“Radioactive” conta a história real da cientista mais importante de todos os tempos, Marie Curie, vencedora de dois prêmios Nobel.
O filme está disponível no catálogo da Netflix.
Personagem importante, história protocolar
Uma boa história real não faz um bom filme. Uma história importante não faz um bom filme. Essas são frases que eu faço questão de repetir a cada crítica de uma cinebiografia. Trata-se de um gênero que nove em cada 10 filmes adotam uma estrutura genérica, quase sempre em contar sem nenhum aprofundamento um grande período da vida da pessoal real retratada. Geralmente isso cria vários saltos temporais, destrói a noção de causa e consequência, acelera passagens que precisavam de mais tempo, foca apenas no ator ou atriz principal e, o mais importante, não consegue estabelecer um foco. Todos esses problemas estão presentes em “Radioactive”.
Aqui temos 40 anos da vida da cientista contada em 1h50. É óbvio que não seria possível dar atenção aos detalhes. Com isso, vemos rapidamente sua descoberta, a relação com seu marido Pierre Curie, o nascimento das duas filhas, as consequências da descoberta, a forma como ela era tratada por ser a única cientista mulher, o íntimo da personagem, entre muitas outras coisas. O que já era de se esperar de um filme que tenta abraçar o mundo, temos uma narrativa totalmente apressada que não faz ideia de qual é o foco da história.
Certamente a intenção é dar atenção para a descoberta da radiação e o que isso gerou. O problema é que tal experimento é feito com tanta pressa, por meio de uma montagem acelerada que transforma cinco anos em cinco minutos, que fica difícil sentir o impacto da descoberta, já que nem o filme parece dar tanta importância para ela. Com isso, nos resta presenciar apenas todos os eventos da vida de Curie que o roteiro achou importante retratar. Algo que poderia ser resolvido com 10 minutos de leitura da página do Wikipédia da cientista.
Entretanto, não é só o roteiro que parece tomar o caminho mais fácil e já explorado. A direção de Marjane Satrapi (Persépolis) faz todas as escolhas mais previsíveis que poderíamos esperar de uma cinebiografia de época. O foco total em apenas uma personagem, a fotografia esfumaçada e com pouca profundidade de campo, a decupagem protocolar, o melodrama que domina a segunda metade do longa. Não há qualquer inspiração aqui ou uma busca pela linguagem mais refinada e original. Só nos sobra o comum, o medíocre.
Com isso, o único elemento fílmico que merece destaque é a atuação da excelente Rosamund Pike, mostrando mais uma vez versatilidade e dando vida a uma Marie genial, obstinada e reservada em seu sofrimento, uma pessoa que não deixa ninguém ser um obstáculo para a sua descoberta. É uma pena que Rosamund tenha escolhido projetos tão genéricos nos últimos anos, muito abaixo de seu talento.
Nota: 4.0
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Radioactive
Data de lançamento: 15 de abril de 2021
Direção: Marjane Satrapi
Elenco: Rosamund Pike, Anya Taylor-Joy
Gêneros: Biografia
Nacionalidade: Reino Unido