Se você é do tipo que não liga para spoilers, ou chegou até aqui porque já terminou as duas temporadas completas da melhor série de humor da atualidade, seja bem vindo!
Se no primeiro post não falamos muito pra não estragar a surpresa, aqui é o lugar (sem trocadilhos) que a gente fala um pouco mais sobre detalhes e acontecimentos da série The Good Place, porém por uma ótica diferente, tentando entender como a ética e a moral nos afetam diretamente e como a série pode nos ajudar a interpretar a vida de uma maneira melhor.
O que me chamou muito a atenção logo no início da série foi como desenrolava essa coisa de lugar bom e lugar ruim e de como nossas preferências são levadas em consideração.
Pensar que se eu morrer eu vou pra um lugar onde teria uma máquina de camarão com molho infinito já me faz querer ser uma pessoa boa, mesmo que às vezes a gente deslize aqui ou lá. Mas a loucura ainda vai além.
Pensar que o lugar ruim tem coisas insuportáveis do tipo filas de banco infinitas, onde sempre que chega sua vez, aparecem 10 preferenciais antes, chegar em supermercados e descobrir que as promoções só valem desconto nos produtos que você não gosta do cheiro ou do sabor, que toda música e vídeo é interrompida por propagandas aleatórias, isso sim me assusta e não porque pode ser que o meu inferno seja assim, mas porque a realidade já é assim.
Entre os amigos que assistem a série já virou piada. Sempre que uma situação muito ruim acontece ou sabemos que vai acontecer, pensamos: VISH, estamos no Good Place – que não é tão good assim.
A diferença é que vivos nós ainda podemos tomar as rédeas de algumas situações e circunstâncias e apesar de ser uma agnóstica, quase crente (no sentido de crença e não de evangélica) que sou eu fico imaginando quanto de fato temos controle do que acontece e quanto disso tudo podemos mudar para tomar outro rumo em nossas vidas.
Outra coisa que a série pega muito são as questões filosóficas e éticas, como a questão do Trolley, que passa na segunda temporada. Você está em um trem, não tem como pará-lo. Você tem dois caminhos: um com 5 trabalhadores, outro com uma única pessoa. Você precisa matar um, ou cinco. Como você faz essa escolha? E se você tem uma pessoa conhecida entre os futuros assassinados? E se a pessoa que tá sozinha na outra linha é sua mãe?
Se colocar no lugar do outro, a famigerada empatia, também é outra situação que ocorre com certa frequência – tanto na série, quanto na vida – como tentamos entender as motivações e paixões de alguém se não sentimos nem vivenciamos o mesmo, por mais que tentemos nos colocar no lugar do outro? E como confiar em pessoas que conhecemos ou não baseados em atitudes passadas e a vontade aparente delas mudarem uma situação ou circunstância?
Sobre empatia
Eu costumo dizer que empatia não é na verdade se colocar no lugar do outro, mas sim saber que você provavelmente nunca estará no mesmo lugar que essa pessoa. Ao fazer esse exercício e analisar de fora o que acontece você consegue entender também como as pessoas reagem a alguém que esteja em uma situação específica, de risco, ou desconfortável.
E como que a gente perde a empatia?
Não deveria, mas do meu ponto de vista a empatia se perde por dois motivos: ou porque a pessoa nunca vai sentir nada de bom ou de carinhoso ou cuidadoso por alguém porque nunca foi tratada dessa maneira por ninguém, ou a segunda opção, que é uma pessoa que teve tudo isso e por um gatilho ou acontecimento simplesmente parou de sentir.
Mas ser egoísta é algo necessariamente ruim?
Depende do ponto de vista. Um egoísta que age de má fé com outras pessoas por conta do egoísmo é uma pessoa ruim. Já o egoísta que não passa por cima de ninguém e não afeta de qualquer maneira que seja a vida de outras pessoas, esse não faz mal à sociedade. É só um caso de alguém que realmente não faz questão de se envolver…
E sobre mentir?
Não vou mentir pra você (eu não consigo parar). Eu minto! Na verdade, omito. Isso porque, testado empiricamente por essa que vos fala da pior maneira possível eu descobri que às vezes é melhor morrer com um segredo a contá-lo para alguém na esperança de fazer o bem. Isso porque a ética e a moral que envolvem você quebrar a confiança de uma pessoa em prol da felicidade de uma outra pessoa podem dar uma confusão das mais terríveis que eu já tive o desprazer de participar.
E você, o que acha disso tudo? De toda essa discussão moral em torno de mentiras e empatia?
Ainda não conhecia essa série e se interessou? Então veja o primeiro post: Por que você deveria assistir The Good Place