“Judas e o Messias Negro” acompanha Bill O’Neal (Lakeith Stanfield), um infiltrado do FBI nos Panteras Negras de Chicago, com o objetivo de passar informação sobre a organização, a fim de destruí-la, começando pelo líder Fred Hampton (Daniel Kaluuya).
O filme está nos cinemas.
Uma zona de guerra
“Judas e o Messias Negro” é uma aula de como contar uma história baseada em fatos reais nos cinemas. Em um subgênero dramático dominado por “filmes Wikipédia”, preocupados apenas em servir como relatos de acontecimentos históricos mais importantes, Shaka King rejeita essa zona de conforto em prol de uma articulação narrativa que funcione primeiro dentro de si, para depois se relacionar com eventos reais.
Assim, o cineasta constrói uma verdadeira zona de guerra, uma ambientação desconfortável que pode explodir em conflito a qualquer instante, casando bem o clima com a ideia central de revolução. A paleta verde amarronzada, a câmera em constante movimento, vez ou outra apostando em enquadramentos bem fechados e uma trilha sonora quase sempre presente com batidas firmes, fazem com que o longa apresente aquela história sobre uma ótica inóspita e desconvidativa.
E isso cresce ainda mais quando a observamos pelo ponto de vista do complexo protagonista vilão, o traidor Wild Bill, retratado de forma brilhante pelo sempre ótimo Stanfield, que vive o personagem com uma constante paranoia, apreensão e conflito interno. Quanto mais o longa avança, mais o personagem se sente parte de uma organização que ele sabe que está traindo. Em contraponto, o também excelente Kaluuya traz uma segurança e um poder de persuasão para Frad Hampton. Com um olhar penetrante e uma fala poderosa, mas pausada, ele é capaz de conquistar todos a sua volta em prol de uma causa comum.
Só que a inteligente direção de King faz com que a gente sempre acredite na redenção de Bill, algo fundamental para que a tensão vivida pelo personagem, sempre arriscando a própria pele, seja sentida também pelo público. Só por isso cenas como a da ligação direta funcionam perfeitamente, deixando-nos apreensivo sobre a possibilidade ou não do personagem se safar após contar uma mentira. A risada nervosa dele ao conseguir ligar o carro é a mesma que a gente sente, uma mistura de medo e alívio.
Só que o filme sabe também os momentos de desacelerar e mostrar a outra faceta de Hampton. É aí que entra a personagem de Dominique Fishback, não só para revelar um lado mais sensível e tímido do personagem, mas também como uma forma de trazer uma outra visão para a luta dos Panteras Negras.
Então, em meio a duas horas sufocantes, “Judas e o Messias Negro” nos transporta para uma Chicago dos anos 1960 e 1970 prestes a explodir. É uma pena que a péssima escolha da Warner de posicionar o filme para fevereiro mine as chances do melhor filme da temporada de ter sucesso no Oscar. É possível que o longa seja indicado apenas a Ator Coadjuvante, o que seria uma enorme derrota para um excelente filme em um ano tão mediano da premiação.
Nota: 10.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Judas and the Black Messiah
Data de lançamento: 25 de fevereiro de 2021
Direção: Shaka King
Elenco: Lakeith Stanfield, Daniel Kaluuya, Dominique Fishback
Gêneros: Drama, Baseado em fatos reais
Nacionalidade: EUA