“Coringa” chegou neste fim de semana a incrível marca de 1 bilhão de dólares arrecadados na bilheteria mundial. Esse número pode parecer até normal em se tratando de um filme baseado em quadrinhos. Ainda mais por ter como protagonista o maior vilão de super-heróis de todos os tempos.

Porém esse não é um filme comum de quadrinhos. Não é colorido, divertido, cheio de CGI, lotado de cenas de ação e com um alto custo de produção. Trata-se de um longa com cara setentista, inspirado nos filmes da Nova Hollywood de Martin Scorsese, com uma produção relativamente modesta para o gênero (aproximadamente 60 Mi de dólares). É um estudo de personagem, sombrio, autoral e o mais importante: para maiores de idade.

Ou seja, é um dos poucos filmes de quadrinhos em que o estúdio ousou focar no público adulto. E, como “Deadpool” e “Logan”, os espectadores responderam positivamente. Mas “Coringa” conseguiu lucrar ainda mais do que esses dois e se tornou o filme de universo de heróis proporcionalmente mais bem sucedido da história do cinema.

E o sucesso do filme pode ser algo fantástico para o gênero. Em um mercado dominado pela fórmula Marvel, nada melhor do que a possibilidade do diferente. A Marvel achou seu tom há muito tempo: filmes divertidos, com ótimas cenas de ação, bons personagens e com um estilo visual parecido entre todos os filmes. Entretanto, a grande concorrente, a DC, ao tentar emular o mesmo estilo falhou miseravelmente.

Mas parece que finalmente esta percebeu que não é necessário se inspirar na adversária. E aos poucos vai criando uma identidade própria, variando filmes de diferentes estilos, o que culminou em “Coringa”. E o fato desse filme fazer tanto dinheiro reforça as diversas possibilidades que o gênero tem. Pois ninguém aguentaria mais muito tempo apenas com filmes parecidos.

JOKER 2

Saturação do gênero

O gênero de super-heróis não é o primeiro a dominar o mercado por mais de uma década. Entre os anos 30 e 50, o cinema norte-americano viu dois gêneros controlarem a indústria: o faroeste e o musical. E Hollywood os produziu até o momento em que o público se cansou de ver mais do mesmo (há também um contexto político para a mudança).

E, conhecendo a história da indústria, tudo leva a crer que o mesmo vai acontecer com os super-heróis. Por isso, filmes que se arriscam a tentar coisas novas são muito bem-vindos.

Porém, essa lógica vai além apenas do cinema de herói. Os filmes blockbusters como um todo sofrem do mesmo mal. A fórmula marcada por produções grandiosas, com cenas de ação, humor e muito CGI, muitas vezes para esconder a falta de bons roteiros. Nada contra esses filmes, muitos deles são realmente ótimos. Mas, mais uma vez, vemos que os estúdios têm medo de arriscar. Eles preferem apostar em uma fórmula que dá certo do que tentar algo novo por medo de dar errado.

Agora só o tempo dirá se “Coringa” foi capaz de permitir uma ousadia maior por parte dos executivos. Acho que ainda é cedo demais, não vejo uma mudança drástica tão recente. Mas nos resta torcer que esse seja um pontapé inicial para um cinema mais diversificado e, por que não, autoral.