“Tempo” acompanha três famílias de férias em uma praia. O local revela ter alguma força oculta e os personagens percebem que ali o tempo passa muito mais rápido do que o normal.
O filme está nos cinemas.
Mais um filme igual?
M. Night Shyamalan é, sem dúvida, um diretor talentoso e intrigante, mas a qualidade de sua filmografia está longe de ser uma unanimidade. Gênio para alguns e autoindulgente para outros, o diretor sempre constrói os seus filmes com o suspense na camada mais evidente, enquanto, na verdade, fala sobre aceitar o fantástico em seu íntimo. Se “Corpo Fechado” e “Sexto Sentido” (seus dois melhores trabalhos) falavam sobre isso em uma lógica mais individual, a partir de “Sinais” a fantasia passa a se comunicar mais com um grupo de pessoas, o que vai ocorrer também em “Tempo”. Três famílias vão ser confrontadas com uma situação anormal e o verdadeiro mistério está na forma como eles vão lidar com esses elementos estranhos.
Porém, por mais que o diretor demonstre mais uma vez sua capacidade estética, ao manter ações na sugestão ou trazer grandes eventos do longa fora do campo de visão do espectador, assim como sua habilidade de mostrar a força do grupo e da situação por meio de planos mais fechados e longos que se deslocam por todos os presentes naquela praia, além de a premissa por si só ser intrigante e capaz de gerar longos debates, “Tempo” sofre pelo excesso de repetição dentro da filmografia do diretor. Ao se sustentar mais uma vez pela mesma temática, o longa clama por escolhas narrativas que o diferencie dos seus anteriores.
Só que isso simplesmente não acontece. Pelo contrário, ao se manter preso aos seus vícios de sempre, Shyamalan parece regredir na sua habilidade de contar uma história e, principalmente, ao expô-la cinematograficamente ao espectador. Ele faz do longa sua própria prisão, e desenvolve a narrativa com base na repetição, quase como se o diretor tivesse reconhecendo a semelhança entre todos os seus filmes ao longo da carreira. Vemos os personagens reunidos em uma parte da praia, para imediatamente ocorrer algo grave (muitas vezes uma morte) com outro personagem em um lugar distinto daquele espaço. Ali o grupo presencia uma situação e começam a expor o que entenderam sobre a mística da praia, o que o diretor já tinha feito visualmente, mas faz questão de repetir verbalmente como se desconfiando da capacidade do público de entender o óbvio. O texto frágil reflete imediatamente nas atuações, que, apesar do bom elenco, sofrem pela falta de desenvolvimento e principalmente pela artificialidade dos diálogos propostos.
Mas certamente essa possibilidade de criticar a si mesmo passou longe da mente de Shyamalan. Mais uma vez, fica claro que ele acredita estar fazendo uma obra digna de gênio. Os diálogos ultra expositivos ou exageradamente dramáticos são ditos com uma pseudo profundidade. Mais uma vez o plot twist característico surge muito mais como uma auto obrigação do que por alguma necessidade de explicação, sendo talvez a pior reviravolta da carreira do diretor (e olha que são muitas as ruins). E o pior de tudo, Shyamalan extrapola sua obsessão por ser o novo Hitchcock. Se não bastasse uma cena inteira filmada exatamente igual a do chuveiro de “Psicose” e seu cameo característico, aqui o diretor amplia o seu personagem e tenta criar uma metalinguagem ao transformá-lo em alguém que comanda as câmeras e que deixa sem resposta o menino que pergunta qual é a sua profissão. Talvez seja o auge da auto importância do diretor.
Então, mais uma vez Shyamalan esvazia as boas ideias do roteiro e suas escolhas mais interessantes por causa das amarras que criou para si mesmo há um bom tempo. É quase como se o diretor jogasse uma armadilha para ele mesmo cair.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Old
Data de lançamento: 30 de julho de 2021
Direção: M. Night Shyamalan
Elenco: Alex Wolff, Thomasin Mackensie, Gael García Bernal
Gêneros: Suspense, Fantasia
Nacionalidade: EUA