“Raya e o Último Dragão” acompanha a princesa Raya, que tenta unir os cinco reinos de Kumandra novamente após uma força maligna devastar a nação e torná-la em uma terra quase inabitável.
O filme está para aluguel no Disney+.
Uma excelente protagonista
Em 1998, “Mulan” foi lançado e marcou uma leve ruptura com a figura clássica da “princesa Disney”. Disposta a abandonar sua posição confortável para guerrear no front pelo seu país, ela surgiu como a primeira princesa independente e ativa das animações do estúdio. Entretanto, foram quase 20 anos até que presenciássemos personagens parecidas, primeiro em menor escala com a ótima coadjuvante Venélope (“Detona Ralph”) e em 2017 com os filmes “Moana” e “Zootopia” (ainda que este não apresente uma princesa propriamente dita). Espontaneamente ou forçada pelo público e pelas mudanças na sociedade (acredito que seja mais o segundo), a Disney conseguiu renovar algumas temáticas ultrapassadas, como a busca pelo príncipe encantado como única motivação, e isso permitiu a chegada do recente e ótimo “Raya e o Último Dragão”.
Raya já surge como uma das melhores princesas do estúdio. Independente e obstinada a unir seu povo, além de lutar pela vida de seu pai “aprisionado”, ela embarca em uma jornada fantástica e traz o público consigo desde os primeiros minutos. Sua perda inicial já nos aproxima imediatamente dela, mas é sua força, inteligência, integridade e carisma que nos mantém ao seu lado por quase duas horas. E aqui eu não poderia deixar de falar do excepcional trabalho técnico, tanto de construção de mundo, alternando diferentes civilizações e visuais com a aridez de um futuro pós apocalíptico, quanto no trabalho para com os personagens, todos expressivos e cheios de detalhes (um bom exemplo é a perfeição da luz e da textura e movimentação do cabelo da protagonista).
É bem verdade que o longa não tenta em nenhum momento romper com a estrutura pré-determinada das animações da Disney (talvez a única mudança seja a ausência de canções). Com isso, a história se torna bastante previsível desde os minutos iniciais, assim como parte dos personagens coadjuvantes que servem como os ajudantes divertidos e trazem leveza a jornada dramática da garota. Entretanto, consciente do lugar comum, o roteiro inteligentemente subverte muitas das expectativas, tanto com o dragão, que troca imponência por inocência e bondade, e ganha vida com o belo trabalho de voz de Awkwafina, o que molda a personagem, e com a grande vilã, distante de todos os clichês de vilania do estúdio e bem desenvolvida com ideias próprias e uma luta justa, servindo para engrandecer ainda mais os conflitos da protagonista.
Porém, além da narrativa, dos personagens e do visual, “Raya e o Último Dragão” é carregado por uma bela temática de união, buscando a todo instante uma conversa muito interessante com os dias atuais. Cada povo ou elemento na trama pode ser identificado no nosso mundo real e ganha ainda mais sentido ao compararmos o universo do filme com a devastação causada pela pandemia e como os diferentes países agem em relação a isso. É bem verdade que a animação não vai mudar a cabeça de muita gente e a proposta dela nem é essa, mas não deixa de ser tocante como o longa propõe uma união entre os diferentes e uma luta constante contra o ódio que passa de geração para geração.
Dessa forma, a animação não tenta reinventar a forma clássica hollywodiana do gênero, mas o visual deslumbrante e a bela construção de mundo são o cenário perfeito para colocar uma protagonista forte em uma jornada interessante e atual. É o tipo de filme que a Disney deveria investir, ao invés de apostar em sequências genéricas e vazias.
Nota: 8.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Raya and the Last Dragon
Data de lançamento: 5 de março de 2021
Direção: Carlos López Estrada, Don Hall
Elenco: Kelly Marie Tran, Awkwafina, Gemma Chen
Gêneros: Animação, Comédia
Nacionalidade: EUA