“O Último Duelo” segue os eventos reais do último duelo na França, entre o cavaleiro Jean De Carrouges e o escudeiro Jacques Le Gris, após o segundo estuprar Marguerite, a esposa de Jean.
O filme está disponível nos cinemas.
O passado para entender o presente
“O Último Duelo” desconstrói o épico medieval para contar uma história do passado que em muito se relaciona com o nosso mundo atual.
Responsável por algumas das maiores obras que o cinema já viu, Ridley Scott, aos 83 anos de idade e após uma fase não tão boa, volta a demonstrar a segurança que o colocou no patamar dos grandes diretores. O cineasta retorna aos tempos dos cavaleiros e batalhas medievais, mas não com a intenção de criar algo épico ou grandioso, e, sim, com o interesse de contar uma história mais íntima, mas não menos impactante.
Com isso, ele rapidamente corta todas as batalhas que iniciam para estas já terminadas e usa planos mais abertos apenas para diminuir alguns personagens no espaço, principalmente Jean de Carrouges. A preferência aqui é por lugares mais fechados e escuros, por planos conjuntos ou primeiro planos. Scott quer nos aproximar daquela história que veremos por diversos pontos de vistas e retratá-la com intimidade, mas “às escondidas”.
Isso fica claro até na forma como ele ilumina as cenas, quase sempre não permitindo que vejamos com clareza os rostos dos personagens, reforçando o caráter dúbio de alguns e a nebulosidade do caso. A partir disso, ele vai criar um forte jogo de sugestão, não só pelos enquadramentos e iluminação, mas principalmente pelas escolhas narrativas e atuações.
Ao se utilizar do “efeito Rashomon” e contar essa história três vezes sob diferentes pontos de vistas, Scott força também seus atores a encarnarem diferentes personagens ao mesmo tempo que são as mesmas pessoas. O foco está nas pequenas mudanças, um enquadramento diferente, um olhar sugestivo, um gesto ou uma fala que aparece de forma diferente. Dessa forma, o cineasta nos insere naquele mundo e nos envolve nesse estudo de caso, cabe ao espectador interpretar sinais e tentar identificar o que parece verdadeiro ou não.
Por sorte, o ótimo elenco nos ajuda nessa missão, com cada um conseguindo criar três atuações distintas em cada uma das versões da mesma história. Compare, por exemplo, Adam Driver na primeira versão, como um cara frio e perverso, com a segunda, em que ainda comete maldades, mas ou não as percebe ou demonstra algum ressentimento. O mesmo vale para do Jodie Comer, que faz a real protagonista do filme. Se é inicialmente deixada de lado e fica restrita a poucos diálogos e reações, sua atuação cresce na hora certa, quando ela começa a contar sua história, a versão que mais conversa com os dias atuais e parece a mais plausível das três.
Porém, se Scott não esconde o discurso do longa, ele também nunca rejeita uma certa fidelidade histórica. Marguerite é ouvida, mas é difamada por isso e o julgamento só ocorre porque seu marido se sentiu prejudicado. O duelo é filmado com pouca estilização e muita brutalidade, com o barulho de metal se chocando contra metal reforçando a angústia de não saber o resultado. Deus é usado como desculpa para definir o destino daqueles personagens. Nem sequer o lado mais burocrático da idade média é deixado de lado.
Dessa forma, Ridley Scott se reencontra com os bons filmes ao subverter as expectativas do épico medieval, em um ano que teremos mais um aguardado filme do diretor: “Casa Gucci”.
Nota:
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Ficha Técnica:
Título original: The Last Duel
Data de lançamento: 14 de outubro de 2021
Direção: Ridley Scott
Elenco: Matt Damon, Adam Driver, Jodie Comer, Ben Affleck
Gêneros: Épico, Drama
Nacionalidade: EUA