“O Esquadrão Suicida” acompanha a nova formação do grupo de vilões e anti-heróis da DC. Eles terão de destruir um projeto científico secreto e mortal em uma ilha na América do Sul.
O filme está nos cinemas e entrará no catálogo da HBO Max em 35 dias.
Violência como diversão
A premissa e até desenvolvimento super batidos de “O Esquadrão Suicida” só revelam que James Gunn pouco se importa com a história contada. O foco do longa está justamente em seus subtextos e subversões. A obra trabalha com a ambiguidade de questões sociais e como elas são trazida ao cinema. Dentre elas, a violência é a de maior destaque. O discurso conflituoso também está na relação entre o longa e os gêneros por ele ironizado.
A começar que não é a primeira vez em que o cinema trata a violência de maneira ambígua, criticando a banalização dela em nossa sociedade ao mesmo tempo em que a utiliza como entretenimento. Entretanto, poucos filmes vão tão a fundo no tema da morte como entretenimento puro quanto esse novo Esquadrão Suicida. Aqui, adivinhar quem vai morrer e torcer por essas mortes vira o grande jogo de divertimento para o público, chegando ao ponto de, antes da estreia, Gunn entrar na brincadeira nas redes sociais e fortalecer essas apostas entre os fãs. Isso ainda pode ser visto como metalinguagem dentro do próprio filme, com personagens secundários fazendo o mesmo tipo de aposta, ao melhor estilo “O Segredo da Cabana”.
E já que a morte é o grande tema de “O Esquadrão Suicida”, vale ressaltar a necessidade da liberdade que Gunn tinha de ter para o filme funcionar. Pois seria um grande tiro no pé abordar a violência tematicamente, mas não levá-la visualmente à tela. Por isso, essa abordagem mais explícita e nada higiênica expande ainda mais essa sede do público pela morte. Não basta uma pessoa morrer, a gente quer vê-la sendo estraçalhada, com sangue voando para todos os lados e daremos risada disso. E nem sequer percebemos que isso é um discurso político, de como a morte e a violência estão tão presentes em nossas vidas que nada mais nos choca, pelo contrário, isso nos diverte.
Só que o diretor é inteligente o suficiente para pegar esse trema central e expandi-lo para outras relações ambíguas que ele deseja criar. O sangue jorrando na tela se torna mais um comentário quando entendemos que o gênero de super-herói tem dominância dessa abordagem mais higiênica. Ao mesmo tempo que os filmes (da Marvel, principalmente) querem se parecer profundamente dramáticos e até sombrios, debater temas sociais e coisas do tipo, no fundo eles são amarrados pelo mercado e precisam respeitar uma classificação indicativa para toda a família, rejeitando a violência e não abordando nenhuma questão da sociedade além da página dois.
O longa não deixa de conter em si mesmo uma relação ambígua. Ao mesmo tempo que ele satiriza em grande parte essa pseudo profundidade dos filmes de herói, transformando tudo em piada, ou até mesmo brincando com a hiperexposição que os filmes do gênero têm, no terceiro ato, ele vai ter que se aceitar parcialmente como um longa meio genérico de herói para resolver a sua história, ainda que encontre espaço para fazer algumas piadinhas com filmes de monstro gigante e com a dramaticidade extrema dos duelos de faroeste.
Como um filme cheio de dubiedade, haverá um conflito intencional na própria proposta de criticar a política intervencionista dos Estados Unidos. O filme verbaliza que o país se diz pela liberdade, mas não é contra ditaduras que o favoreça. Mostra experiências destrutivas do governo em outros países de terceiro mundo, além da manipulação de mentes por meio de discursos nacionalistas, representado pela estrela do mar. Só que, ao mesmo tempo em que critica há toda essa exploração dos Estados Unidos a outros países, o longa inventa uma ilha menor na América do Sul, com personagens que falam todos os tipos diferentes de espanhol, até mesmo usando a brasileira Alice Braga para se passar por uma local, mostrando como esse tipo de problema nunca foi nem sequer entendido pelo público americano, que vê todos os não-estadunidenses como se fossem a mesma coisa.
No fim, “O Esquadrão Suicida” é tudo aquilo que faltou para o seu predecessor. James Gunn traz o que melhor sabe fazer, uma aventura despretensiosa com foco na diversão escapista e nas piadas sem filtro, mas aqui consegue ainda trazer uma segunda camada mais ambígua que acrescenta a todo o longa.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The Suicide Squad 2
Data de lançamento: 6 de agosto de 2021
Direção: James Gunn
Elenco: Idris Elba, Margot Robbie, Viola Davis, John Cena, Sylvester Stallone, Alice Braga
Gêneros: Ação, Super-Herói
Nacionalidade: EUA