Ray Garrison é um soldado recentemente morto em combate e ressuscitado como o super-humano Bloodshot da empresa RST. Com um exército de nanotecnologia nas suas veias, Ray é uma força imparável, mas, ao controlar o seu corpo, a empresa controla também a sua mente e as suas memórias.
Clichês conscientes e inconscientes
“Bloodshot” começa se sustentando em uma sequência de acontecimentos clichês que vão se estender por todo o primeiro ato. O texto, as situações, a forma como o diretor estreante David Wilson filma, os exageros visuais e dramáticos, entre muitos outros elementos. Porém, após a revelação das primeiras reviravoltas, descobrimos que tudo isso era intencional.
Uma encenação dentro da encenação que cria uma dúvida bem estruturada entre o que é ou não real. Esse é um dos poucos momentos que somos transportados para a dentro da mente do protagonista e ficamos nos questionando sobre a veracidade de tudo que lhe foi apresentando anteriormente.
Entretanto, passando toda essa história fake bem articulada e consciente, o filme começa a tentar construir o seu mundo real, aquilo que foge das simulações tecnológicas da empresa. E é aí que tudo começa a desabar. Se até então o longa brincava usando o convencional com consciência, agora ele passa a se afundar em clichês sem perceber, o que me fez questionar por um momento se aquilo que veio anteriormente tinha realmente sido consciente ou apenas um golpe de sorte. Ainda fico com a primeira opção.
Mas, de qualquer forma, tudo o que acontece a partir do segundo ato é pobre. Ao mesmo tempo que o longa quase satiriza as convenções do gênero, ele não consegue fugir delas na tentativa de forçar reviravoltas para tentar parecer mais profundo do que realmente é, de construir uma sustentação dramática (que acabar beirando o piegas) e, principalmente, na ânsia de construir sequências marcantes de ação. E é justamente esse último ponto que merece uma análise maior.
Direção insegura
Ainda que envolto em personagens estereotipados e em um roteiro medíocre, “Bloodshot” poderia funcionar se conseguisse apresentar boas sequências de ação, já que se trata de um filme de gênero. Todavia o que vemos em tela é uma direção extremamente insegura e que apela para todos os recursos mais recorrentes do gênero, não por estilo, mas sim por insegurança e falta de habilidade.
Então, essas sequências vão trazer tudo que a gente tem visto aos montes nos filmes mais genéricos do cinema de ação hollywoodiano. A câmera tremida unida a uma infinidade de cortes, que denuncia a falta de capacidade de criar planos mais longos e coreografias mais elaboradas, e um uso pesado de CGI, que torna tudo ainda mais artificial.
Não há um movimento que comece e termine sem que haja um corte no meio, o que deixa quase impossível a compreensão daquilo que está acontecendo. O público até entende a ação, mas ele não a vê, já que essa é escondida por uma montagem que chega a dar dor de cabeça.
E, claro, tudo isso é feito em uma escala desnecessariamente (se analisarmos a proposta do longa) megalomaníaca. Até porque, é isso que se espera de filmes com grandes corporações maléficas, não é mesmo?
Dessa forma, “Bloodshot” acaba sendo mais um filme de ação com uma premissa que soa diferente, mas que será esquecido em poucos meses.
Nota: 3.5
Crítica em vídeo:
Assista abaixo à crítica em vídeo que eu fiz sobre o longa em meu canal, o 16mm.
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: Bloodshot (Bloodshot)
Data de lançamento: 12 de março de 2020 (1h 50min)
Direção: David Wilson
Elenco: Vin Diesel, Eiza Gonzales, Guy Pearce mais
Gêneros: Ação, Ficção científica
Nacionalidade: EUA