Saiu, nesta segunda-feira, dia 13, a lista de indicados ao Oscar 2020. E, apesar de não ter grandes surpresas e confirmar o que as premiações anteriores já haviam mostrado, é possível fazer um balanço de quem saiu com saldo positivo ou negativo nessas indicações. Levarei em conta também as famosas campanhas das distribuidoras, que já expliquei um pouco sobre no texto que fiz do Globo de Ouro.

Perdedores

Rocketman/Paramout

“Rocketman” foi um filme que estreou em uma data pouco comum para filmes que desejam disputar premiações. Geralmente, as distribuidoras tentam posicionar suas obras entre outubro e dezembro. Já que é nessa época que começam os grandes festivais e premiações que ditam a corrida para o Oscar. E também porque são muitos filmes estreando todos os anos, por isso, no Oscar, têm vantagem aqueles que estão mais “frescos” na memória dos votantes.

Dessa forma, por ter estreado em maio, a Paramount (distribuidora do longa) tentou tomar um caminho diferente, o da campanha de lembrança. Assim, investiu pesado no envio de screeners, nos jantares para votantes, sessões fechadas na Academia e o ator Taron Egerton passou meses em Hollywood divulgando seu trabalho.

A pretensão era buscar vaga em: Melhor Filme, Ator, Canção Original, Figurino, Edição de Som e Mixagem de Som. E em todas essas o longa tinha grandes chances de ser indicado, até porque conseguiu esse feito nos prêmios dos sindicatos, em que os votantes são praticamente os mesmos da Academia.

Porém, todo o dinheiro gasto não surtiu efeito e e a obra saiu apenas com a indicação em Canção. E, assim, a Paramount é uma das únicas das grandes distribuidoras a não conseguir colocar nenhum filme na categoria principal.

rocketman

(Photo by: Paul Drinkwater/NBC)

A24

A A24 é a prova de que só qualidade não adianta para ter sucesso no Oscar. A distribuidora, que dá espaço para diretores fazerem filmes autorais, tem, ao lado da Netflix, talvez o melhor catálogo de filmes em 2019. Porém ela não tinha tanto dinheiro para fazer campanha e acabou não encontrando sucesso.

“O Farol”, “Uncut Gems”, “The Farewell”, “Midsommar”, “Waves”, “The Last Black Man in San Francisco”, entre outros. Todos extremamente bem sucedidos com a crítica e de uma qualidade fascinante.

Mas a distribuidora conseguiu apenas uma indicação para “O Farol”, em Melhor Fotografia. Ainda que tivesse boas chances com “Uncut Gems” e “The Farewell”, (os dois que a A24 investiu mais) em categorias de atuação e roteiro. Nem a melhor atuação da carreira de Adam Sandler conseguiu reconhecimento.

Amazon Prime

Ao contrário da a24, a Amazon tinha dinheiro para campanha, mas acabou fazendo uma série de lambanças e saiu apenas com uma indicação para filme internacional, com “Os Miseráveis”.

A aposta mais correta seria em “The Report”,  filme premiado em Sundance, que conta com duas boas atuações principais e tem uma temática que a Academia gosta. E inicialmente a campanha foi para esse filme. Mas dado o sucesso de Adam Driver em “História de um Casamento”, da Netflix, a Amazon tirou o investimento em “The Report” (que também é protagonizado por Driver) e passou a apostar em outros filmes. Entre eles “Honey Boy”  e “The Aeronauts”.

Visto que não teria sucesso com estes longas, decidiu voltar a investir tardiamente em “The Report”, mas acabou saindo sem nada. Apesar do bom catálogo, a Amazon tem muito o que aprender com sua concorrente Netflix no que diz respeito à campanha para o Oscar.

Terror

“Midsommar”, “O Farol” e “Nós”. Três dos melhores filmes do ano eram de terror, mas, como de costume, a Academia esnobou o gênero (com exceção à categoria de fotografia). E o mais chocante é a atuação de Lupita Nyong’o, em “Nós”, ter sido deixada de lado, mesmo com a campanha exclusiva da Universal para essa categoria.

Pelo visto ainda há um longo caminho para o terror percorrer até começar a ganhar espaço no Oscar.

Vencedores

Coringa/Warner

Apesar de bem recebido no Festival de Veneza, onde venceu o prêmio máximo, “Coringa” passou a ser criticado no Festival de Toronto. Muitos acusaram o filme de estimular atentados terroristas e incels. Dessa forma, a Warner passou a ter como plano número um para o Oscar o longa “O Pintassilgo”. Entretanto, este foi extremamente mal recebido pela crítica.

Então, a Warner voltou rapidamente atrás e apostou todas as suas fichas em “Coringa”, mesmo que o gênero da obra não seja o mais bem aceito na Academia. E a escolha não poderia ter sido mais acertada, o filme saiu como o mais indicado.

coringa

Filmes internacionais

O que “Parasita” conseguiu foi algo sem precedentes na história do cinema recente. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o filme foi extremamente bem recebido nos EUA e no mundo, tanto pela crítica quanto pelo público, sendo um dos filmes estrangeiros líderes de bilheteria em solo americano.

E a recepção dentro da Academia não ficou muito atrás. Não à toa, apesar de distribuído pela pequena Neon, o longa conseguiu seis indicações, incluindo Melhor Filme, Diretor e Roteiro Original. Além disso, entra como um dos grandes favoritos na premiação.

Ao vencer o Globo de Ouro de filme internacional, o diretor Bong Joon-Ho falou sobre o fato de os Estados Unidos olhar muito pouco para o cinema do resto do mundo. E completou dizendo que se dessem mais atenção para esses países, poderiam ter experiências que jamais imaginaram.

O sucesso de “Parasita” nos Estados Unidos é tão impressionante que não seria loucura pensar que este pode ser o filme que vai abrir caminho para a maior apreciação de filmes estrangeiros no Oscar. Muito otimismo? Talvez.

Tem que esperar para saber

Netflix

O melhor ano da história da Netflix foi recompensado com a liderança no número de indicações. Três filmes posicionados em categorias principais (dois deles para Melhor Filme), duas animações, dois documentários, um curta-documentário e por aí vai. Se olharmos friamente apenas às indicações a Netflix é sem dúvida a maior vencedora do Oscar 2020.

Entretanto, quando se trata de vencer os principais prêmios a coisa muda completamente. A resistência dentro da Academia contra a Netflix ainda parece muito grande, há uma ala destinada a tratar a distribuidora como se não fosse cinema.

irishman

E já presenciamos isso ano passado, que apesar de liderar as indicações, “Roma” acabou não conseguindo vencer o prêmio máximo, perdendo para o fraco “Green Book”. Visto que a votação para Melhor Filme é por voto preferencial (diferente das demais categorias), o que favorece demais possíveis boicotes, as chances da Netflix podem não ser muito altas.

Então, resta saber se as coisas mudaram neste ano, visto que o gigante Martin Scorsese fez uma obra-prima em parceria com a Netflix. Durante a campanha, o diretor apostou muito em tentar mostrar como o que a distribuidora está fazendo é sim cinema. Mas isso vai ser capaz de mudar a mentalidade dessa ala mais radical da Academia? Ainda tenho minhas dúvidas.

Filmes de heróis

“Logan” foi o primeiro filme baseado em quadrinhos a conseguir uma indicação em uma categoria principal, em 2018. “Pantera Negra” teve sete indicações e venceu três prêmios ano passado. E “Coringa” foi o filme mais indicado no Oscar 2020, com 11, conseguindo a inédita vaga em Melhor Diretor para um filme de super-herói.

Será a hora dos filmes de super-herói ganhar mais espaço na Academia? Difícil dizer, pois o sucesso de “Pantera Negra” e  “Coringa” tem muito a ver também com o trabalho técnico diferenciado dos dois longas e as temáticas sociais que abordam. No caso do segundo, há ainda o fato do filme ter uma cara muito mais autoral do que de cinema blockbuster. Além disso, “Vingadores: Ultimato”, maior bilheteria da história, não teve sucesso esse ano na premiação, mesmo com uma boa campanha da Disney.

Então, ainda acho cedo para afirmar que o gênero vai ter espaço constantemente na premiação. Acredito que uma barreira foi quebrada, mas apenas filmes do gênero que ousem apostar em um cinema mais autoral serão capazes de ser prestigiado no Oscar.

Vídeo sobre os indicados ao Oscar 2020

Veja abaixo o vídeo que fiz analisando todas as categorias do Oscar 2020: