“Amarelo – É Tudo Pra Ontem” é um documentário sobre o novo álbum do Emicida. Além do seu show, o cantor faz uma análise histórica do racismo no Brasil e o papel dos negros na evolução da nossa sociedade.

O filme está disponível na Netflix.

O Brasil que não é visto

“Amarelo – É Tudo Pra Ontem” se mostra uma obra madura e necessária desde sua proposta. Seguindo o seu álbum de mesmo nome, Emicida divide o documentário em dois momentos principais: a apresentação no Teatro Municipal de São Paulo e uma análise histórica sobre o legado dos negros tanto para música quanto para sociedade paulistana e brasileira. Ao mesmo tempo, ambos os temas se relacionam pelo valor simbólico que é o músico apresentar para um público majoritariamente negro em um dos símbolos da cidade, mas que esteve sempre dominado apenas por pessoas brancas e de elite.

Mas o que mais me impressiona é o tom adotado pelo artista e pelo diretor estreante Fred Ouro Preto. Longe de ser confrontador e divisivo, “Amarelo” retrata um problema histórico de ontem que permanece até hoje e não deveria estar presente amanhã, mas a lucidez do texto permite que o documentário veja a questão com muita sobriedade e tenta torná-la acessível para aqueles que nunca pensaram no tema ou que enxergam a questão racial de maneira superficial e preconceituosa.

Ao usar a música como expressão cultural e demonstrar como aquilo sempre esteve presente na sociedade, Emicida consegue mostrar a importância dos negros para a formação da nossa sociedade, mas também porque eles foram marginalizados décadas atrás por políticas de embranquecimento e exportação de trabalhadores europeus. Nada do que enfrentamos hoje começou hoje e se não olharmos para o ontem, não poderemos melhorar o amanhã. Por isso, a nova obra da Netflix não é para se confrontar e sim para escutar a visão madura de quem conhece essa realidade como ninguém.

Critica Amarelo E Tudo Pra Ontem Netflix 2

Em determinado momento do documentário, Emicida narra a seguinte frase “cada vez que pego uma caneta ou um microfone, minha missão é devolver a alma para cada um dos meus irmãos”. Se ele faz isso perfeitamente na obra ao mostrar com os problemas do presente vieram do passado e como o racismo permanece em nossa sociedade, o mesmo pode ser dito sobre a celebração e homenagem feita àqueles que foram sendo esquecidos com o tempo.

Lélia Gonzalez, Abdias Nascimento, Ruth de Souza, Wilson das Neves e Tebas são apenas alguns dos nomes relembrado pelo cantor. Esses nomes marcaram a nossa história, mas não tiveram a oportunidade de serem lembrados por todos. Isso começa a ser mudado ao serem homenageados pelo autor dessa obra, que reconhece que só chegou onde chegou por causa desses e de outros nomes. A música brasileira só chegou onde chegou por causa deles. Nós todos só chegamos aqui por causa deles, mesmo sem sabermos disso.

Assim, Emicida nos ensina, com calma, nos mostra a história, o legado da música, a posição do negro na história e na sociedade. Como o passado ensina o presente. Agora só nos resta querer escutar e entender para todos sermos iguais, temos que ter oportunidades iguais e sermos tratados iguais perante o olho da sociedade.

Nota: 9.5

Assista ao trailer:

Ficha Técnica:

Título original: Amarelo – É Tudo Pra Ontem
Data de lançamento: 08 de dezembro de 2020
Direção: Fred Ouro Preto
Gêneros: Documentário
Nacionalidade: Brasil