Na semana passada, a ONU aprovou uma medida que tira a maconha da lista de drogas perigosas. Obviamente, você deve estar por dentro deste acontecimento histórico e, afim de entender melhor essa decisão, eu gostaria de destacar aqui porque isso não significa a banalização do uso da substância.

A nova recomendação em relação a cannabis feita pela Comissão de Drogas Narcóticas das Nações Unidas abre mais espaço para o uso médico da erva. As discussões em torno da maconha precisam ser urgentemente retomadas ou mesmo iniciadas, tendo em vista que seu poder de cura já foi comprovado no tratamento de dores, podendo inclusive desacelerar o desenvolvimento de células doentes no organismo humano.

A votação

A Comissão de Drogas Narcóticas das Nações Unidas conta com 53 países membros. Com sede em Viena, decidiu por atender à uma recomendação feira em janeiro de 2019, pela ONU. Desse modo, contou com a aprovação de 27 países, dos quais podemos destacar Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha. 25 países se opuseram à medidade, dos quais podemos destacar Brasil, China, Rússia e Japão. Apenas 1 país se absteve de votar. Após a decisão, a cannabis passa a compor a Lista 1 e fica ao lado de entorpecentes como a morfina. Anteriormente, ela era classificada também na Lista 4, reservada às drogas mais perigosas e sob controle estrito, como a heroína, cujo valor medicinal é desconsiderado.

O fato de o nosso país se posicionar contra à medidade não surpreende. O posicionamento é, no entanto, bastante preocupante, pois as perspectivas de abrirmos novas discussões a respeito do poder medicinal da cannabis, se não diminuem, não aumentam em nada.

Muitos estudos ainda estão sendo realizados e, cada vez mais, comprovam a eficácia de óleos à base de CBD no combate a doenças como epilepsia, esclerose múltipla, mal de Alzheimer, mal de Parkinson, ansiedade, dor crônica, fibromialgia, depressão, obesidade, glaucoma, inflamações intestinais, artrite e estresse pós-traumático.

“No Brasil, o Hospital Sírio-Libanês divulgou, em junho de 2019, um estudo, no qual dois pacientes com tumores malignos de difícil controle foram tratados com cannabidiol, além da radioterapia e da quimioterapia padrão. Um mês após o tratamento, um deles apresentou uma ‘remissão completa’ – termo da Medicina para caracterizar quando não há sinais de atividade da doença, apesar de não ser possível identificar como cura. E, o outro teve uma pseudoprogressão, que segundo os pesquisadores mostrava que o tratamento estava funcionando. Os pacientes relataram que o CBD amenizou os sintomas de dor, náusea, vômito e fadiga, possibilitando uma condição clínica favorável e a prática de atividades físicas”.

Evidência do valor medicinal da maconha em pesquisas e doenças

Farmacêutica Luzia Sampaio, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

  • Pesquisa sobre uso do extrato de canabidiol no tratamento de doenças neurológicas
  • Estudos feitos com ratos mantidos em tratamento por duas semanas
  • Resultados:
    • Não há comprometimento no ganho de peso corporal ou no comportamento alimentar de quem usa a substância
    • Não há alteração no nível de aprendizado e perda de memória de curto prazo

Biólogo Agustín Riquelme, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

  • Pesquisa em torno dos efeitos dos canabinóides no sistema nervoso central (paciente de esclerose múltipla)
  • Indícios dos estudos:
    • canabinóides poderão ser usados na cura da doença, na regeneração celular, não apenas como paliativo para dor ou diminuir os sintomas

Alline de Campos, do Departamento de Farmacologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

  • Pesquisa feito em torno do efeito das substâncias da cannabis no tratamento da ansiedade patológica.
  • Indícios dos estudos
    • Para o tratamento de doenças como depressão ou ansiedade, um remédio ansiolítico pode demorar, em média, um mês para fazer efeito.
    • O canabidiol funciona mais rápido e possui menos efeitos adversos que os antidepressivos clássicos.

Pesquisador Ismael Galve-Roperh, da Universidade Complutense de Madri

  • Pesquisa que relaciona canabinóides e neurodesenvolvimento.
  • Cannabis é de complexa farmacologia, provavelmente terá de ser combinada com outros medicamentos, para alcançar os resultados esperados, especialmente no uso para tratar epilepsia e convulsões.

Esquizofrenia

Considerada uma doença mental crônica, com sintomas aparentes de delírios e alucinações, bem como distúrbios de pensamentos, a esquizofrenia também é incluída nos bons resultados, com relação ao uso terapêutico da cannabis. O mesmo estudo realizado em Londres, analisou a vantagem que a terapia possui em provocar menos efeitos colaterais que as drogas antipsicóticas existentes atualmente. O teste foi realizado com 42 pacientes no estado crônico da doença, que fizeram tratamento com o CBD, resultando em menos efeitos colaterais, como aumento de peso, disfunção sexual e até problemas hepáticos, causados pelos medicamentos usuais.

Aids

Embora ainda esteja em fase de descoberta,um estudo, realizado em 2014 pela Universidade do Estado da Louisiana, publicado na revista “AIDS Research and Human Retroviruses”, apontou sobre a possibilidade do uso da maconha para neutralizar o vírus causador da Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida (AIDS), de modo que ele não se multiplique. O delta-9-tetra-hidrocanabinol (THC) é considerado o composto ativo capaz de proteger as células contra os danos causados ​​pelo vírus HIV. A pesquisa foi feita em 17 meses em macacos infectados pelo vírus, que receberam doses diárias de THC. Com a terapia, os cientistas notaram que danos ao tecido do estômagos dos primatas, uma das áreas do corpo mais propícia à propagação do vírus HIV, havia diminuído.

Esclerose Múltipla

Um grande avanço para os pacientes que possuem espasticidade, isto é, têm o tônus muscular aumentado – causado por uma condição neurológica anormal, é o uso medicinal da erva, por meio do composto Sativex. É o primeiro medicamento à base de cannabis permitido no Brasil, e contém uma mistura de THC (delta-9-tetra-hidrocanabinol) e o CBD (canabidiol), extraídos da planta cannabis sativa THC e CDB, que auxilia na terapia de pacientes que se encontram em situação moderada ou grave da doença.

Câncer

O mesmo estudo do instituto revela que a cannabis atua na eliminação de células cancerígenas e no tratamento de efeitos colaterais, causados pela quimioterapia. O levantamento do Nida revelou que algumas substâncias da planta são capazes de reduzir e até combater tumores do cérebro.

Henrique Fogaça prepara omelete de cannabis para a filha especial e rebate preconceito na internetONU retira maconha da lista de drogas mais perigosas Entenda porque isso nao significa a banalizacao do uso da substancia 1

“Minha linda filha está com 14 anos de idade e cada dia que passa esta mais atenta, feliz e tranquila. Sabe por quê? Porque ela proporciona muito amor, ela recebe muito amor, ela é leve. E há 1 ano faz o uso do óleo extraído da maconha – o cannabidiol (CBD). E nos aqui faremos o possível e o impossível dentro da medicina tradicional, da medicina natural e alternativa para que a Olivia e outras crianças possam cada vez mais sentir os prazeres da vida. Se liberte das correntes que aprisionam sua mente, das crenças limitantes e de tudo que a sociedade impôs e manipulou até hoje. Vire essa página a vida vale muito mais do que você pensa”

Isso significa que a maconha foi liberada?

Não. A nova classificação somente tira a maconha de uma lista à qual ela não pertencia, ou seja, a de narcóticos extremamente perigosos, viciantes e danosos à saúde. Para se ter uma ideia, a maconha era tida na mesma classificação da heroína, um opioide utilizado como droga recreativa que possui efeito altamente viciante no ser humano.

Sendo assim, os países membros não estão autorizados a legalizar a maconha. Não pelo menos com esta medida. É vital afirmar que a decisão não impede os países de estabelecerem suas próprias políticas em torno do uso e descriminalização da droga. A cannabis e a resina derivada dela continuam no grupo de substâncias que, segundo a ONU, precisam de algum controle.

A maior conquista dessa decisão reside no fato de, a partir de agora, haver uma abertura maior para estudos científicos que comprovem a capacidade da cannabis produzir vantagens terapêuticas. Ou seja, a planta passa ter sua função medicinal muito mais valorizada, contribuindo ainda mais para milhares de pessoas que dependem de tratamentos à base da erva.

Steve Rolles, analista político da Transform Drug Policy Foundation, afirma que a decisão representa um “erro histórico” feito há 60 anos.

“É o reconhecimento de que (a maconha) tem uso médico. Isso vai facilitar acesso a remédios e pesquisa”. 

ONU retira maconha da lista de drogas perigosas | CNN PRIME TIME

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