Tem salvação para a tristeza
O Segundo episódio de “I Know This Much Is True” segue o que vinha se desenhando no primeiro, o foco no negativo de seu protagonista, bem marcado por tudo que o cerca. Figurino e cenário se misturam por meio do azul e do verde que predominam. O mesmo vale para a paleta com tons mais frios e o clima sempre chuvoso. Nada disso é por acaso, são todos elementos que constroem uma atmosfera que representa aquilo que o protagonista sente.
Mas tudo isso ganha ainda mais força quando contrastado a pequenos elementos com cores mais quentes e vivas. O escritório da psicóloga cercado por letreiros vermelhos pelo lado de fora, enquanto a luz sépia (sempre usada em filmes de época) domina o espaço interno. Não à toa ela surge na história como a última esperança para salvar um protagonista preso aos traumas do passado e ao “fardo” (ou pelo menos ele vê dessa forma) de cuidar do irmão.
Também não é aleatória a escolha pela roupa roxa da psicóloga (cor geralmente usada no cinema para sugerir vilania e morte), já que Dominick aprendeu a ver essa profissão como uma barreira para a salvação do irmão, ou seja, com um traço forte de vilania. Mas não parece ser o caso dessa vez e essa nova personagem parece mesmo ser a única possibilidade de salvação.
Então, agora fica claro que a série é muito mais sobre Dominick e seu “retorno à vida” do que sobre Thomas. Separados por oito minutos, o protagonista se sente de alguma forma preso ao irmão (representado de forma maravilhosa na cena de abertura do episódio, pois apesar de livre, ele segue à porta do banheiro em que o irmão está preso) e precisa se libertar.
Falta de variação
Entretanto, se a direção dá atenção a todos os simbolismos e a função narrativa a partir de elementos estilísticos, falta ao roteiro de “I Know This Much Is True” variação de tom. Como já dizia Robert McKee e sua “Lei dos Retornos Diminutivos”: “quanto mais nós experimentamos algo, menos efeito isso tem”. Por mais que eu não encare nada no cinema como lei, porque isso impede a arte de seguir evoluindo e se reinventando, o trecho citado representa perfeitamente o porquê da série não surtir o efeito emocional que espera.
Por mais que na vida real vejamos pessoas passando por um sofrimento constante sem cura aparente, na arte é preciso um certo equilíbrio. Então, ao apostar em cenas consecutivas que começam e terminam no negativo para o protagonista, aos poucos começamos a não sentir tanto por seu sofrimento. Ou até pior,vamos perdendo empatia por ele.
Por mais que a série foque na tristeza, no ódio e prisão mental desse homem, cabe ao bom roteirista encontrar momentos de felicidade em sua vida, ainda que esses partam de pequenos gestos. Só assim a série conseguirá causar o impacto emocional que deseja.
Leia também: [Review] I Know This Much Is True – Episódio 1
Crítica em vídeo:
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre a série em meu canal, o 16mm.
Assista ao Trailer da Série:
Ficha Técnica:
Título original: I Know This Much Is True
Data de lançamento: 10 de maio de 2020
Direção e Roteiro: Derek Cianfrance
Elenco: Mark Ruffalo, Melissa Leo, Kathryn Hahn mais
Gêneros: Ficção científica, futuro distópico
Nacionalidade: EUA