“A Guerra do Amanhã” acompanha Dan, um ex-militar que é enviado para o futuro com o objetivo de salvar a humanidade de um ataque alienígena.
O filme está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.
10 filmes em 1
“A Guerra do Amanhã” é um compilado de alguns dos maiores problemas dos blockbusters hollywoodianos atuais, a ilusão de que é possível abrir arcos dramaticamente, tentar abordar temas complexos, passear por diversos gêneros superficialmente e depois resolver tudo por meio da megalomania composta quase exclusivamente por CGI. E isso se acentua ainda mais na nova produção da Paramount distribuída pela Amazon por causa de uma busca por amarrar tudo, que só evidencia a fragilidade do roteiro.
Talvez o maior problema do longa seja o excesso de pretensão para um resultado tão simples (para não dizer pobre). O grande acerto de obras semelhantes, como “No Limite do Amanhã” (em que a referência se torna quase uma cópia) e “Alien”, em que vemos a vida na terra ameaçada por uma criatura alienígena mortal (não à toa o bom design das criaturas remete bastante a desses outros dois filmes), está justamente em sua abordagem mais direta. A primeira aposta no “efeito feitiço do tempo” para resolver a salvação da humanidade, enquanto a segunda foca na sobrevivência de uma tripulação em um espaço reduzido contra um monstro assassino.
Enquanto isso, “A Guerra do Amanhã” não se aceita como mero entretenimento escapista (por mais que grande parte do público esteja abraçando essa farsa e ignorando as pretensões do filme). O longa busca ser muito mais, seja em uma abordagem pseudocientífica, que envolve um tratamento pobre tanto da viagem no tempo como da cura para a humanidade, ou na tentativa de construir um laço dramático entre o protagonista e os personagens secundários, sobretudo com a filha. Nesse sentido, há até alguns bons momentos no estranhamento do personagem em ver sua filha adulta do nada e aprender a modificar sua percepção sobre ela. Por outro lado, não faz qualquer sentido a tentativa de Dan salvar outros personagens secundários, colocando em risco toda a missão, se caso o objetivo seja alcançado todas aquelas pessoas vão estar a salvo no passado.
E essa é apenas uma das muitas resoluções convenientes ou absurdas do longa. Com certeza, a mais ridícula é a finalização, que rompe com o perigo central do longa em poucos minutos. Se antes as criaturas pareciam assassinas implacáveis capazes de sobreviver a uma série de tiros, no último ato elas são exterminadas por uma granada ou se torna capaz lutar de igual para igual com elas com uma faca.
Na verdade, toda a tentativa de amarrar as pontas soltas soam ridículas para um filme que clama por profundidade dramática a ponto de ficar ridiculamente piegas e por uma cientificidade apurada que no final é apenas bem furada mesmo. Reduzir os monstros a uma cápsula no gelo encontrada graças a um garoto apaixonado por vulcões é abusar demais da inteligência e da boa vontade do público.
Com isso, nos resta apenas as boas cenas de ação, com bom senso de espaço e escala, assim como um uso efetivo do CGI. Tudo que diz respeito à criação de tensão pré-ação e às cenas de ação efetivamente funcionam muito bem. O problema é que o filme não sabe o que fazer quando acabam essas sequências, a ponto de tentar resolver sua pseudoprofundida por meio da grandiosidade de uma luta gigante no gelo repleta de computação gráfica. Nesse sentido, Chris McKay, bom nome do cinema de animação, mostra-se uma negação ao tentar criar arcos dramáticos, impossibilitando até mesmo o carismático Chris Pratt de trabalhar em suas melhores características.
E, para piorar, “A Guerra do Amanhã” parece seguir uma cartilha do blockbuster hollywoodiano, não só na tentativa de resolver drama com CGI, mas em praticamente todos os elementos presentes. O mais claro deles é a inserção do alívio cômico completamente forçado só porque parece que todo blockbuster precisa de um piadista, além do guerreiro amargurado que luta por seu último sacrifício ou o protagonista branco ex-militar que deve salvar o mundo.
No final, uma obra que poderia facilmente ser mais uma divertida ação futurista escapista cai na armadilha das próprias pretensões de pseudocomplexidade e se transforma em vários filmes em um só, tentando amarrá-los com conveniências de roteiro e personagens vazios que mais soam como um protocolo hollywoodiano.
Nota: 4.0
Assista a minha crítica em vídeo:
Assista ao trailer:
Ficha Técnica:
Título original: The Tomorrow War
Data de lançamento: 2 de julho de 2021
Direção: Chris McKay
Elenco: Chris Pratt, J.K. Simmons, Yvonne Strahovski
Gêneros: Ação, Ficção Científica
Nacionalidade: EUA