No episódio visualmente mais bem dirigido da série, o roteiro troca as dúvidas por respostas. Watchmen vinha conquistando muita gente em seus primeiros capítulos por causa dos momentos “O que está acontecendo?”. Isso fez com que o público começasse a criar uma série de teorias. E uma delas foi confirmada no episódio 6.
Porém, diferente do que acontece em grande parte das séries, em que a confirmação de teorias soa como fan service, a concretização do Will como Justiça Encapuzada é perfeita. Não só pelo que já havia sido apresentado previamente, mas também pelo que é criado dentro deste episódio em específico.
A ideia dos vigilantes surge a partir de uma lógica muito mais cruel. O Justiça Encapuzada nada mais é do que a única forma de um negro tentar encontrar algum tipo de justiça. Ainda que esse não possa aparecer como ele realmente é.
Dessa forma, o episódio nos apresenta um mundo bastante diferente do que o que tínhamos visto anteriormente. O racismo velado é trocado pelo preconceito racial explícito. Enquanto isso, vemos uma Klu Klux Klan diferente da de 1921 ou da Kavalaria de 2019. Aqui ela articula tudo nas sombras.
Então, é possível traçar um paralelo forte entre o episódio e o 2019 da série. Um bom exemplo é a diferença entre a forma que Will/Justiça pinta o rosto e a Angela/Night faz o mesmo. Will era obrigado a se pintar de branco para esconder suas origens. Já Angela usa o preto para reforçar ainda mais sua identidade.
O único problema para muitos pode ser a escolha em focar um episódio inteiro em memórias. Portanto ignorando praticamente a trama atual e o cliffhanger deixado no final do episódio anterior.
Tecnicamente impecável
Entretanto, o que mais chama atenção é a direção e a montagem. A começar pela escolha ousada de usar o preto e branco por quase todo o episódio, algo pouco popular atualmente. E não teria como fazer mais sentido, o preto e branco vem a calhar para contar uma história onde a divisão entre negros e brancos era ainda mais forte.
Além disso, a direção não poupa planos longos e tem o poder de desconstruir e reinventar o cenário, enquanto a montagem inventivamente traz dinamismo ao tentar sempre conectar uma cena à seguinte, seja por meio de match cuts ou pela união de espaços distintos no mesmo plano.
Tudo isso é fundamental como uma forma de trazer continuidade para as ações. É como se a Angela tivesse vendo as lembranças do Will tudo de uma vez, quase como se fosse um sonho.
E justamente por escolher a diminuição de cortes, o episódio traz as melhores cenas de ação da série. A construção dramática delas é boa, a gente sabe tudo que o personagem tem a perder fazendo o que ele está fazendo. E tudo é filmado de forma mais real, sem idealização, sem exageros. A gente sente cada pancada que o Justiça aplica e recebe.
E o uso do capuz permitiu a utilização de dublês, o que ajuda na coreografia das cenas e faz com que tudo seja filmado em menos takes. Além de mais real, é inegavelmente mais estiloso.
Nota: 9.0
Crítica em vídeo:
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o episódio em meu canal, o 16mm.