“Doutor Sono” segue os eventos do primeiro filme. No entanto, agora, Danny Torrance, atormentado pelo passado, terá que ajudar uma jovem. Uma seita irá caçá-los.
Quebrando clichês
“Doutor Sono” é um dos raros projetos de terror mainstream disposto a imprimir uma visão autoral de seu criador, independente se isso agradará ou não ao grande público. Mas se essa escolha já é louvável em um tempo em que os estúdios só visam o lucro, o filme consegue ir muito além disso.
Mike Flanagan (A Maldição da Residência Hill) mostra mais uma vez porque é um dos melhores diretores do gênero na atualidade. Ele imprime sua visão e estética, com foco em uma paleta mais fria e brincando muito com a mente humana. Esse é um daqueles filmes em que a atmosfera de sonho, loucura e realidade se misturam muito bem. Mas o que mais me chama atenção é a forma como ele desconstrói o espaço físico em prol dessa noção.
Todas as escolhas da direção são precisas para moldar a estética que ajudará na construção da narrativa. E o diretor e roteirista não tem pressa alguma, ao desenvolver uma narrativa cadenciada, com foco na atmosfera e no terror gradual. Muito disso vai passar também pela atenção que ele dá para a construção dramática e o desenvolvimento de seus personagens. É quase como se o público fosse convidado a adentrar a vida dos protagonistas e antagonistas durante a primeira hora de filme. Dessa forma, conhecemos minuciosamente cada um e entendemos suas motivações.
Nostalgia na medida
O longa faz a escolha de recriar cenas de “O Iluminado” com atores parecidos e mostrar outras que se passam logo após os eventos do primeiro filme. Tal escolha pode causar um estranhamento muito grande em muita gente e pode ser visto por boa parte do público como fan service gratuito. Porém, acredito que a escolha funciona como uma forma de interligar os dois filmes (e mostrar que este se baseia no filme de Stanley Kubrick e não no livro de Stephen King). Além disso, é essencial para a construção dramática do Danny (Ewan McGregor).
Ademais, diferente do longa original, que focava na loucura de um homem graças ao isolamento em um local maligno, “Doutor Sono” foca muito mais na questão mágica do universo. E vai a fundo em tudo envolvendo os “iluminados”, sem medo de em alguns momentos cair mais para a magia do que para o terror. É bem verdade que o filme não é tão aterrorizante quanto seu predecessor, longe disso. Por isso, aceitar também o drama e a fantasia fazem bem ao longa.
Entretanto, Flanagan consegue combinar bem a novidade do universo, mas sem esquecer que se trata de uma sequência. Dessa forma, a estrutura, o ritmo e a atmosfera aqui se parecem com o original. E claro, o foco fica também para um clímax grandioso e subversivo. Isso porque o filme não tem medo algum de reinventar suas próprias regras a todo instante.
Nota: 8.5
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Doctor Sleep (Doutor Sono)
Data de lançamento: 07 de novembro de 2019 (1h 57min)
Direção: Mike Flanagan
Elenco: Ewan McGregor, Rebecca Ferguson, Cliff Curtis mais
Gêneros: Terror, drama, fantasia
Nacionalidade: EUA