“007 – Sem Tempo Para Morrer” segue os eventos do filme anterior e acompanha James Bond de volta ao MI6 para investigar a Spectre e um vilão do passado de Madeleine.
O filme está disponível nos cinemas.
O peso do passado
Se “007 – Operação Skyfall” busca um equilíbrio entre os elementos da franquia ao confrontar o velho e o novo, “007 – Sem Tempo Para Morrer” enxerga o passado como uma assombração para um possível futuro de tranquilidade.
Dessa forma, mais do que o plano do vilão ou uma grande missão a ser cumprida, o filme está preocupado pela busca de James Bond e Madeleine Swann por um futuro longe daquele mundo de violência, espionagem e conspirações globais. O protagonista passa o filme inteiro tentando fugir de sua antiga vida, mas para isso é obrigado a cumprir uma última missão antes de se ver livre.
Mais uma vez o passado adquire um peso, mas se em “Skyfall” ele era muitas vezes visto com uma certa nostalgia, em “Sem Tempo para Morrer” é um tormento. O vilão vem do passado de Madeline para cobrar as contas de sua infância e impedir que ela mude de vida.
É bem verdade que em certa medida o longa continua conservando elementos mais clássicos da franquia (grandes sequências catárticas de ação, vilão megalomaníaco como ameaça global), mas esses surgem mais como uma certa imutabilidade daquele universo do que como o foco dramático. Isso porque “Sem Tempo Para Morrer” é muito mais um filme sobre a pessoa Bond do que sobre sua persona 007.
Da mesma forma, apesar de necessários, figuras do passado como Bond, Mallory e Felix Leiter parecem meio sem energia para continuar naquele jogo. Enquanto Nomi, Q, Moneypenny e Paloma (sob a pele de Ana de Armas, que pouco participa, mas tem um das melhores sequências de ação do longa) apresentam um vigor obstinado, enxergam um futuro onde Bond só vê o passado em que não teve muitas escolhas. É uma visão muito mais pessimista sobre sua vida do que nostálgica.
Todo esse jogo entre o passado como um peso que não deixa as figuras centrais avançarem para um futuro diferente só não funciona ainda melhor porque Rami Malek se mostra mais uma vez um ator incapaz de se desgrudar dos mesmos vícios de atuação (a fala pausada, o olhar de psicopata) que emprega em todos os seus personagens, por mais diferentes que eles sejam.
Mas, apesar dele, Cary Fukunaga consegue conduzir bem um filme que mantém uma linha dramática, enquanto sabe se reinventar constantemente, tanto entre seus atos, quanto dentro das próprias sequências. Com isso, vemos excelentes e longas sequências de ação que funcionam justamente por saberem se diversificar, mudar constantemente as linhas de ação (começa em uma luta corpo a corpo, depois muda de espaço para um tiroteio e, posteriormente, uma perseguição de carro ou helicóptero).
Assim, a câmera de Fukunaga evita cortes, nos situa bem na ação, mas nunca parece se repetir entre uma longa sequência e outra. Compare por exemplo a grandiosa e explosiva sequência ao luz do sol na Itália com a escura e cadenciada cena da floresta. Ou mesmo os túneis escuros e as escadas do ato final. O diretor traz aqui algumas das melhores cenas de ação de toda a franquia e conduz um ritmo energético durante quase 3h que nunca cansa o espectador e ainda ressalta as pausas para desenvolvimento dramático.
Além disso, vale destacar como Fukunaga aposta muito mais em elementos expressivos que ressaltem o drama, como o flare e principalmente o primeiro plano, pouco usado em toda franquia, já que a grandiosidade de 007 sempre se entregou aos planos mais abertos.
Dessa forma, “Sem Tempo Para Morrer” é o filme mais sentimental entre todos os 25 e serve como uma bela despedida para o Bond mais humano da franquia. Tudo isso, claro, sem deixar de lado as grandes sequências de ação e os demais elementos de um filme de 007. Quem é fã e tem coração provavelmente derrubará algumas lágrimas ao final da Era Craig.
Nota:
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: No Time To Die
Data de lançamento: 30 de setembro de 2021
Direção: Cary Fukunaga
Elenco: Daniel Craig, Léa Seydoux, Rami Malek, Ralph Fiennes, Ana de Armas, Naomi Harris
Gêneros: Ação
Nacionalidade: EUA/Reino Unido