidatos a presidência e até influenciando seus fiéis para que fizessem o mesmo.
O que eles vão ganhar em troca? Talvez algunsss 10%?
Indicada a dedo pelo futuro presidente Jair Bolsonaro, a advogada Damares Alves poderá então assumir o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, e passando então a ser a responsável por temas como a questão indígena, LGBT, mulheres e crianças.
Para a futura ministra, é a igreja evangélica que “vai mudar a nação”, não a política. Além disso, disse que não é verdade que o aborto é questão de saúde pública, como defendem especialistas, e que “ninguém nasce gay”.
Crendo em sua fé verdadeira, a ministra se torna uma ameaça não só para algumas questões dos direitos humanos como também até para a própria religião, ameaçando outras crenças e auto-nominando elas como as “religiões demoníacas” (ou seja, todas as não cristãs).
A igreja x O estado
Por ser evangélica, Damares possui crenças que vão diretamente contra alguns artigos dos direitos Humanos. Além disso, ela também se contradiz diretamente quando vem tratar de assuntos quando tenta fazer política – em um estado laico:
“Deus nos disse que não são os deputados que vão mudar essa nação, não é o governo que vai mudar esta nação, não é a política que vai mudar esta nação, é a igreja evangélica.”
Ministério da Mulher
Graças à ajuda de Damares e o poderoso peso da Bancada Evangélica no senado, algumas questões importantes acabaram sendo barrados, como o projeto de lei de 2018 que descriminalizava o aborto.
A futura ministra também defende que irá se manter contra a legalização, e que o aborto é uma questão de saúde pública mentirosa. “Quantas mulheres vocês enterraram porque morreu por causa de um aborto?”. “Eles manipulam os dados, as estatísticas, as informações para impor na sociedade brasileira uma cultura de morte”.
Em compensação, Damares defende a aprovação do Estatuto do Nascituro para promover políticas públicas para gestantes.
A proposta em tramitação prevê uma bolsa para mulheres estupradas que “decidirem” prosseguir com a gravidez, o que foi apelidado no Congresso de “bolsa estupro”. A bolsa, segundo o texto do Estatuto, deve ser paga pelo estuprador, mas, se ele não for identificado, o dinheiro sairia dos cofres públicos.
Nenhuma novidade o homem tendo que pagar uma pensão alimentícia para a mulher né? A diferença agora seria voltado para um crime e atrelar para sempre o estuprador a vítima, ou então, fazer com que o próprio governo tivesse que pagar por esse ato.
Direitos Humanos
Mais uma vez, se deixando levar pelas crenças religiosas, Damares acredita que a homossexualidade é errada e que de acordo com seu Deus, tudo não passa de frutos de uma criação errada na vida da criança.
“Não há prova científica que exista gene gay. Não há prova científica que o gay nasça gay. Se tivesse, já tinham jogado na nossa cara”, disse na palestra em 2013. “A homossexualidade, ela é aprendida a partir do nascimento, lá na infância. A forma como se lida com a criança. Mas ninguém nasce gay”.
Durante o anúncio de sua indicação, a futura ministra disse ter uma boa relação com o movimento LGBT. “Eu tenho entendido que dá pra gente ter um governo de paz entre o movimento conservador, o movimento LGBT e os demais movimentos”, completando que irá lutar contra a violência à comunidade LGBT.
Caso sobre a Damares e o pé de goiaba
Recentemente, a ministra também deu um depoimento na catedral que frequenta, contando sobre um abuso sexual que sofreu quando tinha 10 anos de idade, ao ser vitima de abuso na própria igreja que seus pais participavam. Damares registrou que após o ocorrido, decidiu se matar por envenenamento, mas que ao subir em um pé de goiaba onde faria o veneno, acabou sendo impedida pela presença de Jesus.
O canal Cadê a Chave montou um vídeo explicando mais sobre esse caso e o que ele nos mostra mais sobre o depoimento da Ministra, somando aos outros fatos já falados.
Acho importante frisar o meu grande ponto nesse post não é falar em si da pessoa Damares Alves e sim no fato da pessoa estar envolvida no meio político. E além disso, ter pesos de suas decisões pelo seu pensamento conservador e religioso – novamente, em um estado laico – em um ministério que está sendo criado agora.
Também não estou pondo em dúvida o lado profissional ou dizendo que o serviço dela seria inteiro negativo. Apenas questionando atitudes que a ministra tomaria baseados em um livro religioso, coisas que a própria Damares já chegou a falar.
O próximo a receber um cargo político seria então o Edir Macedo?
Posso estar simplesmente exagerando ou apenas não gostando do que promete vir por aí, inclusive o que mais torcemos é que a palavra “Progresso” faça algum sentido em nossa bandeira.
Enfim, caso perceba que está indo (mais ainda) ao contrário, pelo menos agora vocês já sabem o nome e a quem cobrar.